Apenas um momento

“Há momentos em que, é preciso observar, silenciar e buscar o que de verdade faz sentido, parar de navegar em águas passadas, ansiar pelo futuro, e sim, vivenciar o presente. Isso requer algumas renúncias de hábitos, e principalmente de amizades tóxicas. Sofia embarca nessa jornada em busca de si e algumas respostas em um contexto intrigante e misterioso”   

Por entre algumas noites em claro, a chuva veio lhe acompanhar fazendo sinfonia no telhado, semelhante aos prantos que escorriam em seu rosto e inundavam o seu travesseiro. Quarto escuro era refúgio, os olhos vendados para que a escuridão entrasse e fizesse companhia, as lágrimas seguiam a trilha em seu rosto, e as que iam de encontro aos seus lábios, o gosto de tudo que vivenciara em “pensamentos trovejantes” do antes e do amanhã, sem perceber um novo despertar para um embarque no presente.

O silencio só foi quebrado com os miados orquestrados da dupla felina, Raul e Rita, ambos queriam ração pra ontem, e assim, Sofia despertou do profundo “mergulho de memórias turbulentas”, essas que a assolavam há algum tempo. Abriu os olhos vagarosamente ainda bem inchados e a voz suave pedindo calma aos amigos miau-miau que pulavam sobre o seu abdômen. Espreguiçou-se respirando fundo, ao levantar caminhou até a janela e observava o céu cinza e pela movimentação das nuvens um desejo otimista de que uma mudança climática seria possível ou talvez, as mesmas que ela também ansiava em pensamentos silenciosos.

Ao caminhar pela casa era seguida pela duplinha aos miados urgentes de fome, e parou antes de entrar na cozinha:

– Calma, meus amores! Vou preparar o café de vocês. Em seguida, Raul o mais agitado pulou em seu colo e Rita se esfregava e rosnava em suas pernas, Sofia sorria dizendo: o que seria de mim sem vocês?

Assim que tomou o café, o seu celular tocou, era a sua melhor amiga desde época de adolescência, Valéria. Só no sexto toque foi atendida já disparando:

– Amiga! O que aconteceu? Estou ligando há dias e não me atende! Não vi nenhuma atividade nas suas redes, como você está? Após alguns segundos ainda com paladar do café na boca, veio a resposta cafeinada:

– Val, me desculpe, amiga! Não estava muito para companhia esses dias, muitas coisas aconteceram e resolvi ficar “off de tudo”, mas estou bem, não se preocupe. Quanto as redes, quase certo que não irei ativar meus perfis, ao menos por enquanto, preciso mesmo é fazer um “detox virtual” e voltar atenção mais em mim. A amiga percebeu que tinha algo a mais em jogo e sugeriu um encontro para uma troca de ideias, do outro lado, Sofia olhava para o desenho dos azulejos da cozinha já pensando em uma forma de não aceitar o convite, porque a princípio, o que ela queria de fato era ficar sozinha com seus pensamentos. E assim, não aceitou e de forma educada, agradeceu a preocupação da amiga e adiou para uma ocasião futura. Valéria não insistiu, mas deixou o seu apoio registrado pois era importante respeitar o tempo e espaço de sua amiga.

Com a audiência dos amigos felinos, Sofia de imediato desligou o seu celular, mas os seus pensamentos eram gritantes: quero me reencontrar, e sei que muitas coisas dessa casa estão me atrapalhando, são muitas energias de objetos e de pessoas que fizeram parte da minha vida, chega de “dar carona a esse entulho emocional”, esses apenas dissipam as energias de todo ambiente, é preciso uma limpeza profunda nada melhor desapegar de coisas que já não fazem mais sentido.

E assim, a ação foi iniciada com as velhas molduras nas paredes e portas retratos com “alguns amigos(as)” que já não eram tão mais, os ciclos de amizades mudam normalmente, e quem é de verdade permanece fazendo sentido, esses dão pra contar em uma mão, às vezes em alguns dedos apenas, e não há nada de errado, são circunstâncias da vida e cada qual trilha um novo caminho.

Em seguida, abriu uma enorme caixa colorida, e dentro dela muitas cartas com variados temas, amizade, cartão de aniversário e a maioria eram cartas de amor. Algumas foram abertas já com um “olhar de adeus” essas que naquele tempo faziam sentido, teve veracidade mútua de sentimentos, agora lendo sozinha, não tinham valor algum. Era preciso deixar o amor escrever novas linhas, a paixão surpreender e acontecer novamente, sentir frio na barriga, sorriso espontâneo, ansiedade pelo encontro marcado, as trocas de ideias infinitas, longas madrugadas de puro amor e etc.  

Por alguns instantes, Sofia saiu do comum, e foi até o espaço o qual tinha uma coleção de pelúcias, cada uma tinha uma história em particular, mas nesse instante, nenhuma outra lhe interessava, e ao colocar cada uma dentro de uma caixa viajava no exato momento em que tinha recebido, os olhos transbordaram, afinal chorar faz bem, ainda mais quando a ocasião foi válida, nem tudo é uma tristeza sombria. Lacrou a caixa que ficou com a marca de uma lágrima dizendo:

Certeza de quem receber fará um bom uso, nada melhor de que um sorriso de uma criança brincando com uma pelúcia, em seguida uma reflexão mais profunda: É preciso uma nova forma de alegria e conforto, algo que preencha e não apenas em formas de objetos, mas tudo ao seu tempo, preciso mesmo me reencontrar.

Raul e Rita observavam atentamente cada passo de Sofia, entendiam que não era hora de fazer bagunça, mesmo que as caixas abertas eram convites para brincar de esconde, esconde. Quando abriu o guarda roupa, sentiu que seria a parte mais difícil, todas aquelas roupas faziam parte de inúmeros momentos vivenciados de formas especiais. Foi pegando peça por peça separando por cores, o olhar revelava a viagem em cada modelo, e não eram poucos. Os olhos eram rios de pura emoção nostalgica, foi quando pegou um vestido florido que remetia a uma festa de primavera, a qual parecia estar justamente no momento dançando, sorrindo e sentindo-se feliz de verdade. Em meio as sensações vieram os pensamentos:

– A memória tem o seu lado positivo, mas ao mesmo tempo, carrega também o que de alguma forma não queremos mais lembrar, bem, isso vai muito da forma como deixamos ecoar em nossos pensamentos, outras primaveras virão, basta estar no clima e vivenciar novas estaçoes. Dobrou o vestido com um carinho a mais e o colocou na caixa já etiquetada.

Já quase ao final da tarde faltava ainda organizar os calçados, todos tinha uma lembrança em particular, era como se Sofia estivesse em cada instante dançando ou mesmo andando atraindo atenção do público por onde estivesse. A cada par que preenchia o vazio da caixa era como se ela estivesse dando novos passos, e bem da verdade, o que de fato almejava, afinal não lhe faltavam caçados, e sim, a busca de novos caminhos que a colocassem em outros horizontes.

Quando já no início da noite, observou todo o espaço e ambiente já muito diferentes de antes, uma leveza genuína pairava, e quando uma respiração profunda sentia paz interna emanando suavemente, partiu para o banho relaxante que durou um bom tempo e após, uma garrafa de vinho e um bom filme, e claro, ração nova e água fresca para Raul e Rita que já iniciavam um coro de miados.

No dia seguinte despertou antes da duplinha miau-miau, nem o canto do galo teve vez, a disposição já era outra colocou uma roupa esportiva e foi caminhar na praça do quarteirão ao lado de sua casa. Após a prática sentia o corpo leve e os pensamentos mais arejados, caminhou até a barraca de coco verde, era uma boa opção pela manhã quente que fazia. Sentou-se em um banco que estava à sombra de uma arvore, começou a beber a água doce do coco degustando lentamente, ao tempo que hidratava o corpo, também observava a movimentação das pessoas em torno. Quando estava quase indo embora, uma senhora muito simpática sentou ao seu lado:

– Bom dia, posso sentar aqui? Os outros bancos estão cheios. Estranhamente alguns segundos atrás os bancos estavam livres. Saboreando o restante da água de coco ela responde: Claro, pode sim, por favor. A senhora, se apresentou: Obrigado, minha querida! Meu nome é Alice e o seu?

– Bonito nome, Dona Alice, o meu é Sofia. E assim, se apresentaram e ficaram conversando quase antes do meio dia, ao se despedirem, Dona Alice segurou as mãos de Sofia lhe dizendo:

– Você deu um grande passo em fazer aquela limpeza em sua casa, há de se viver o presente, o amanhã é apenas ansiedade humana. Não deixe nada e ninguém roubar o que há de mais precioso em seu coração, mantenha essa energia cativante, vibrante e verdadeira, pois novos caminhos estão a te esperar. Deram um abraço, e em seguida Sofia foi pagar o vendedor, quando observou os bancos, esses estavam vazios e Dona Alice já não estava presente, e ao perguntou ao atendente ele disse: desculpe, eu não vi nenhuma senhora. Sofia voltou para casa tentando entender a cena que tinha acontecido minutos atrás e sabia que, não era algo de sua imaginação, será? Em passos apressados e reflexivos logo chegou a esquina de sua rua e já dava pra ouvir os miados de Raul e Rita, ambos famintos, e assim que a porta abriu, a dupla saiu correndo para recepcionar Sofia.

No meio da tarde, a campainha tocou, era um senhor que se apresentou assim que a porta abriu:

– Boa tarde, Dona Sofia, meu nome é Castiel, sou representante da ONG a qual os objetos foram doados. Ele foi convidado a entrar (Raul e Rita ficaram miando como dando boas-vindas) e aos poucos foi levando caixa por caixa cuidadosamente para o veículo. Antes de ir embora, Sofia lhe ofereceu um suco de maracujá com maça, pois fazia uma tarde quente de verão, Castiel aceitou e ao saborear o suco não deixou de comentar:

– Sabe, quem doa, abre espaços para muitas outras possibilidades, não apenas material, é um ato de desapego é uma dadiva, até porque, nada levaremos daqui, e saber compartilhar se faz valer a humildade e grandeza, que tudo se renove em sua vida e escolhas. A sua generosidade fará muitas pessoas sorrirem novamente. Já com certa pressa, Castiel agradeceu o suco e recepção, e em seguida partiu com um sorriso que refletia pura gratidão.

Quando fechou a porta e voltou o olhar para o interior de sua casa, um arco-íris se fazia presente em uma das paredes, e dessa vez, Raul e Rita também ficaram olhando e tentando pegar as cores refletidas. Sofia tentava contextuar os efeitos de tudo que um dia após a tal faxina estava acontecendo, em pensamentos altos olhando as cores já quase se despedindo da parede:

– Realmente, precisava me libertar de todo aquele “entulho emocional” e de momentos que me fizeram feliz, mas me prendiam e sufocavam de alguma forma. Essa busca por felicidade apenas cria ansiedades e expectativas, é preciso deixar tudo fluir naturalmente, não há controle de nada, a vida se passa no agora e em simples ações já sinto muitas mudanças acontecendo.

Os dias foram passando, e esses ainda em estado “off-line” era necessário sair um pouco de casa, ver novas pessoas, visitar outros ambientes, e quando se sentiu preparada, resolveu enviar rapidamente um e-mail a sua amiga, Valéria, essa que ficou surpresa com a abordagem inusitada e pelo meio escolhido. O convite foi aceito, e marcaram de se encontrar em uma estação de metrô, “à moda antiga” Sofia não levou celular, apenas o necessário, queria mesmo fazer valer o presente. Quando do encontro, aquele abraço apertado e alegria estampada, Valéria não deixou de notar a diferença que Sofia trazia no olhar, postura, na pele e até mesmo na energia diferente. Foram até um bar que estava inaugurando e as promoções da carta de cervejas chamavam a atenção, escolheram uma boa mesa onde puderam trocar ideias sem que pudessem ser interrompidas. Entre uma e outra cerveja, Sofia confidenciava a amiga o que aconteceu de fato naqueles dias.

– Amiga, a melhor coisa que escolhi fazer foi “ficar off” e ter eliminado muitas coisas de minha vida, me sentia carregada, sugada, nada estava seguindo como planejado. Isso passa desde as experiências ruins que ora ou outra me visitavam em pensamentos, e também de pessoas da família que se aproximavam apenas para tirar vantagens. Muitas amizades falsas e tóxicas que só apareciam quando queriam algo em troca, mas quando solicitadas nunca podiam ou queriam conversar, essas eu eliminei de vez, são apenas vagas memórias ou nem isso. Quanto ao virtual, não pretendo voltar, o que é vivido ali não reflete o momento real, apenas uma forma de mostrar aos outros como nosso estado de felicidade é fugás, ou mesmo irreal, por exemplo, o que de verdade esconde no sorriso daquela mulher na outra mesa? Valéria estava atenta em cada palavra da amiga em seguida deu “um biquinho” na espuma da cerveja e comentou:

– Você tem razão, amiga! Também observo e sinto isso muitas vezes, pessoas que sugam nossas energias e sempre querem o nosso melhor, se fazem de vítima e nunca estão abertas quando precisamos, sem dizer aquelas “amizades vampiras” quando você está bem, aparecem e do nada sugam e deixam um ambiente tão carregado. O melhor a fazer é deixar para lá e seguir, afinal ninguém merece amizade tóxica seja qual for, até mesmo em família é espantoso, mas é real.

A noite mansamente veio fazer companhia as amigas, não queriam voltar tão cedo para casa, e resolveram ir a um karaokê poucas quadras do bar que estavam. Caminharam abraçadas e dizendo uma à outra variadas coisas:

– Sofia, não temos mais idade pra isso, amiga!(risos) Atenta ao semáforo, Sofia gargalhando:

– Ficou vermelho, pode parar! Assim como é proibido falar de idade! (risos)

Alguns minutos andando chegaram próximas ao local escolhido, havia uma fila considerável, isso não desanimou a dupla que encarou numa boa, alguns homens que passavam por elas soltavam algumas cantadas cafonas, essas que causavam risos e comentários:

– Homens podiam ao menos atualizar as cantadas, não mudam! Falta de criatividade é gritante. (risos) A espera na fila não demorou muito e logo estavam já pedindo uns drinks e indo curtir a pista que já tocava variados ritmos retrô: The Clash, Dead Or Alive, Gene Loves Jezebel, Billy Idol, Katrina & The Waves, Madonna, The B 52’s, etc.  A diversão era dançante, contagiante e novamente muitas abordagens, mas elas só queriam se divertir e mais nada. Resolveram então cantar e arrasaram! Escolheram a música: I Will Survive – Gloria Gayor, levaram a galera a loucura e os aplausos ao final eram incessantes, ganharam até um desconto na comanda e um drink grátis da casa, fizeram valer o momento.

As horas foram passando e as amigas mesmo em forma já estavam sem energia, antes de saírem uma água gelada pra refrescar. Se despediram na calçada uma segurando a mão da outra e após um abraço carinhoso, era sentida a amizade verdadeira preservada após anos. Valéria chamou um carro por app, Sofia foi de metrô, por ser mais prático e econômico, pois a sua casa ficava próxima a estação, mas para ela o que interessava era curtir esse trajeto de final de madrugada com o amanhecer. Observava as cenas que aconteciam em torno no intervalo de cada estação. Quando próximo ao seu desembarque, o metrô parecia estar em outra velocidade e até mesmo a iluminação ficou diferente, e quando já na plataforma de sua estação, Sofia se via sozinha no vagão:

– Ué, que estranho! O vagão estava cheio, cadê todo mundo? Será que dormi? Saiu da estação em mil pensamentos já com a presença do nascer do sol. Seguiu até a sua casa sentindo-se muito bem, quando entrou na rua principal, observou um caminhão de mudança descarregando móveis em frente a sua casa e foi quando um rapaz correndo lhe deu um esbarrão, caíram em um canteiro cheio de margaridas, os dois ficaram rindo sem motivo, pois a cena foi engraçada. Ainda em gargalhadas deitados no solo, o rapaz  um pouco envergonhado se apresentou:

– Me desculpe pela trombada, você se machucou? Meu nome é Rael, e o seu? Após uma crise de risos, vem a resposta:

– Não se preocupe, estou muito bem (risos). Meu nome é Sofia, ambos se cumprimentaram dando apenas as mãos, e quando em pé, uma troca de olhares com reflexos dos raios do sol, a irrigação do jardim foi ligada e ambos se banharam como crianças rindo e se divertindo. Caminharam conversando até a porta da casa de Sofia, foi quando ela perguntou:

– Você mora por aqui? Nunca te vi pelo bairro. Rael, rindo responde:

– Já morei em vários lugares que nem me lembro, coincidência ou não, aquela mudança é minha, sou o seu mais novo vizinho, ao menos já nos conhecemos.

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais

No embarque das artes 3

Para um melhor acompanhamento, indico a você a leitura dos posts anteriores : 

No embarque das artes

No embarque das artes 2

“As artes tem os seus segredos que se tornam íntimos, e mesmo com tentativas de desvendá-los automaticamente mais proximidade é criada. E dentro de um contexto de busca, a infinidade de possibilidades de mergulhar em fatos os quais levam a uma disparidade de acontecimentos, e bem provável que, nunca se chegue a um destino exato, afinal ninguém tem esse poder seria muita pretensão, a não ser através da persuasão da arte e reação espontânea a essa conexão”

– Será que essas câmeras estavam desligadas? Deram um beijo leve pra não borrar o batom e maquiagem, e após alguns segundos a energia oscilou, tudo parou e Jonh sentiu que não estava mais segurando a mão de Cindy, e repentinamente o elevador desceu com toda velocidade, e quando parou e abriu as portas, Jonh estava no elevador de seu condomínio, justamente no seu andar, ao abrir a porta de seu apartamento, percebeu que tudo estava diferente, e após uns segundos o telefone tocou, e quando atendeu:

– Jonh, Jonh! Sou eu, a Cindy!

Jonh, novamente no chão olhando para o teto, sem reação em um espiral profundo de pensamentos intermináveis. E ao fundo:

– Jonh, Jonh!

Em um despertar com efeitos de “ressaca de pensamentos perturbadores”, Jonh se sentia totalmente perdido, e dessa vez, ainda tudo mais enigmático, afinal embarcou em uma viagem cheia de variados contextos, e ao mesmo tempo, Cindy se tornava um grande mistério a ser decifrado. Jonh conseguiu levantar escorando no sofá, e o transe foi quebrado pelo som das teclas de sua máquina de escrever, que datilografou a seguinte mensagem em caixa alta: “Procure um local visitado por muitas pessoas, no percurso desse espaço, encontra-se variadas diversões alucinantes as quais deixam adrenalina pulsante e os gritos de emoções são constantes”. Jonh, nesse momento ficou paralisado não querendo crer, mas já sabia que já estava embarcando em outra grande aventura.

Jonh visualizava a sua sala novamente com uma decoração diferente, uma pincelada de misturas artísticas de variadas décadas, e a moldura com Dorothy já não tinha mais a sua imagem. Espantosamente, ao tempo em que cada palavra era lida, essa se apagava, e ao término a máquina de escrever continuou datilografando sozinha. Quando tentou pegar a folha em mãos, ela pegou fogo instantaneamente. Estático por uns instantes, vieram flashes de quando reencontrou Cindy na sala do cine e a beijou (foi nesse intervalo que flashes de variados lugares apareceram e um especificamente era a resposta desse enigma). Andando em círculos, pensando no texto datilografado, coçando a cabeça e foi quando deu uma suspirada profunda, olhou para o teto e observou uma pintura (Parque de Diversões – Agostinho Batista de Freitas) pulando em gritos socando o ar como comemorando um gol: é esse o local! Cindy esteve nele ou está nele? E agora, como saber?

A máquina de escrever parou de datilografar, e de imediato a televisão ligou sozinha e justamente uma transmissão ao vivo de um parque de diversões estava sendo transmitida, a grande novidade era que as atrações iriam funcionar 24h sem parar, e uma festa atração surpresa estava prevista, um detalhe chamava atenção, as última entradas estariam disponíveis em uma disputa de fliperama no Fliper Retrô, região do centro, e o jogo escolhido (Taito – Cavaleiro Negro 1980).  Jonh com ar de riso:

– Conheço bem esse jogo, é a chance que tenho de entrar no parque, e sinto que, muitos outros mistérios estarão presentes ao longo desses caminhos, afinal, o que vale mesmo é a jornada trilhada. Como de habito, ligou a jukebox e escolheu uma música (The Bolshoi – Away) e partiu para o banho em passos dançantes e esses, seguiam embalados e após, já ao som de (Oingo Boingo – Just Another Day). Com certa pressa, escolheu rapidamente uma roupa e partiu para o elevador, em cada andar parecia estar passando por uma época diferente, quando chegou ao térreo um desfilar de chapéus e todos trajados uniformemente de ternos elegantes. Jonh atravessou a rua e quando e ouviu:

– Bom dia, Sr. vai um trato aí no pisante? Era um simpático engraxate. Jonh, para ajudar disse: Bom dia, pode sim! Me chamo, Jonh e você? Sou Tony, sente-se e fique à vontade, você é novo por aqui? Jonh, com olhar pensativo responde:

– Pode-se dizer que sim. Tony, preparando a escova e a graxa comenta:

– É, nunca saberemos de fato o que os caminhos nos reservam, parece que já estive em vários lugares, sei bem como é, nem sempre fui engraxate, mas isso é uma longa história, vou aproveitar e ligar o rádio, faz bem para fugir dessa poluição sonora. Já na primeira estação sintonizada com a música (Bill Haley & His Comets – Rock Around The Clock) e o melhor de tudo, os pedestres começaram a dançar ao ritmo fazendo coreografias, até o guarda de trânsito não resistiu. E no ritmo de outros sucessos (Chubby Checker-The Twist, Stupid Cupid, Connie Francis – Stupid Cupid,

The Beatles – Twist & Shout, Ray Charles – Hit the road Jack!, Chuck Berry – Johnny B. Goode), os sapatos ficaram um brilho só, e Jonh foi se despedir de Tony que lhe disse:

– Boa sorte em sua aventura, meu amigo, aproveite a viagem. Assim que olhou para trás, o engraxate havia desaparecido e apenas uma latinha de graxa no cantinho da parede se fazia de prova, e assim que voltou o alhar para a avenida, percebeu um corre, corre e um garoto lhe pedindo ajuda:

– Moço, moço me ajuda! Estão atrás de mim. Jonh observou uns homens bem trajados e carrancudos vindo em sua direção e então de imediato, escondeu o garoto numa pilha de jornais, e quando indagado por um dos bruta montes, apenas disse: não vi ninguém. Esperaram um pouco e começaram a conversar: Meu nome é Domenico e o seu? Sou, Jonh! Você salvou a minha vida, lhe devo uma, vamos até a Vila Italiana, tenho de apresentar você a minha família. Andaram por umas quatro quadras e chegaram no local, bandeiras da Itália em todos os lados, movimento intenso, barraca de frutas e verduras e muitas crianças brincando nos hidrantes abertos.

Quando de repente, uma limosine preta toda filmada estaciona, Jonh fica gelado! Do nada começa a tocar nos falantes da vila (The Godfather – El Padrino) lentamente o vidro traseiro vai revelando quem é o passageiro. Os dois seguranças desceram da limosine, abriram a porta, e para espanto de Jonh, Dorothy estava no colo desse passageiro dando uma saudação com a patinha esquerda. Desce um homem muito bem trajado de terno preto, com uma rosa no bolso, grisalho de queixo avantajado, com olhar forte, segura o rosto de Domenico dizendo:

– Feliz que esteja vivo, meu filho! Sei que foi a Família Lorenzo que quis te pegar, isso não ficará assim. Quem é esse rapaz que está com você?

– Graças a ele escapei dos capangas. E então a apresentação: Jonh esse é o meu pai, Don Tommaso. Ambos apertaram as mãos e Don com olhar fixo de demolir paredes diz a Jonh:

– Sou eternamente grato pela ajuda, tens meu respeito, e o que precisar pode contar com a Família Tommaso. Enquanto se cumprimentavam era visto no início da rua um princípio de tumulto, novamente os capangas da Família Lorenzo, e dessa vez em maior número, o clima ficou pesado. Jonh e Domenico correram para uma viela e no final dela havia uma porta enferrujada, despediram-se rapidamente, e quando atravessou a porta saiu em uma avenida bem movimentada.

Percebia uma concentração muito grande de mulheres que gritavam com os braços erguidos: Silenciadas nunca mais! Era um protesto (violencia contra as mulheres) em uma das principais avenidas da cidade, Jonh acabou se envolvendo e entoava os mesmos gritos em meio aquele mar de vozes, e não apenas femininas, homens e até crianças eram presentes. Mais adiante, o carro de som deixava o clima um pouco mais festivo com músicas ligadas a causa (Pitty – Desconstruindo Amélia, Beyoncé – Run the World (Girls),

Christina Aguilera – Can’t Hold Us Down, Rita Lee – Pagu, entre outras).

Em meio aos gritos de protestos, Jonh foi comprar água, e aos longos goles refrescantes de água ficou olhando os televisores da vitrine de uma loja de eletrônicos, e o canal sintonizado trazia informações sobre o parque de diversões, e alertava que estava lotado, e era preciso chegar logo ao Retrô Arcade. Foi quando a vendedora de água o avisa:

– Corra! Corra! Jonh, assustado engasgando com a água, o que foi?

– Infelizmente um grupo de reaças causou problemas em meio ao protesto e a polícia pra variar resolveu agir contra o protesto, bando de irresponsáveis!

A sorte que a estação estava próxima, e assim que entrou percebeu uma linda decoração em todas as paredes, essas continham uma variedade de artes minimalistas (artistas, cantores, filmes, bandas, personagens, etc.). Os olhos de Jonh era pura arte, e ao se dirigir a plataforma começa a ouvir nos alto-falantes (The Warriors – In The City) observando a chegada do metrô, esse bem diferente dos padrões era de uma outra época todo grafitado com aspecto já de uso de anos.

Segundos antes do metrô parar na plataforma uma gritaria ferrenha, eram gangues de bairros em meio a uma briga, e quando as portas abriram uma gangue conseguiu entrar, deixando as que não embarcaram revoltadas. Os membros conversavam assustados entre eles:

– E agora meu irmão, como faremos para chegar ao nosso bairro? Temos de atravessar a cidade toda! Vai ser uma loucura! Foi quando um dos membro se aproximou de Jonh dizendo:

– Não tenha medo, não faremos nada a você. Só estamos longe de nosso bairro, somos The Warriors. E Você, quem é? Olhando fixamente o símbolo da gangue e gaguejando vem a resposta: Sou, Jonh! Legal, fica na sua aí, que nada vai te acontecer. Passando duas estações, o metrô parou devido a problemas técnicos na linha, ficaram aguardando um pouco antes de saírem da estação e nos alto-falantes

(Barry De Vorzon – Baseball Furies Chase). E assim que desceram a rua, uma gangue vestida de time de baseball saiu correndo atrás dos Warriors.

Dando uma respirada profunda, Jonh saiu da estação e foi até um bar próximo a uma esquina, sentou e coçava a cabeça tentando sintetizar tudo que aconteceu até aquele momento, mas já sabia que muitas outras coisas estavam por vir. Foi quando uma atenciosa garçonete com andar elegante e olhar misterioso foi lhe atender:

– Algo para refrescar esses pensamentos ensurdecedores? Da cozinha consegui ouvi-los!

Jonh, balbuciando: pode, pode, por favor, um suco de abacaxi com limão, obrigado. A garçonete com visual meio new wave comenta: acho que já te vi em alguma festa pelo bairro, você não é estranho, afinal não ia esquecer o rosto de um gato como o seu, já volto. Jonh, suspirou e dei uma rosadinha de lado, em seguida olhou para a decoração do bar que a todo tempo era mistura de artes: Renascimento, Barroco, Romantismo, Impressionismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Modernismo.

A viagem pelos movimentos artísticos acabou quando o suco chegou, estava bem caprichado, e no guardanapo o contato da garçonete: me ligue quando quiser, Suzy! Ao provar do suco foi agradecer, e já não via mais a atenciosa garçonete, nenhuma surpresa para ele, e quando olhou o guardanapo, a arte do parque de diversões estava em decalque mesclado com a mancha de batom. Jonh, levantou e percebeu novamente uma mudança de clima, a avenida agitada, e foi quando apareceu um grupo de garotas new wave cantando e dançando (Cyndi lauper – Girls Just Want To Have Fun).

Estavava acontecendo uma festa a algumas quadras abaixo, e Jonh foi no embalo junto de outras pessoas que passavam. Ao chegar ficou deslumbrado com a arquitetura histórica, o local uma casa chamada Dark Night, tinha uma aparência de igreja medieval e sua decoração era toda baseada no movimento gótico, e na entrada um vitral com rosáceas coloridas enormes davam as boas-vindas ao som (The Rescue – Tell Me Now). Os drinks eram grátis, curiosamente apenas em duas cores, vermelho e roxo.

A festa estava normal, mas quando começou a tocar a música (Love and Rockets – So Alive) as luzes ficaram piscantes em tons avermelhados, e um clima sombrio pairava, os vitrais cada vez mais reais e já início de gritaria com alguns morcegos causando pânico, e foi quando Suzy apareceu do nada segurando os braços de Jonh:

– Vamos sair daqui! Esse lugar está cheio de criaturas setentas de sangue, em meio ao corre, corre conseguiram sair. Pararam na esquina e os olhos de Suzy estavam vermelhos e os seus dentes caninos estavam crescendo, ela foi se aproximando comoque seduzindo Jonh, dizendo:

– Você é meu! Não vai escapar! Quero seu sangue! E já sentindo a aproximação dos dentes cravando o seu pescoço, Jonh ouve a voz da sanguessuga: Maldito! Maldito! Era o seu amigo Vitor, que deu um golpe certeiro em Suzy, dizendo:

– Fazia tempo que estava te caçando, sua criatura das trevas! Jonh, atordoado no chão observava os últimos momentos de Suzy na terra ao ouvir:

Eu só queria o seu sangue e o seu amor, meu gato! E em seguida, o golpe fatal no coração e em segundos a criatura desapareceu no ar assim como todo o local da festa, que se transformou em um museu de artes. Vitor, guardando a estaca no seu carro, comenta:

– Meu amigo, você se envolve em cada uma, fala sério. Desde a nossa primeira viagem te disse: fique esperto com o centro, tem muitas coisas que acontecem, mas vejo que você adora uma aventura, não é mesmo? (risos) Venha, levante-se! Jonh, agradeceu o amigo dando um forte abraço, e curioso perguntou: Pensei que era apenas taxista?

– Vitor responde: faço muitas coisas nessa vida, e como viu, nas horas vagas sou caçador de criaturas, risos.

Ambos começaram a conversar, e Jonh comentou que precisava chegar ao parque de diversões, mas antes tinha de ir até o Fliper Retrô. Entraram no carro e  quando parou no semáforo, uma Ferrari California Spyder 1961, emparelhou ao lado esquerdo, ouvindo bem alto o som da banda

(Sigue Sputnik – Love Missile F1-11) eram três jovens: um garoto ao volante usando uma boina preta e óculos escuros, uma garota ao lado bem elegante com óculos escuros, e um rapaz mais tímido no banco de trás de óculos escuros e uma boina xadrez, e o condutor comenta: “A vida passa muito depressa. Se não paramos para curti-la de vez em quando, ela passa e você nem vê”. Assim que acelerou, após alguns metros a Ferrari sumiu, e Vitor rindo: Tá vendo, a cada segundo aparece alguma coisa, de tédio ao menos por aqui não morremos, risos de ambos. Quando o carro passou em frente a uma outra estação de metrô, Jonh observou os Warriors escapando novamente de outra gangue.

Após alguns minutos rodando, a dupla chegou ao Fliper Retrô, um espaço com vários andares cheios de Fliperamas (diversões eletrônicas) para todos os gostos e o local estava lotado. Para adquirir as entradas vips para o parque de diversões, Jonh teria de acertar o maior quantidade de bônus no arcade Cavaleiro Negro. Os concorrentes eram experientes, mas Jonh já conhecia os segredos para conseguir uma pontuação acima da média, e assim, na primeira ficha já estabeleceu o novo recorde, e esse, não foi alcançado. O vencedor recebeu as entradas aparecendo ao vivo no canal que cobria a promoção e Vitor, saudava o seu amigo com gritos: Fliperman, fliperman! (gargalhadas de ambos)

Antes de partirem foram conhecer melhor o espaço, e quando chegaram próximos as escadarias para o segundo andar, uma exposição de artes de óleo sobre tela e novamente a arte (Parque de Diversões – Agostinho Batista de Freitas) apareceu, e dessa vez emitindo uma luz, curiosos oss amigos se aproximaram da arte e automaticamente foram enviados ao parque de diversões.

Na entrada muitos artistas circenses, e música ambiente (Kiss – Psycho Circus) era um show e tanto mesmo antes de entrarem no parque e encontrar Cindy. Assim que passaram as catracas foi como se tivessem mudado de época novamente, cada espaço do parque era uma festividade diferente de culturas de países. Os dois amigos tiveram o mesmo pensamento quando viram a bandeira do México a qual tinha como cultura (El Dia de los Muertos) e era visível muitas pessoas com vestias de Catrina e Caveira mexicana.

– Jonh responde a Vitor: Sim, meu amigo, estamos no mesmo pensameto, Cindy só pode estar nesse espaço cultural, era o local que íamos da última vez que nos encontramos, consigo sentir que ela está bem próxima a nós. Quando estavam a caminho, perceberam alguns homens vestidos de cawboy encarando e se aproximando, Vitor dizendo:

– Isso não vai dar certo! Saíram correndo em direção a festa italiana, e quando sem saída, ouviram:

A diversão acaba aqui seus idiotas! Quando do nada, seguranças de Don Tommasio entram em cena e acabam com os cawboy (homens de da família Lorenzo) em sequencia aparece o próprio Don comentando:

– Você teve meu respeito, e por isso, retribuo o favor que fez ao salvar o meu filho. Não esqueça, logo o parque irá fechar, pode ser que não encontre o que tanto procura. Boa diversão! Perdidos no tempo, agora lutavam contra os ponteiros, e quando ouviram anunciar: hoje tem a inauguração da maior montanha russa do mundo, e quem tem ticket aquirido pela promoção tem preferência.

Assim que ouviram, não pensaram meia vez, correram em direção a atração essa ficava justamente no setor mexicano, Jonh tentava a todo custo encontrar Cindy, foi quando uma voz leve sussurrou em seu ouvido: porque demorou tanto, meu amor?

Jonh arrepiou até o último fio de cabelo, sentindo o toque de mãos macias e quentes, ficou paralisado por segundos, até que Vitor o despertou estalando os dedos em seu rosto, acorda, acorda, amigo! Mas, só veio voltar em si quando Cindy lhe deu um beijo profundo. Jonh parecia levitar e todos eram audiência na cena, essa foi interrompida quando a fila andou e já eram os próximos a sentir a adrenalina na montanha russa ouvindo (Red Hot Chili Peppers – Rollercoaster).

Jonh e Cindy sentaram no primeiro vagão, Vitor logo atrás conversando com uma Catrina. Assim que deu a partida, curvas e mais curvas com descidas à esquerda, à direita, subida até o céu e descida até onde não se pensava ter mais fim, tudo muito rápido até que uma luz reluzente é emitida próxima a última descida e tudo muda, agora em outro tempo e espaço, reaparecem novamente no Café Retrô de frente ao quadro (O Grito – de Edvard Munch).

Os três ficam em silêncio profundo, mas ao mesmo tempo sabem muito bem de tudo que vivenciaram. Alguns minutos após, saíram e para espanto o carro de Vitor estava estacionado, ele gentilmente oferece carona ao casal. Durante o trajeto foram relembrando as histórias e curiosidades de todas as aventuras que ainda pairavam uma grande dúvidida: Será que realmente essas experiências no mundo das artes foram reais? Chegaram ao apartamento de Jonh, e Vitor se despediu:

– Deixarei vocês dois conversarem. Jonh, fica esperto, e se for ao centro fique longe de confusões. (risos) até a próxima viagem. Cindy, cuida do meu amigo, e por favor, não suma! Risos do trio aventureiro, que se abraçou, e assim que o carro de Vitor parou no semáforo, para nenhum espanto de Jonh, ele sumiu.

O momento agora era de um boa conversa, mas pelas trocas de olhares, não teria nada de diálogo. E quando no saguão do edifício novamente se beijaram, e aquela mesma luz do reencontro tomou conta do ambiente e tudo em torno mudou, pareciam estar no “tempo certo”, entraram no elevador beijando-se loucamente e dessa vez, tamparam a câmera de segurança e travaram o elevador, afinal a “sede de amor” era grande em cada toque e suspiro.

Quando chegaram ao apartamento, já nus, se declaravam no olhar, saciaram do amor no chão, sofá, canto da parede, cama, cozinha, em frente a janela todos os lugares foram provas, saciaram-se de amor como nunca e reiniciavam no encontro dos lábios. Estirados no chão e exaustos pela forte “onda de amor” logo pegaram no sono, e foi quando Jonh despertou assustado e percebeu que estava sozinho e a decoração estava diferente, Dorothy estava de volta na moldura, mas e a Cindy? Jonh, começou a gritar: Cindy, Cindy, Cindy! De novo não!! Já entrando em paranoias, ouviu a voz de sua amada: Estou aqui, meu amor! Vindo em sua direção com olhar brilhante e profundo, já se despindo novamente, calando a boca de Jonh com o dedo indicador da mão esquerda dizendo:

– Agora as nossas histórias estarão juntas eternamente, jamais o deixarei, você é o meu grande amor, o qual procurei por muitas épocas, és a minha obra de arte perfeita. Viajou por lugares que só eu sei. Quando se beijaram na aurora da manhã ao som (Duran Duran – A Matter Of Feeling) tudo em torno mudou, Jonh e Cindy se tranformaram em um moldura do movimento romancista (Edmund Leighton – A Ordenação de um Cavaleiro).

Alguns anos depois, um jovem casal foi morar nesse mesmo apartamento, em comum apreciavam artes e ficaram encantados desde a primeira visita feita meses antes do casamento. E como a decoração ficou mantida, isso se tornava um motivo ainda mais especial, esse que refletia agora no desejo realizado, algo imaginado desde quando em época de namoro nas inúmeras viagens mundo a fora. Perceberam e sentiram as energias vindas de cada objeto, e quando tocaram na moldura de Jonh e Cindy, trocaram de lugar transformando-se na arte (Knut Ekwall – A proposta) e o casal aventureiro estava de volta, mas isso são outras longas histórias entre artes e infinitos mistérios.   

Lista da trilha sonora:

The Bolshoi – Away
Oingo Boingo – Just Another Day
Bill Haley & His Comets – Rock Around The Clock
Chubby Checker-The Twist
Stupid Cupid – Connie Francis
The Beatles – Twist & Shout
Ray Charles – Hit the road Jack!
Chubby Checker – Let’s Twist Again
The Godfather – Orchestral Suite
Pitty – Desconstruindo Amélia
Beyoncé – Run the World (Girls)
Christina Aguilera – Can’t Hold Us Down
Pagu – Rita Lee
The Warriors – In The City
Barry De Vorzon – Theme From “The Warriors”
Barry De Vorzon – Baseball Furies Chase
Cyndi lauper – Girls Just Want To Have Fun
The Rescue – Tell Me Now
The Psychedelic Furs – Love My Way
Sigue Sigue Sputnik – Love Missile F1-11
Kiss – Psycho Circus
Red Hot Chili Peppers – Rollercoaster
Duran Duran – A Matter Of Feeling

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais

No embarque das Artes 2

Para um melhor acompanhamento, indico a você a leitura da post anterior : No embarque das artes

“Quando as artes se misturam com variados acontecimentos em sincronia, tudo passa a ser de uma realidade dentro de um contexto imaginário ou não. Em conjunto com um repertório cheio de possibilidades, idas e vindas, tornando tudo um grande mistério, e em cada movimento dos ponteiros fatos reais que embalam a se chegar a resolução desse grande enigma que ultrapassa barreiras”  

– Alô, quero falar com a Cindy? Segundos de silêncio e vem a resposta:

– Jonh, sou eu! Estava preocupada, você chegou bem a sua casa? Gostou da festa? Jonh, soltou o telefone e se jogou no chão com olhar fixo para o teto, e já não sabia mais de nada, e ao fundo a voz:

– Alô, alô, Jonh, Jonh, está aí, fala comigo, Jonh!

Após algum tempo em transe olhando para o teto, Jonh se perdia em um “labirinto de pensamentos”, e esse só foi quebrado por miados que cada vez mais ganhavam volume, e antes de levantar ganhou uma lambida na ponta do nariz e arregalou os olhos espantado:

– Não pode ser, Dorothy! E ela respondeu, ronronando e com miados mais suaves, contornou as pernas de Jonh e de imediato, subiu à mesa, e nela havia um jornal o qual ela sinalizava com miados e como que grifando com a patinha esquerda misturada de pelos branco e preto, Jonh era audiência na cena: O que tem esse jornal? O que quer me mostrar? Ela sinalizava um anúncio, era a estreia de um filme de suspense com uma pitada de terror, o local era o Cine Centro (esse supostamente fazia parte do complexo de arte do mesmo endereço que Jonh encontrou Cindy).

Dorothy ficou miando de forma cadenciada, pulou no chão, dirigiu-se até a jukebox e com o focinho apertou o play e começou a tocar (Stay Cats – Stay Cat Strut) ronronou, levantou a patinha esquerda como se despedindo, e ao pular no quadro da pintora (Henriette Ronner Knip – A cat on a pillow) ela tomou forma da arte. Jonh ficou abismado, ao mesmo tempo desesperado puxando os cabelos, andando de um lado para o outro, batendo a cabeça na parede e resmungando alto:

– Isso não tá acontecendo comigo! Só pode ser uma alucinação, não é real! Vou tomar um banho relaxar o corpo e “refrescar os pensamentos”.

Estou muito acelerado com tudo que está acontecendo desde aquele dia em que conheci Cindy no Café Retrô. E como não pensei nisso, voltarei ao café, quem sabe encontre alguma resposta. Agora já menos agitado, Jonh foi até a jukebox escolheu rapidamente a música (Kim Carnes – Bette Davis Eyes) no estalar de dedos já estava dando passos dançantes com sorriso espontâneo, alguns pensamentos e um ar misterioso como querendo dizer: Vou mergulhar nessa aventura para dar uma “aquecida na adrenalina” e deixar o coração a mil, sinto que irei ultrapassar barreiras como da vez anterior.

Após alguns minutos saiu do banho, se trocou, abriu uma cerveja e percebeu que todos os quadros de suas paredes estavam fora de ordem, e supostamente o que estava a gata Dorothy, não tinha mais a foto dela. Jonh terminou de beber a cerveja, como que dizendo: já era esperada algumas mudanças, respirou fundo e saiu apressado do apartamento em direção ao Café Retrô.

O elevador parou no seu andar e antes das portas se abrirem já dava pra sentir um agito, e quando chegou, uma gangue estava presente, e um dos membros carregava um rádio estéreo ouvindo (James Brown – Get Up I Feel Like Being Like A Sex Machine). E veio uma voz grave:

– E aí, irmão, pode entrar, aqui todo mundo é da paz! Estamos indo ao centro, hoje é aniversário da cidade, vamos pro agito e claro, em busca de divesão, mas sabemos que nem todos tem essa ideia. Se quiser colar no rolê é só vir. Jonh, acanhado apenas fez o sinal positivo com a cabeça e em seguida comentou:

– Vocês moram aqui? Estranho, nunca os vi no prédio e moro há aqui. Veio a resposta: Relaxa meu irmão, não gostamos de nos expor muito, preferimos o anonimato sabe como é, só temos vida realmente quando desses momentos, alias aproveite esse rolê, nada acontece por acaso, ainda vamos nos trombar em alguma outra situação, fique ligado na missão!

O elevador chegou ao térreo, e estava uma circulação de pessoas como nunca visto antes no prédio e nos entornos, isso também chamou atenção de Jonh que percebeu que algo não estava certo, parecia estar em um outro plano sentindo um clima diferente no ar. Optou em ir de ônibus para o Café Retrô, o coletivo chegou e estava um pouco cheio, conseguiu sentar ao lado de um bem elegante, trajando um terno em risca de giz em tom preto, sapatos branco e preto, usava um bonito chapéu de época e estava lendo um jornal concentrado, Jonh curioso tentou dar uma “fitada nas notícias” e foi quando ouviu:

– Seus olhos não farão curvas, está conseguindo ler?(risos) quer emprestado alguma coluna? Jonh meio que se encolhendo no banco comenta: Desculpe atrapalhar a sua leitura, se possível quero a coluna de artes. Segundos de tensão, e após um sorriso veio a apresentação:

– De onde venho sempre fazemos questão de nos apresentar, meu nome é Jofre, e o seu meu jovem? Coçando a cabeça vem a resposta: Prazer, me chamo Jonh. Posterior as apresentações e aperto de mãos, o coletivo ficou diferente como de épocas passadas e as pessoas também estavam com outros trajes. Jofre percebeu o espanto instantâneo de seu recém amigo e foi misterioso na abordagem:

– Ora, ora! Não fique estarrecido, meu jovem amigo, já tive a sua idade e sei bem como é essa sensação, mas fique tranquilo, se está aqui é por algum motivo, aprecie e aproveite essa viagem e ache o que está procurando, mas lembre-se, um caminho está atrelado ao outro.

Nesse instante, Jonh ficou abstraído, deu uma suspirada profunda como ainda compreendendo toda aquela mudança de cenário, e quando olhou a data do jornal comprovou que estava em um outro ano, e logo abaixo o mesmo anúncio que Dorothy tinha indicado a ele no apartamento. Em seguida, Jofre levantou de seu lugar, bateu no ombro do jovem amigo lhe dizendo:

– Vou descer nesse ponto, minha missão de hoje foi cumprida, e pelo jeito você achou o que queria, dando uma puxada no chapéu e uma piscadinha com o olho esquerdo, assim que desceu tudo em torno voltou como antes. E novamente, Jonh entrava em um transe profundo a procura de respostas.

Logo desceu no ponto e andando em direção ao Café Retrô, observava uma manifestação contra o racismo, e no carro de som tocava (Public Enemy – Fight The Power) e em frações de segundos, presenciou o batalhão da polícia chegando com escudos, cacetetes e atirando bombas de gás de pimenta contra os manifestantes que corriam desesperadamente. Jonh não pensou duas vezes e entrou rapidamente e ficou vendo as cenas de pura violência explicita.

Quando voltou o seu olhar pra o interior do Café Retrô percebeu uma decoração diferente, haviam pinturas Noir em destaque como a de (Edward Hopper – Nighthawks). Ao se atentar nos detalhes dos outros quadros, percebeu em uma das pinturas o rosto do Sr. Jofre (Fabian Perez – Man Lighting a Cigarette). Pediu o de sempre e sentou no mesmo lugar como de habito, e ficou observando pela vidraça a movimentação da rua que já estava em clima festivo, todos estavam fantasiados e dava pra ouvir a música (Oingo Boingo – Dead Man’s Party) interessante que as pessoas no interior do café começaram a dançar cada um ao seu modo, foi um momento de pura descontração.

Mas, durou pouco, um sujeito mascarado bateu no vidro e com as mãos indicava para Jonh ir à cabine telefônica da esquina, deu um gole no café (quase queimou a língua) e saiu, entrou na cabine havia uma ficha telefônica e um número circulado na página de uma agenda. Discou apressadamente o número e no primeiro toque uma voz abafada:

– Sou eu, Jonh, a Cindy! Jonh! Jonh! E uma voz grossa ao fundo, você jamais o verá novamente, e a ligação caiu. Jonh desesperado, socava o telefone e golpeava cabine até que um policial se aproximou e o intimou:

– Ei, rapaz! O que tá fazendo? Saia daí agora mesmo! Ao sair ganhou um sermão do homem da lei que batia o cacetete no poste dizendo:

– Fique esperto, na próxima não serei bonzinho com você, seu vândalo! Sai daqui, vai procurar a sua turma, hoje tá cheio de doidos como você nas ruas.

Obedecendo o policial, deu alguns passos e sentou na calçada já sem saber o que fazer, foi quando bateu um forte vento que trouxe um jornal, esse parou na sua perna, quando abriu a página, era o mesmo anúncio já visto anteriormente, e a data era outra, isso deixava John confuso, mas dessa vez ele entendeu que era a única chance possível de encontrar Cindy.Ouviu sua barriga roncar, estava com fome e foi a uma lanchonete, ficou vendo as notícias que passava em um televisor sobre as atividades culturais do dia, comprou uma coxinha e foi em direção a estação de metrô, poucos metros de entrar veio uma voz:

– O meu camarada, dá um teco dessa coxinha, aí! Estou o dia todo sem comer nada. Jonh de imediato deu o salgado ao homem faminto que logo agradeceu com brilho no olhar e se apresentou:

– Meu nome é Tim, moro em todo canto, você foi generoso e atencioso comigo, é o seguinte, já que matou a minha fome, vou te compensar com um show ao vivo, o melhor de sua vida. Veja só! Num estalar de dedos, todos outros moradores de rua ficaram em pé, as luzes piscantes e coloridas, uma névoa tomou conta da praça, e então começou a tocar nos alto-falantes da igreja a música de (Michael Jackson – Thriller) e a coreografia era perfeita. Tim comandava o ritmo era uma apresentação perfeita, foi quando da terceira badalada do sino da igreja que tudo parou, a praça estava vazia e o vento levava o guardanapo da coxinha a cesta de lixo. Jonh, apenas dizia com olhos arregalados: eu não acredito no que acabei de presenciar.

Ao entrar na estação, novamente observou que estava em outro ambiente, com vários grafites espalhado, presenciava inúmeras gangues de break dance na plataforma, muitos curiosos arriscavam uns passos ao som de (Break Machine – Street Dance). Quando embarcou conseguiu ver a mesma gangue do elevador, e os integrantes fizeram o sinal de positivo a Jonh, e bateram um papo:

– Irmão, que bom te ver novamente, não sabia que curtia um som, você é um dos nossos! toca aí, fica a pampa. E aí, já sabe qual estação se vai descer? Algo me diz que tem uma parada nervosa pra resolver, precisar de nós, é só avisar. Quando Jonh foi responder, alguém acionou a parada de emergência, o metrô da frente estava com problemas, mas o pior, a polícia estava atrás das gangues e adivinha só quem liderava esse grupo, o mesmo policial da cabine telefônica que já mostrava um olhar de puro ódio. Bombas de gás, corre, corre, confusão, pancaria ao som de (Public Enemy – Don’t Believe The Hype).

Jonh conseguiu correr até uma saída de emergência ficou ofegante pelo efeito do gás e ao sair por uma rua estreita via do outro lado da rua inúmeras viaturas carregando vários membros das gangues inclusive a de seus amigos e quando achou que estava seguro, ouviu uma voz de comando:

– Prendam aquele elemento, era o mesmo policial apontando para o outro lado da rua em direção a Jonh! Quase um batalhão se deslocando, e quando do nada um taxi fazendo uma manobra em 360 graus estaciona em frente ao homem mais procurado daquele momento. Era o taxista Vitor, para variar estava ouvindo e cantando (Titãs – Polícia).

– Dizem que ela existe pra proteger, mas parece que querem te prender, meu amigo! Entre logo, entre! Vamos sair dessa confusão. Alias o que você fez pra irritar tanto os homens da lei? Jonh, tremulo:

– Não fiz nada, aquele policial ficou de birra comigo, mas graças a você consegui escapar. Muito obrigado por aparecer. Franzino a testa e coçando o queixo, Jonh pergunta:

– Como me encontrou aqui, Vitor? Vem a resposta após o término da música: Meu amigo, tem coisas que não se explicam, e tudo está atrelado desde quando você entrou em meu taxi pela primeira vez, lembra que te disse: cuidado com os mistérios noturnos do centro, e aqui estamos em mais um. Mas, não se preocupe está seguro agora, por falar nisso, qual o destino dessa viagem? Jonh, olhava pela janela e via as paisagens em torno mudando de ambiente constantemente e então respondeu ao amigo taxista:

– Preciso chegar ao cine do complexo cultural do centro. Vitor, olhando pelo retrovisor argumenta: você gosta mesmo de uma aventura, aposto que tem a ver com aquela garota enigmática que estava contigo, eu sabia que já tinha visto ela em algum lugar. Você deve realmente estar apaixonado por ela. Mesmo não querendo confirmar, Jonh sorriu e nesse momento expressou tal sentimento. Mais adiante, o semáforo fechou, um carro vermelho conversível emparelhou com o taxi, e três garotas no estilo “Gótico-New Wave” curtido (Siouxsie And The Banshees – Cities In Dust).

E vem a voz da condutora: E aí, Vitor, vamos pisar fundo até o próximo semáforo? Se ganhar, aceito seu convite para a festa de logo mais. Jonh, sem entender nada apenas olha para Vitor que responde: Mônica, já pode se preparar, mais tarde você será minha! Colocou uma fica cassete e quando começou a tocar (Grease – Greased Lightning) vestiu as luvas, e quando o sinal ficou verde, na primeira acelerada, o taxi se transformou em um possante, e deixou o conversível comendo poeira. Vitor era só festa dizendo: hoje vou me dar bem! Jonh estava pálido com olhos arregalados.

Agora com a velocidade normal, os dois seguiram ao cinema e uma movimentação chamava atenção, pois era um contingente muito grande para entrar na última sessão do filme em cartaz, estacionaram o carro e entraram na fila, curiosamente eram os dois últimos e ninguém mais entrou atrás deles, e o espanto foi maior quando a simpática, pálida e tatuada atendente comunicou:

– Vocês deram sorte, pegaram as duas ultimas entradas, pelo jeito tinham de estar aqui essa noite, em seguida, uma gargalhada sinistra e ao levantar o cabelo do ombro esquerdo, tinha uma tatuagem no pescoço a qual Dorothy era a arte. E do nada a moça pálida sumiu para o espanto dos dois que ficaram olhando um para o outro.

O espaço do cinema transpirava arte e cultura para todos os lados, um gigante lustre de diamantes do saguão de espera era um espetáculo, carpete em tom vinho, as iluminarias bem distribuídas, pessoas transitando de um lado para o outro, o que chamava atenção de Jonh era de estar novamente em uma outra estação, cada pessoa de uma época diferente, e os olhares erm frios e impactantes. Chegou a hora de entrarem na sala, estranho que só faltavam eles para iniciar a sessão, assim que as luzes foram apagadas, um silêncio sepulcral na sala por minutos, foi quando gritos estridentes rasgaram esse momento, e Jonh com urgência gritava: Cindy, Cindy é você? Cadê você? Vitor levantou e sentiu que a sala estava mais gelada a cada segundo e um cheiro de mofo muito forte tomava conta do ar.

Quando olharam em volta todos os presentes na sala na verdade eram uma espécie de zumbis, esses foram para a frente da tela do cinema e a cena ficou mais estranha quando começou a tocar (Ramones – Pet Sematary). Quando encenaram uma coreografia, abriu um espaço onde Cindy saiu de um alçapão sobre uma mesa com vestido vermelho com velas coloridas que contornava o seu corpo, carregando a gatinha Dorothy em seus braços.

Os dois saíram correndo desviando com dificuldade dos “corpos dançantes em decomposição”, quando próximos, apenas Dorothy miava, enquanto Cindy adormecia. Nesse momento, todos se afastaram, apenas Jonh se aproximou, uma luz focava ambos e quando ele encostou suas mãos nas de Cindy. O teto se movia e uma abertura que dava as boas-vindas ao reflexo de luz da lua cheia, ao mesmo tempo começou a tocar (The Cure – Pictures of You). Cindy foi mexendo a pálpebra dos olhos, subitamente levantou-se encarando a misteriosa aura de luz lunar, os seus olhos pareciam consumir toda aquela fonte energética e quando olhou para Jonh, lhe deu um beijo, transferindo a ele também essa mesma carga.

E um foco de luz forte iluminou todo o ambiente, ao longo desse contato eles conseguiam ver todos os caminhos que trilharam até se reencontrarem. A cena terminou quando o teto fechou, Vitor batia palmas emocionado, Dorothy era só miados de alegria, afinal ela tinha sido salva, pois naquele mesmo espaço era um cemitério de pets. A sala estava vazia e o cine já estava com outra decoração. Vitor deu um abraço em Cindy dizendo, acho que já tinha visto você em algum lugar, os três riram já saindo da sala do cine.

Jonh comenta com Cindy: Nosso amigo tem um encontro logo mais com uma tal de Mônica, e Cindy completa: A gótica do conversível vermelho? Ela é minha amiga! Vitor, todo sorridente continua: Sim é ela mesma! depois de anos consegui esse date! Vocês não querem ir? É uma festa de Halloween? O casal aceita o convite e Vitor ficou de ir buscá-los mais tarde, afinal já estavam no prédio que Cindy reside.

Como fazia muito tempo que não se viam, entram no prédio e assim que o elevador fechou as portas travaram o controle de andares, e ali mesmo começaram a se beijar loucamente era um aquecimento para as cenas futuras, e quando entraram no apartamento tudo aconteceu como queriam, se despiram de tudo e fizeram amor como nunca, beijos e abraços que saíam faíscas, olhares penetrantes, toques e gemidos, tudo ao ritmo do som (INXS – Never Tear Us Apart). Após um longo banho, ambos foram se vestir ainda na base das caricias.

Cindy rapidamente se vestiu de Catrina (La Catrina, significa a morte na cultura mexicana, vem do termo Catrín, bem vestido e, por isso, seu feminino é usado para representar caveiras vestidas com roupas de gala, chapéus, bebendo pulque uma bebida típica mexicana semelhante a cerveja). Jonh fez um improviso com uma capa preta, uma forte maquiagem e uma cartola foi o que deu para fazer. Seguiram de mãos dadas em direção ao elevador e quando adentraram comentaram:

– Será que essas câmeras estavam desligadas? Deram um beijo leve pra não borrar o batom e maquiagem, e após alguns segundos a energia oscilou, tudo parou e Jonh sentiu que não estava mais segurando a mão de Cindy, e repentinamente o elevador desceu com toda velocidade, e quando parou e abriu as portas, Jonh estava no elevador de seu condomínio, justamente no seu andar, ao abrir a porta de seu apartamento, percebeu que tudo estava diferente, e após uns segundos o telefone tocou, e quando atendeu:

– Jonh, Jonh! Sou eu, a Cindy!

Jonh, novamente no chão olhando para o teto, sem reação em um espiral profundo de pensamentos intermináveis. E ao fundo:

– Jonh, Jonh!

Lista da trilha sonora:

Kim Carnes – Bette Davis Eyes

Stay Cats – Stay Cat Strut
James Brown – Get Up I Feel Like Being Like A Sex Machine
Oingo Boingo – Dead Man’s Party
Michael Jackson – Thriller
Public Enemy – Don’t Believe The Hype
Public Enemy – Fight The Power
Siouxsie And The Banshees – Cities In Dust
Grease – Greased Lightning
Ramones – Pet Sematary
The Cure – Pictures of You
INXS – Never Tear Us Apart

Ducacroce.
Criador e editor,
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No embarque das artes

As artes causam um efeito o qual jamais saberemos da profundidade que acessamos através delas, muito além de um simples olhar, vai do navegar, mergulhar em seus mistérios em formas de pinceladas misteriosas, as quais, cada um cria o seu tempo, espaço gerando um mundo de ideias e personagens que vagam além de percepções e pensamentos

Era apenas mais um dia comum para Jonh, e de habito estava em seu recinto favorito, Café Retrô uma mistura de livraria, com exposições, cinema, teatro, stand up e muita cultura envolvida. Sentado no mesmo lugar, tomava seu café preferido apreciando um livro que já tinha sido lido algumas vezes, mas gostava de rever a trama a qual mudava nas releituras. Em certa ocasião, uma simpática mulher de andar elegante sentou de frente a Jonh, ela o olhava apreensiva queria de alguma forma  atrair a sua atenção, pois percebia a forma devota a qual consumia o café, e os olhos pensantes e frenéticos que devoravam cada palavra do livro. Em um “respiro para a visão”, Jonh percebeu que estava sendo observado e quando do encontro dos olhares, espontaneamente veio o sorriso de boas-vindas, a mulher então ergueu a xícara de café como fazendo gesto de brinde, e desse momento em diante toda a história começa a ter um enredo diferente, assim como o analisar de uma arte, nunca sabemos de fato o que iremos sentir e vivenciar.

Ao levantar para apreciar um quadro que estava em exposição, ele aproveitou a oportunidade e se apresentou para então mulher que agora não era mais uma visão.

– Prazer, meu nome é Jonh, você já esteve aqui antes? Mesmo sentindo um pouco de nervosismo conseguiu a aproximação que queria. Com olhar fixo, a mulher o respondeu:

– Prazer Jonh, meu nome é Cindy, estou aqui pela primeira vez e gostei muito do ambiente é agradável, pulsa e respira cultura. Apertando o livro com mais força, Jonh se mentém na ofensiva para quebrar mais o gelo:

– Gostou é, que ótimo, fico muito feliz! Aqui é o meu lugar preferido, venha irei te apresentar os outros andares. E assim, seguiram por horas com variadas xícaras de café, comentando as artes, compartilhando histórias, e o que mais atraia atenção eram os risos a todo tempo.

Quando repentinamente, Cindy avisa, está tudo ótimo, mas tenho de ir, anota meu telefone. Jonh foi pego de surpresa, saiu como foguete atrás de uma caneta, essa que falhou quando foi escrever e apenas o decalque dos números foram registrados na contra capa do livro. Cindy, antes de partir o encarou avisando: não esquece de me ligar mais tarde, em seguida lhe deu um beijo na testa e uma piscadinha com olho esquerdo. Antes mesmo de tentar dizer alguma coisa, ela já tinha sumido da visão e a ansiedade já estava pulsante em John que ficou próximo ao quadro, O Grito – de Edvard Munch, pediu mais um café e passou a apreciar a pintura com profundeza.

O retorno para a sua casa foi via metrô, em cada estação uma forma de tentar desvendar o que acontecera horas atrás no café, quanto mais pensava mais confuso ficava, e assim que chegou em casa, pegou um lápis e passou por cima do decalque do contato e deu um grito de alegria: Consegui! Consegui! Tirou os sapatos, pegou o telefone com extensão, deitou no sofá e discou o número, a cada som da discagem uma batida diferente o fazia sentir mais adrenalina. Quando no terceiro toque uma voz feminina:

– Alô, quem fala?

– Aqui é o Jonh, quero falar com a Cindy?

– Só um segundo, irei chamá-la!

– Alô, Jonh é você?

– Sim, sim! Liguei para agradecer a companhia de hoje, quero saber se podemos nos encontrar mais tarde? Após alguns segundos foi ouvido ao fundo, depois não fale que não te avisei, Cindy responde:

– É, podemos, sim! Anota meu endereço, por aqui tem algumas opções que você irá curtir. Jonh no outro lado da linha dava socos no ar de alegria respondendo:

– Maravilha! Tá, por favor, pode falar o endereço. Despediram-se, e o clima ficou no ar, mas com certo mistério, afinal o que aquela frase no intervalo da ligação queria dizer? Em seguida, para não se atrasar, Jonh ligou a sua Jukebox que começou a tocar uma música da banda (Depeche Mode – Strange Love), e nesse ritmo foi para banho cantando e fazendo passinhos. Fez a barba, escolheu uma roupa descolada e para evitar qualquer transtorno preferiu pegar um taxi, afinal iria para região do centro. Após três táxis passarem batidos, um atendeu o seu sinal, ao entrar no carro flagrou o taxista cantando todo animado uma música que estava tocando na rádio (Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover). Recebeu boa noite do simpático taxista e tão logo começou a puxar papo com Jonh, pois percebia o passageiro bem empolgado. O motorista agitando a cabeça ainda ao embalo da música, olha pelo retrovisor e quebra o silêncio:

– Boa noite, amigo! Meu nome é Vitor e o seu? Vejo que está bem animado, a noite promete, hein.

– Vitor, boa noite, meu nome é Jonh. Sim, estou bem animado para o encontro, algo me diz que será inesquecível. O taxista com sorriso aberto responde:

– É, ir a essa hora para os lados do centro, tenho de admitir, você é bem corajoso, por essas regiões muitas coisas realmente podem acontecer, faça valer, mas fique esperto nos detalhes! A corrida chegou ao final, Jonh desceu do táxi pensativo nos recados recebidos, agradeceu a Vitor, que já estava cantando outra música (The Police – Message In A Bottle).

Andou alguns metros e encontrou o endereço do apartamento, esse que fazia parte de um espaço que tinha uma loja de vinil abaixo e um cinema ao lado. Quando tocou o interfone foi atendido por Deby, amiga de Cindy e de imediato destravou a porta para que ele subisse, preferiu pegar elevador, quando esse chegou, um grupo de new wave saiu o encarando dizendo: esse cara é um careta! Chegou ao 13º andar e ao sair ouvia o som bem alto da banda (The Cure – In Between Days) e logo sacou: esse som só pode ser do apartamento de Cindy.

O apartamento de número 1313, Jonh apertou a campainha e foi atendido por Deby, vestida de gótica segurando uma taça de vinho e sua amiga felina Dorothy uma bolinha de pelos preta e branco miando:

– Entre, fique à vontade, Cindy logo virá, aceita uma taça de vinho? Ainda receptando as energias do local, Jonh aceitou a bebida e Dorothy ficou trançando em suas pernas querendo atenção. O apartamento todo decorado com posters de Bandas de Rock, Pop Art, instrumentos e algumas pinturas espalhadas pelas paredes. Ao beber o vinho começou a andar pelos espaços absorvendo todas as informações do ambiente. Foi quando do nada uma porta se abriu e Cindy colocando os brincos saiu repentinamente quase derrubando a taça de vinho:

– Nossa que desatrada! Me desculpe, Jonh! Quase sujei a sua roupa, aliás você está muito elegante. Após quase tomar um banho de vinho, sorrindo ele responde:

– Não se preocupe, não foi nada. Por falar nisso, você está linda! Ela se aproximou, pegou a taça de vinho, deu um pequeno gole e após um leve beijo em Jonh dizendo:

– Você ainda não viu nada! E novamente uma piscadinha com o olho esquerdo, andando em direção a um quadro de Pop Art cheio de artistas da música, cinema e outros segmentos culturais comentando:

– Esses são os meus heróis! Cada um tem um pouco de minha vida, em seguida um sorriso estranho e ao mesmo tempo contente, isso deixou Jonh reflexivo:

– Pelo seu sorriso, vejo que realmente tem uma conexão forte com esses artistas, não é mesmo? Isso dando um gole no vinho e esperando a resposta e ela veio:

– Vocé é muito observador, por isso é um exímio apreciador de artes, certamente logo mais irá entender melhor essa conexão. Um clima de suspense tomou conta da sala, até que a voz de Deby quebrou esse momento:

– Ei, estou saindo, vou à festa Gótica, caso queiram ir, é só dizer o meu nome na entrada, e quando forem sair, não esqueçam de fechar a porta e deixar a ração e água para a Dorothy, em seguida miados da felina agradecendo. Ambos responderam juntos:

– Não esqueceremos, boa festa!

O som ficou ligado e uma música acabou fazendo o clima mudar (Echo & The Bunnymen – The Killing Moon) em sincronia, deram um gole final nas taças de vinho e partiram para os beijos e abraços acalorados, Dorothy mexeu seus bigodinhos e sumiu, e a cena foi esquentando até que o telefone tocou. Cindy respirando fundo disse, espera um pouco, já volto. Atendeu o telefone, era o seu amigo Edy, estava precisando conversar urgentemente, pois algo tinha acontecido e ele não estava sabendo lidar com a situação, e de imediato ela concordou em ajudar. Ao sair da ligação, Jonh com olhar espantado pergunta:

– Está tudo bem com você? Ela após uma pausa responde:

– Sim, só temos de sair agora, depois terminamos o que iniciamos, em seguida um outro beijo e assim seguiram ao encontro de Edy, sem antes deixar a ração e água de Dorothy que agradeceu aos miados.

Quando o elevador abriu no andar, um bando de punks presentes ficaram olhando de forma intimidadora, mas era só pose, pois eram amigos de Deby apesar de ela ser gótica havia amizade natural entre os movimentos. Ao chegarem na calçada deram sinal para um taxi, esse atendeu e ao se aproximar Jonh incrédulo disse:

– Com esse som, só pode ser o Vitor! De fato, era ele, estava ouvindo em alto e bom som (Billy Idol – Dancing With Myself) e o condutor todo dançante ao volante dizendo:

– Ué, você de novo, tá perdido, meu amigo?(risos) Nossa, agora sei o motivo de seu nervosismo quando te trouxe, olhando para Cindy, que de imediato olhou para Jonh sorridente que concluiu:

– É, você acertou, meu amigo! Em seguida apresentou Cindy ao condutor, estranhamente ficou pensativo coçando a fronte:

– Acho que te conheço de algum lugar, só não estou me lembrando da ocasião. Cindy, encabulada devolve:

– Pode estar me confundindo, afinal inúmeras pessoas entram em seu carro, não é mesmo? Vitor, aceitou a resposta dizendo, tem razão pode ser um equívoco de minha memória.

Por entre muitas conversas ao longo do trajeto, o tempo passou despercebido e tão breve chegaram ao destino programado. Cindy e Jonh agradeceram a Vitor pela corrida e deram uma boa gorjeta, essa muito bem-vinda e um aviso grátis:

– Fiquem atentos! Já ouvi muitas histórias enigmáticas desse local, espero que se divirtam, até a próxima viagem. Cheiro de gasolina no ar, assim como os pensamentos de ambos sobre a fala do taxista se perdiam no espaço de um céu cinza e de lua cheia. O local era um prédio histórico muito charmoso e requisitado e passou a ser usado para eventos.

O casal entrou e ficou abismado com infinidades de artes exibidas por metro quadrado, em cada andar tinha um tipo de decoração diferente com obras artísticas de variadas épocas. Foram até a recepção e em seguida subiram até o terceiro andar usando as escadas, pois queriam absorver mais daquele ambiente cheio de riquezas culturais. Ao chegarem no andar desejado, apenas o silencio tomava conta junto a pouca iluminação, apenas uma luz roxa solitária fazia-se presente bem distante, indicava ser ao final do corredor. Seguiram a intuição e quando chegaram próximo a luz abriram uma porta e no mesmo instante, uma gritaria tremenda, balões, confetes, serpentinas tomavam conta do ambiente. E de repente aparecem Edy e Deby fantasiados gritando:

– Surpresaaaaa!!!! Achou que íamos esquecer de seu aniversário, amiga? Cindy segurando a emoção dá um abraço nos dois amigos agradecendo. Jonh logo caiu no ritmo da festa chamando Cindy para ir a pista de dança e por lá ficaram curtindo variadas músicas: Tears For Fears – Shoult, The Smiths – Bigmouth Strikes Again, The Outfield – Your Love, The Cure – The Lovecats, The B-52’s – Legal Tender, INXS – Mystify, New Order – Bizarre Love Triangle, entre outras mais. E quando tocou (Duran – Save a Prayer) não se seguraram e de imediato cruzaram os olhares e começaram a se beijar, a pista ficou pequena para eles. Deby que já conhecia o local indicou espaço o qual poderiam aproveitar à vontade o momento, era uma passagem secreta que levava a uma suíte cinco estrelas.

Cindy e Jonh aceitaram a proposta, a cada passo uma pausa para mais beijos, chegaram à porta da suíte, era dourada com vários símbolos em decalques, dentro um oásis de pura arte, foram apenas esses segundos que pararam, pois queriam mesmo era desfrutar de cada segundo, e assim fizeram ardentemente, nus a luz roxa e vermelha que criavam o ambiente ainda mais quente e vibrante entre cada beijo e caricias. Cindy era toda prazer sentia desejada a cada olhar de Jonh, esse parecia estar nas nuvens, ambos se saciaram incansavelmente. E quando exaustos olhavam para o teto e observavam mais pinturas de Pop Art, e por coincidência as mesmas que Cindy tanto venera. Comentaram sobre, e ficaram conversando por um tempo, até que a fome chegou forte, sorte que o frigobar estava cheio, afinal ninguém vive só de amor. Começaram a andar pelo quarto até que acharam o quadro (A Noite Estrelada  – Vincent van Gogh).

Ao tocarem na obra, de imediato tudo em torno se modificou como da mesma visão da pintura, foi como se estivessem de fato fazendo parte de cada pincelada do quadro. Realmente foi uma experiência muito real que acabaram de sentir, e perceberam que tudo não estava mais como antes, e sim, um ambiente hospitalar, mas na verdade era um hospício, ouvia-se gritos vindos de todas as partes. A porta antes dourada ficou branca e com uma placa escrita o nome dos dois, esses estavam em pânico, tentaram achar o andar da festa, mas foi em vão estavam definitivamente presos aos sentidos da arte. Agora cada andar continha vários tipos de pacientes, ao chegarem no térreo, um paciente estava vestido de punk e começou a cantar uma música (Ramones – Sheena Is a Punk Rocker) olhou para ambos e murmurando em tom sagas:

– Eu sei o que procuram, e também como achar a saída, mas como sou uma pessoa normal, não posso dizer (risos) mas, mesmo assim irei ajudá-los, fui com a cara de vocês, formam um belo casal, eu também tinha uma namorada, e sabe o que aconteceu? Não, não! Ela enlouqueceu!(risos). Nem me apresentei, meu nome é Fred. Pelo que sei, para vocês saírem daqui, terão de achar uma arte (As estrelas – Vincent van Gogh) ela é o portal que restabelece a “ordem real das coisas” ao menos aqui, se bem aqui nada é normal ou real, afinal o que é normal? (risos). Agora, não sei se vão acreditar numa pessoa normal como eu, não é mesmo (risos). De qualquer forma, boa sorte!

Em meio a tantos pacientes, Fred saiu saltitando e logo sumiu, e agora, Cindy e Jonh começam a pensar de que forma irão achar essa tal obra de arte. E de repente, descendo degrau, por degrau uma mulher cantando (Madonna – Like A Prayer) e atrás dela uns dez pacientes fazendo coreografia, era um show a parte. Parou em frente ao casal se apresentando:

– Prazer, meu nome é Diva! Faço shows aqui desde sempre e nunca vi vocês em nenhuma de minhas apresentações, por caso estão perdidos? Qual o nome desse gatão aí? Tô brincando, não pego o que não é meu, não sou louca de fazer isso, não é mesmo? (risos). Ambos se apresentaram e perguntaram pela tal arte. Diva, coçou os cabelos, fez uma careta e respondeu:

– Não tenho certeza de nada, mas acho que vi essa arte no décimo andar, quase ninguém vai lá, apenas eu com a minha turnê. Posso leva-los, mas com uma condição, esse bonitão terá de me dar um beijo, sou louca, mas não boba!(risos). Jonh ficou sem graça e Cindy não querendo ceder apenas fala:

– Não tem jeito, se quisermos sair daqui, o beijo será a chave, e também não vai arrancar pedaço. Em seguida o beijo aconteceu e Diva ficou toda felicidade, conduziu o casal ao local indicado, e curiosamente, cada andar tinha algum tipo de comemoração com variadas músicas e ritmos, tudo era uma curtição pra valer diferente de quando desceram, tudo naquele espaço mudava constantemente. Chegando ao local, a porta tinha cor vermelha e ao abrir, um tapete roxo se estendeu pelo chão, Diva se despediu dizendo: não sou louca pra entrar aí! Apenas os dois seguiram e a cada passo, luzes eram refletidas nas paredes mostrando as artes, dificultando a procura.

Por uns instantes, Cindy e Jonh fixaram o olhar apenas em uma direção, e então conseguiram visualizar a arte procurada (As estrelas – Vincent van Gogh) e quando tocaram nela, foram de imediato para o terraço do prédio e a noite que era cinza e de lua cheia, agora estava com show de estrelas brilhantes e tão próximas que até mesmo podiam ser tocadas. Jonh abraçou Cindy e ficaram deslumbrados com a paisagem que não acreditavam estar presenciando. Saíram do clima quando um guarda gritou:

 – Vocês dois aí, não podem visitar esse espaço nesse horário, me acompanhem até a saída. Ao descerem perceberam novamente que estavam em outro ambiente, esse nada a ver com o prédio da festa, as cores, decorações tudo estava diferente e as pessoas sorriam a todo tempo sem parar criando um clima estranho. Cindy, visualizou novamente a mesma Pop Art que estava próxima a saída de emergência dizendo a Jonh:

– Já sei como sair desse “mar de sorrisos estranhos”, vem comigo! Desviando e tentando manter o foco em meio as gargalhadas conseguiram chegar até a arte e quando tocaram juntos de imediato voltaram a pista de dança da festa nesse momento tocava a música (Huey Lewis & The News – The Power Of Love). Deby e Edy) e ouviram as vozes de Deby e Edy:

– Voltaram na hora certa! Cindy, é hora dos parabéns, minha amiga! Muita comemoração e alegria, Jonh ganhou o primeiro pedaço de bolo em seguida um beijo ardente que tirou aplausos acalorados dos convidados. Após os parabéns quase todos foram embora, os dois ainda foram curtir a última na pista, era uma “música lentinha” (Patrick Swayze – She’s Like The Wind) e o clima romântico estava no ar novamente, já com ares de despedida. O Dj lamentou, mas teve de encerrar a festa, luzes acesas e o casal desceu rumo a saída do prédio, já era início da manhã, e assim que pisaram na calçada deram sinal para um taxi e já sabiam pelo som alto (Inxs – New Sensation) que era o carro de Vitor que estacionou e saiu do carro dizendo:

– E aí, como foi a noite de vocês? Muitas histórias pra contar? Quero saber de todos os detalhes, os três entraram no carro sorrindo, Jonh respondeu:

– Se eu te contar você nem vai acreditar, “toca marcha” que te falo no caminho. Tudo foi resumido no trajeto e Vitor ia curtido cada detalhe. Chegaram no endereço, e Vitor se despediu dizendo, feliz que tenham curtido tudo intensamente, as artes tem lá os seus mistérios e vocês fizeram valer a aventura, até a próxima corrida!

E agora estavam seguros no apartamento de Cindy, ambos foram recepcionados pelos miados Dorothy, perceberam que Deby não estava em casa, e então resolveram estender a manhã, se trancaram no quarto e deixaram todas as imaginações acontecerem ardentemente até que uma voz aos poucos ia ganhando força:

– Jonh, Jonh, Jonh, vamos fechar o café, já está na hora! Jonh estava hipnotizado olhando o quadro (O Grito – de Edvard Munch) na galeria do Café Retrô, saiu do transe gaguejando:

– Você, você, viu a mulher que estava ao meu lado? O gerente olhando espantado informa:

– Ela já foi embora já algum tempo, você mesmo anotou o contato dela no seu livro, porque não liga pra ela? Quem sabe tenha uma noite cheia de histórias pra contar. Jonh saiu correndo para a seu apartamento, e quando chegou, novamente passou o lápis sobre o decalque dos números e entrou em contato com Cindy, que atende ao terceiro toque ouvindo a voz desesperada de Jonh:

– Alô, quero falar com a Cindy? Segundos de silêncio e vem a resposta:

– Jonh, sou eu! Estava preocupada, você chegou bem na sua casa? Gostou da festa? Jonh, soltou o telefone e se jogou no chão com olhar fixo para o teto, e já não sabia mais de nada, e ao fundo a voz:

– Alô, alô, Jonh, Jonh, está aí, fala comigo, Jonh!

Lista da trilha sonora:

Depeche Mode – Strange Love

Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover
The Police – Message In A Bottle
The Cure – In Between Days
Echo & The Bunnymen – The Killing Moon
Billy Idol – Dancing With Myself
Tears For Fears – Shoult
The Smiths – Bigmouth Strikes Again
The Outfield – Your Love
The Cure – The Lovecats
The B-52’s – Legal Tender
INXS – Mystify
New Order – Bizarre Love Triangle
Duran – Save a Prayer
Ramones – Sheena Is a Punk Rocker
Madonna – Like A Prayer
Patrick Swayze – She’s Like The Wind
INXS – New Sensation

Ducacroce.
Criador e editor,
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Enigmas, histórias e romance

Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro

“Será que tudo aquilo foi real? Apenas um sonho? Quem sabe, tudo irá se repetir no próximo rolê? Mas, pode ser que, ainda nem aconteceu. Enfim, ficarei atento aos detalhes. Após uns instantes, levantou para tomar água, seu celular vibrou e uma solicitação de amizade chegou: Efigênia”. E foi assim que, Ludus despertou, reflexivo sobre tudo que tinha vivenciado na noite anterior, afinal tudo estava ainda pulsante em seus pensamentos e essa solicitação era fundamental para desvendar esse mistério, e assim, aceitou o convite.

Para arejar um pouco as ideias resolveu fazer uma caminhada pelo bairro e para a sua surpresa recebeu uma ligação de seu amigo, Amado.

Fala aí, véio! Já tá recuperado das alucinações? Ludus rindo comenta: que milagre você me ligar, bateu a cabeça?

– Quase isso! Na verdade, um pedaço de tronco de uma árvore caiu na minha cabeça, estou em observação no pronto socorro.

Meu amigo! Desejo, plena recuperação, e nada de ficar com gracinhas com as enfermeiras, te conheço bem. Sobre as alucinações, foram bem reais e estou muito próximo de descobrir o que de fato aconteceu.

Amado, responde rindo: véio, vai se meter em confusão de novo, e dessa vez não estarei por perto, mas fique esperto nesse lance, nem eu sei mais o que tá rolando. Indo aqui, uma enfermeira tá me chamando, depois falamos mais, um abraço. Nem deu tempo de se despedir, e ao retornar da caminhada, ligou o celular e foi beber água, nesse momento várias mensagens saltavam pelo aplicativo, todas vindas da nova amizade.

Antes de iniciar uma conversa, Ludus resolveu explorar melhor o perfil. Observou muitas fotos antigas do centro histórico de São Paulo, na verdade tudo era uma viagem retrô, e o mais estranho era não ter foto alguma do contato, apenas uma pequena silhueta em uma manifestação na Praça da Sé. Pela descrição, Efigênia era uma historiadora, a foto de seu perfil, era uma paisagem da antiga Estação da Luz. O mistério apenas crescia, assim como os longos papos que iam acontecendo pelo aplicativo, esses se tornaram constantes pelas madrugadas e tão breve resolveram marcar um encontro. E assim, passando alguns dias, o tão esperado momento chegou. Era uma tarde de sábado ensolarada muito agradável, Ludus estava ansioso, mas muito atento a tudo, saiu bem antes para não atrasar, pois não queria deixar passar nada em branco. O local escolhido foi a Galeria do Rock, o mais interessante é que, Ludus não sabia quem era essa Efigênia.

Como fazia tempo que não andava de metrô, optou por esse meio mais veloz. Logo observou uma movimentação muito grande mesmo sendo final de semana. O metrô parou na plataforma e um princípio de tumulto, pela correria que acontecia todos achavam ser algo grave, mas era apenas um garotinho vestido de “estátua da liberdade” sendo escoltado por 8 agentes de segurança do metrô, alguns passageiros tentaram intervir e o clima ficou tenso, mas logo normalizou. Ludus em pensamentos invisíveis:

– Qual mal uma criança vendendo doces pode fazer? Será que realmente precisa desse exagero para contê-lo? O ideal era que esse garoto estivesse brincando ou estudando, mas certamente ajuda no sustento de sua família vendendo doces, é uma realidade que para muitos é inexsitente,chega a ser invisível.

O embarque foi feito, e após duas estações, um bate-boca: eu tenho direito de sentar nesse assento, você tem de sair daí agora mesmo, seu vagal! O jovem que estava sentado no banco reservado responde: Se o sr. falar direito comigo, eu saio sem problemas. E o senhor batendo sua bengala no chão avisa: é melhor você sair, seu marginal! O tempo fechou no vagão, pois o jovem estava indo a um jogo de futebol, e seus amigos uniformizados acalmaram o dono da bengala e seu assento foi liberado sem mais confusões. E os pensamentos invisíveis:

Se o assento é reservado para determinado passageiro, por que fazer o uso? Deixe livre, assim evita problema, hoje em dia por nada as pessoas perdem a cabeça, mas acho que aquele sr. também podia abordar o rapaz de uma forma mais cordial, não é mesmo?

A viagem seguiu, e uma estação antes do desembarque, o metrô parou e um corre-corre na plataforma. Uma mulher acionou a parada de emergência, pois foi assediada por um homem, esse quase foi linchado pelos passageiros a sorte que os agentes agiram com eficiência. E novamente pensamentos invisíveis de Ludus:

– Que ótimo, essa vitima não se calou, e o espertalhão foi atuado. Agora resta saber quanto tempo ele ficará fora de circulação. Mesmo que a mulher não fique em silêncio, as leis ainda protegem de alguma forma o infrator nesse tipo de crime, é preciso mais rigor e não fazer a vitima se achar culpada, afinal a culpa recai sempre na mulher, não é mesmo?

Ao desembarcar e sair da estação, Ludus deu uma respirada profunda, pois sentiu que, em poucas estações as violências não dão sinal para parar, seguem sem destinos. Chegando no ponto de encontro enviou mensagem avisando que já estava no local combinado, resolveu andar pelos andares da galeria, entrou em uma loja de discos do terceiro andar, observou ao seu lado oposto uma mulher com estilo retrô, e percebeu um olhar que o filmou dos pés à cabeça, ele sentiu algo peculiar daquele olhar, mas continuou catalogando os clássicos do Rock anos 80. Em um piscar de olhos sentiu uma presença leve ao seu lado, e antes de qualquer ação veio a voz: Pensou que eu não viria? Ludus, sentiu um arrepio e ao virar, manteve o olhar fixo ao da mulher misteriosa lhe dizendo: pelo contrário, tinha certeza de que viria. E assim, se conheceram pessoalmente sem cerimonias, saíram da loja e encostaram na sacada, deram as mãos e de imediato um beijo pra quebrar o gelo com direito aos raios de sol nos rostos, e ao som do vinil vindo da loja: “by my side” da banda – INXS”.

Andaram pela galeria e em cada andar, Efigênia parecia conhecer os espaços sempre contando algum episódio curioso. Saíram da galeria e andando pelas ruas do centro, Ludus notava sempre a sensação de que tudo em torno fazia parte literalmente dela, era visível em seu olhar e reações, isso fazia uma ligação com as fotos dos álbuns. Curioso, Ludus comentou quando próximos ao viaduto do chá:

– Parece que, você tem uma conexão muito grande com o centro, é nítido em suas reações, fale um pouco sobre. Efigênia se aproximou de Ludus lhe dando as mãos e dizendo:

– Sim, minhas raízes pertencem a essa cidade a qual tenho muito amor, e todas as vezes que a visito revivo tudo como se fosse a primeira vez, isso me deixa viva, entende? O clima, a pressa, o movimento, o jeito de cada pessoa, tudo me remete a um tempo que não volta mais. Ludus, sentia-se ainda mais intrigado, e após a resposta prosseguiu: Muito tempo que você não visita a área central?

– Nem sempre que quero posso, mas em ocasiões especiais como a de hoje, eu vim, queria muito conhecer você pessoalmente e está sendo muito bom, em seguida um abraço e um beijo para selar o momento enquete.

Já pela metade da tarde, caminharam até o Lago São Francisco, estava tendo um ato sobre “a carta pela democracia” havia uma movimentação muito grande, era nítida a vibração de Efigênia ao se aproximar do espaço entoando gritos e palmas. Ludus observava tudo, mas o quebra cabeça ainda estava bem incompleto, mas logo teria uma clareza maior nas respostas que tanto procurava.

Ao saírem do ato, Efigênia pediu a Ludus que caminhassem até a Praça da Sé, chegando próximo ao marco zero pararam, e ela o indagou: Você já esteve aqui com seu pai em um ato das Diretas Já?

– Ludus, não escondeu tamanha surpresa e adivinhação e respondeu: Sim, estive, como você sabe? Efigênia com sorriso espontâneo e um ar de mistério responde:

– Fique calmo, sei de muitas coisas, mas nem tudo posso falar, assim como da última vez não deu tempo, mas voltei porque senti confiança em você. Sei que procura algumas respostas, e você as terá, mas que possamos fazer valer esse nosso reencontro, pois não sei quando o verei novamente. Ludus ouviu atentamente, deu um abraço em Efigênia e em seu ouvido, disse: vamos escrever mais um capítulo dessa história, faremos valer o hoje em cada segundo, na sequencia um beijo ardente que iluminava a noite já presente.

E dessa vez não teve agitação e sim, espaço nunca visto por Ludus na região do centro, muito aconchegante com uma decoração retrô. Assim que se acomodaram, observavam uma vista maravilhosa de toda a cidade as luzes davam um toque especial. Não tiveram mais tempo para conversar, e sim, para despir todo o desejo que exalavam pelos poros. Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro a música de Lenny Kravitz – Again.

Ele foi ao seu encontro, a manhã também começou musicalmente banhada e muito ardente, após ficaram deitados na cama observando a paisagem e o sol se impondo na manhã de domingo, era nítido que não queriam o término do final de semana, afinal a felicidade está totalmente no momento vivenciado e proporcionado de forma única, mas estavam conscientes de que ambos estariam conectados de alguma forma.

Ludus pegou uma leve soneca, e quando despertou já não tinha mais a presença de Efigênia, misteriosamente ela foi embora. Ele antevia essa ação, só não sabia qual o momento exato. Em seguida deixou o quarto e ao passar pela recepção um funcionário veio em sua direção perguntando: Por favor, você é o Ludus? Sim, sou eu mesmo. Uma moça misteriosa deixou comigo esse pacote e pediu para lhe entregar. Ludus agradeceu, e todo cheio de curiosidade rasgou rapidamente a embalagem, era uma agenda de capa vermelha bem encorpada e pesada. Na capa um recado: “prometi te falar tudo, e em cada página dessa agenda você saberá quem sou, e quem sabe um dia nos veremos para debatermos cada capítulo, será um imenso prazer, na assinatura um beijo ainda fresco de batom”. Ao atravessar a rua, o local simplesmente deu virou uma sorveteria, Ludus rindo comenta com ele mesmo: por essa já esperava.  

A agenda só foi aberta quando Ludus chegou em sua casa, ao acessar o aplicativo viu que o perfil de Efigênia tinha sumido, restava agora, apenas as revelações escritas e registros históricos anexados em cada página. Algumas dessas fotos estavam no perfil dela, Ludus ficou vários dias lendo em detalhes todas as histórias contidas, essas vinham do início do século XX até os dias atuais. Com tantas informações foi criada uma time line e algumas coisas ainda não se encaixavam. Apenas uma pista podia ser seguida, Efigênia em uma de suas visitas foi presa, torturada e morta no antigo DOPS na época da ditadura militar (1964-1985). Ela conta em detalhes tudo o que aconteceu naqueles dias intermináveis, e também dos tratamentos cruéis como choque elétrico, espancamento, afogamento, cadeira do dragão, ingestão de insetos, etc. As folhas que relatavam esse período continha um tom mais escuro, Ludus percebeu atrás de uma única foto que Efigênia aparece uma descrição, era o número da cela a qual ela ficou presa e torturada.

Agora com o quebra cabeça quase montado, Ludus decidiu ir até o antigo prédio do Dops hoje conhecido como (Memorial da Resistência de São Paulo é um museu que preserva as memórias da resistência e da repressão políticas do estado de São Paulo). Seguindo a descrição da agenda, o objetivo era encontrar a cela a qual Efigênia ficou presa, já quase desistindo resolveu percorrer por um corredor não muito movimentado, sentia um clima mais frio, e mais abaixo observou umas celas mais isoladas, e ao observar a numeração ficou em choque, pois era o local que tanto procurava. Analisou cada centímetro da cela, e percebeu uma diferença no reboco da parede ao tocar sentiu que estava oco, com um chaveiro foi raspando e perfurando a camada de cimento já vencida pelo tempo.  

Com as pontas dos dedos conseguiu puxar um saquinho plástico e dentro dele uma folha de caderno com a seguinte mensagem:

“Se você está lendo essa mensagem, é porque você mereceu minha confiança, conseguiu saber mais de minha história, essa que vai muito além dessa maldita cela. É certo de que você teve acesso a minha agenda, sem ela seria impossível, e essa sim, conta realmente quem sou. Na verdade, não tente saber ao fundo, pois nem eu mesma sei. Apenas me tenha em seus pensamentos como alguém que realmente sentiu-se segura em sua companhia. A nossa história ainda não terminou, e quem sabe um dia tenhamos uma tarde de ideias e uma outra noite ardente de amor. Agora você faz parte de minha história, e os primeiros capítulos já foram bem escritos, e a assinatura, o mesmo batom e ainda com certo frescor.

Ao terminar de ler, as luzes começaram a apagar e acender, a porta da cela bateu várias vezes, tudo se normalizou em alguns minutos, Ludus saiu do prédio atônito com o coração fora do compasso e pensando:

“Consegui enfim, fechar a time line, essa foi a maior experiência que tive na minha vida em todos os sentidos, foi como viajar em períodos históricos cheios de detalhes e o melhor de tudo, com um romance que ultrapassa a linha do tempo”.

Após alguns dias, no bar do Pereira, Ludus encontrou seu amigo, Amado: E aí, véio! Hoje quero saber os detalhes dessa sua brisa histórica. E ao longo de várias rodadas de cerveja, toda a história foi contada. Amado ficou fissurado nos acontecimentos e quando viu a agenda ficou pálido gaguejando, caramba! Você realmente conseguiu desvendar esse mistério. Ludus, após um breve gole, responde:

– Esse mistério não tem como solucionar, Efigênia pode estar em qualquer lugar e no tempo que ela quiser, quero apenas deixar tudo como deve ser, é sentido que em breve nos veremos, não sei como, mas vai acontecer.

Amado, ainda espantado pediu mais uma cerveja e foi atender uma ligação, e nesse instante, três garotas entram no bar, e uma delas com olhar fixo e profundo na agenda vai em direção a Ludus, toca em sua mão, senta a sua frente e começa a cantar a música daquela manhã: all my life, where have you been, i wonder if I’ll ever see you again.

Observação: É recomendável a leitura dos posts abaixo:

Um dia de realidades e amor

Rolês ideias e mistérios

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Cartas perfumadas

“Eles não precisaram de apresentação, e já se queriam, coisas da alma e do amor. Antonella levantou-se olhando fixamente nos olhos de Donatello recitando um dos versos enviados (amor e imprevistos) ele completava segurando as suas mãos macias, sorriam e nada mais falavam e logo veio o abraço contente com todo aconchego, em seguida, o tão esperado beijo com toda volúpia e fruição, sentiram que o verso agora é real e são agora um parte do outro”.

As cartas tem um dom secreto e único em cada palavra, carregam um poder que jamais saberemos do impacto e sentimentos causados, afloram as vontades e desejos que vem de dentro, sem explicação, é sentir através um sentimento único, provindo de cada marca esferográfica traduzida a punho.

Hoje quase em desuso, mas muito provável que você já tenha usado esse meio de comunicação, o qual deixava a expectativa e ansiedade afloradas por um breve retorno de uma resposta. Quantos serão os romances, intrigas, confissões e inúmeros acontecimentos históricos escritos em cartas a punho? Difícil até de imaginar, mas quem já escreveu e recebeu sabe muito bem da sensação única de ler palavras totalmente dedicadas e selecionadas em pensamentos carregados de sentimentos exclusivos. As clássicas e valiosas cartas a punho, são vagas lembranças do emissor e remetente, cria se um valor de importância vai além de ser correspondido e sim, de ser compreendido em cada “sentimento esferográfico”. A espera é combustível, criava se uma “ansiedade positiva” diferente dos tempos fugazes atuais, onde o momento não é curtido e vivenciado, existe a pressa de tudo e não há o gozo real do momento criado e tão aguardado.

As cartas são obras de artes, praticamente cada letra é decalcada, desenhada e escrita detalhadamente a pessoa a ser conquistada, amada, desejada etc. Escrever é uma das melhores formas de expressar sentimentos, as palavras não fazem ensaios e tão rapidamente estão gravadas de diversas formas e cores  esferográficas em variadas folhas. Não é possível comparar uma carta a punho a uma impressa, perde se a essência e o charme. E por essas visitas de noites frias que vem caindo lentamente e se arrastando desde o final da tarde, entre um gole e outro de chocolate quente, meio amargo com um camada leve de canela, veio em mente a história de um vilarejo, trata se especificamente de um casal apaixonado envolvido numa história romântica baseada em cartas. Então pensei, porque não escrever esse romance clássico? A única diferença, não está a punho, mas é de todo amor e paixão expressados e presentes em cada linha. Apaixone se.

Tudo aconteceu no vilarejo chamado San Matteo, região muito rica de belezas naturais, casas coloniais, ruas estreitas cheias de aromas e cores, a estrutura de uma fortaleza medieval perfeitamente preservada, ao andar por entre escadas estreitas e íngremes, chegando ao cume de um promontório, é possível observar toda a extensão do vilarejo e regiões próximas com uma vista linda. Os moradores são bem gentis uns com os outros e boa parte desses trabalham com horticultura, e uma das fazendas mais conhecidas é a de San Salvatore, a qual reside Sr. Paollo e sua filha Antonella, ele a batizou com esse nome pelo seu significado “alimentada de flores”. Uma jovem muito bela que desperta a atenção dos homens do vilarejo, mas nenhum desses a faz se sentir como deseja o seu coração. Um de seus passatempos é produzir perfumes, escrever versos e poesias em meio as flores, nadar no rio que passa rente ao seu quintal, e após andar livremente pelos campos verdejantes rodeada de borboletas multicoloridas.

O centro do vilarejo é Piazza Di Giullia, tem as melhores atrações turísticas, opção para diversão, laser, cultura e para quem gosta de ir às compras o mercado de San Vitto é o mais requisitado, ao lado tem o restaurante Di Chiara muito procurado pelos turistas, dizem que as receitas são as melhores da região, tem o colorido do “mar de barracas típicas” com inúmeros produtos artesanais e especiarias. Na primavera tudo fica florido na região, afinal é a estação das flores e fazia uma tarde muito agradável para um passeio. Antonella no clima da estação aproveitou e foi levar uma amostra de uma nova fragrância a sua amiga, Violeta. Aproveitaram e foram à cantina de Del Piero, conhecida pela música típica da região e pratos rápidos. Entraram sorridentes, pediram vinho tinto e conversaram por horas, riam a todo tempo, trocaram alguns segredos e após desfrutaram de um belo sorvete napolitano com frutas típicas da região.

A tarde acenava e despedia-se, assim tão logo as amigas também. Antonella seguiu seu caminho em passos métricos devido ao efeito do vinho, já a sua amiga, assim que atravessou a rua levou uma trombada e o frasco com perfume caiu no chão, o rapaz todo sem graça ajudou a se levantar pedindo desculpas, conversam por uns instantes, antes que ele fosse embora ela perguntou o seu nome, e ele respondeu: Prazer, Donatello, ela prontamente se apresentou, eu, sou a Violeta, e ele com uma curiosidade voraz perguntou: que perfume é esse? Ela respondeu, foi uma amiga que me presenteou, porque, você gostou? Ele, sim muito agradável. O rapaz continuou a perguntar: sua amiga, ela mora no vilarejo? Sim, ela é daqui foi embora quase agora. O rapaz coçou o queixo, olhou para o céu que já estampava uma bela lua e sugeriu a amiga confidente: será que você pode me dizer qual endereço dela? Violeta mesmo sob efeito do vinho estranhou a insistência e curiosidade do forasteiro, e lhe disse: Irei dizer, por uma condição, aliás por várias, quero saber desse seu interesse todo, e então Donatello lhe disse: a história é longa, aceita uma garrafa de vinho?

E assim seguiram para a cantina Videira da Pietra, conhecida por servir os melhores vinhos da região, Donatello entre uma taça e outra explicou toda a história: essa que já durava algum tempo, toda semana ele recebia algumas cartas com letra artística toda detalhada, as vezes algumas frases, versos, poemas, declarações e o principal, todas com uma fragrância diferente, mas que muito remetia a do frasco quebrado. Violeta arregalou os olhos e quase engasgou com o vinho, pois horas antes ela já havia ouvido esse segredo da própria amiga. Donatello, segurando a taça de vinho observava as ações da amiga leal, e propôs a ela que o ajudasse a conhecer Antonella de qualquer jeito, pois os sentimentos que as cartas transmitiam deviam ser entregues a própria criadora. Violeta pensou um pouco, virou a taça com vinho em um simples gole, em seguida jogou a mesma no chão e disse: irei te ajudar, senti no olhar de vocês os mesmos efeitos e tenho certeza de que, esse encontro será uma linda carta com “fragrância de amor”.

Após alguns dias, Violeta organizou o encontro em um local de paisagem natural perfeita, era quase um paraíso. Na manhã do dia marcado, Antonella despertou cedo ao canto do galo chamado Leonel, estava se sentindo diferente, se banhou no rio e tão logo se produziu estava deslumbrante, o seu andar era de felicidade plena e para completar, não podia faltar um pouco do perfume flores da primavera. Donatello despertou e ficou olhando para o teto, logo saiu da cama, abriu a janela e disse: hoje as cartas serão reais e eu estou pronto, pulou a janela e saiu correndo em direção ao riacho que cortava sua fazenda.  A roupa já estava separada um dia antes para evitar perda de tempo, ansiedade e nervosismo presentes, mas tudo dentro do esperado.

Quase tudo pronto para o encontro, porém alguém que não fazia parte resolveu cair repentinamente das nuvens, mesmo fora de época uma forte chuva pairou sobre o vilarejo, as flores do bosque sorriam e se banhavam, enquanto Antonella e Donatello estavam a caminho e tiveram o mesmo pensamento de retornar e assim aconteceu. E no meio do caminho, um fazendeiro chamado Enzo passava com sua charrete com dois cavalos, um branco e outro preto, ofereceu carona a Donatello que estava encharcado e desapontado, desabafou com o novo amigo, e após alguns minutos o então homem apaixonado fala: Enzo, espere! vi alguém ali. A charrete parou, Donatello desceu e foi ao encontro dessa pessoa que estava chorando sentada a um banco de cedro em torno de lírios coloridos. Ele sentiu o seu perfume e não teve dúvidas, e falou repetidas vezes: é você, é você! E ao levantar o rosto a chuva parou, as nuvens abriram-se, o sol voltou a sorrir e a primavera aconteceu naquele exato momento quando o olhar de Antonella cruzou com o de Donatello.

Os cavalos relincharam e Enzo erguendo o chapéu disse: Não importa a tempestade ou imprevistos o amor sempre surge de alguma forma, isso é amor de verdade. Eles não precisaram de apresentação, e já se queriam, coisas da alma e do amor. Antonella levantou-se olhando fixamente nos olhos de Donatello recitando um dos versos enviados (amor e imprevistos) ele completava segurando as suas mãos macias, sorriam e nada mais falavam e logo veio o abraço contente com todo aconchego, em seguida, o tão esperado beijo com toda volúpia e fruição, sentiram que o verso agora é real e são agora um parte do outro.

A “fragrância do amor” tomou conta do clima, ambos sentiam os corações pulsantes, a adrenalina com potência máxima em alta frequência. Antonella segurou as mãos de Donatello, e lhe disse: Saiba que, cada letra que escrevi é um pedaço de mim, e se você realmente sentiu verdadeiramente e me desejou, não tenha dúvidas, você é o homem que tanto desejei e esperei, e agora, és meu. Donatello, com os olhos marejados, respondeu: a cada verso seu, saiba que me deu vida, nas rimas sentia que estava mais próximo de ti, mesmo não sabendo pude sentir o que realmente é desejar em pensamentos profundos e a todo tempo sabia que meu coração ia bater mais forte novamente, e hoje ele bate só por ti. Ela chorando o abraçou e em seguida beijaram se apaixonadamente e infinitamente, e só depois andaram em direção a charrete, presenciaram Enzo enxugando os olhos dizendo: subam quero saber mais dessa história de vocês, quero ser o padrinho dessa união tão apaixonante.

Embarcaram e curtiram o trajeto estrada a dentro entre histórias e muitos risos, se despediram de Enzo e ficaram em uma vila chamada La Luna Bianca, muito conhecida por seus chalés, esses que ficavam no alto das montanhas e todos os hospedes podiam contemplar as paisagens paradisíacas, Antonella quem escolheu o chalé, era um dos mais altos e dava quase para tocar na lua. Era uma noite de primavera com o luar presente inundada pela paixão que saltava aos olhos do casal, e assim seguiram saciando todos os desejos que ansiavam tanto, e a madrugada foi pouca. Pela manhã, o sol já sorria e o barulho das águas beijando as rochas de uma cachoeira despertou a adrenalina em Donatello que saiu correndo ladeira abaixo segurando a destra de Antonella e ela apavorada, dizendo: estamos nus seu maluco, e ele respondendo, venha meu amor, vamos fazer valer esse momento, só se vive uma vez e essa, quero viver com você. Banharam-se brincando entre abraços, beijos, carinhos e a água fervilhava de tanto amor. Assim, seguiram apaixonados e nunca deixaram de escrever um para o outro com total dedicação e amor, e até hoje estão apaixonados se divertindo em algum vilarejo e inspirando muitos casais. As cartas tem um dom secreto e único em cada palavra, carregam um poder que jamais saberemos do impacto e sentimentos causados, afloram as vontades e desejos que vem de dentro, sem explicação, é sentir através um sentimento único, provindo de cada marca esferográfica traduzida a punho.

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras coisas mais.