Tecnologias, comportamentos e relacionamentos

“São duas atividades básicas que fazem as redes existirem, as ações de conectar e desconectar. A primeira ação é oferecida a todo tempo “amizades virtuais” crescem rapidamente, e tão breve a desconexão, exclusão ou bloqueio, isso tudo muda constantemente. O comportamento liquido é como um sistema operacional que vive reiniciando com variadas atualizações, e quando novamente em uso, nada de antes faz sentido ou satisfaz”

As tecnologias pensadas e divulgadas através de filmes e outras vertentes clássicas da arte, têm o grande intuito de aprimorar, aproximar principalmente as formas de relações humanas. A comunicação junto aos meios tecnológicos passa a ideia de agrupar ao tempo acaba segregando e distanciando de alguns hábitos tradicionais como ler um livro, escrever um texto, uma carta a punho, fazer uma ligação, afinal tudo está ao alcance na sedutora tela que tem o seu formato propicio para justamente manter certo conforto e atrair atenção total. Pense por uns alguns instantes, como era a sua rotina antes da Internet? As formas de relação com as amigos(as)? A tecnologia faz parte do contexto histórico humano, entretanto é possível equilibrar o seu uso no cotidiano. As tecnologias são inevitáveis e vão surgindo em processos ao longo do tempo e sendo empregadas para auxiliar a vida humana e principalmente, acelerar processos de produção, isso é um fato histórico (Revolução Industrial, século XVIII) e hoje bem evidente nos meios de produção mundial, e a diferença das épocas, antes a forma mais sólida dos pensamentos e comportamentos sociais, já na modernidade a velocidade e fluidez é um loop constante de mudanças sociais, política, econômica, consumo, etc.

Quanto ao comportamento humano com a tecnologia, observo as ações das pessoas nas ruas e dias atrás estava indo a um tour cultural pelas regiões do centro de São Paulo. Aguardava o ônibus e ao meu lado uma mãe ao telefone e sua filha com uma voz estridente querendo atenção, e quando do nada, a adolescente deu um tapa na mão de sua mãe, gritando: estou falando com você! Não presta atenção no que falo! A mãe, com olhar espantado e envergonhada, apenas respondeu: não precisava fazer isso, e agora como irei postar minhas fotos? A filha ainda mais nervosa, respondeu: Você, não desgruda desse maldito celular tomara que tenha quebrado. O clima ficou tenso, e o app informava que o ônibus estava a um minuto do ponto, e assim logo embarquei pensando na cena. Como será a forma de relação dessa família? Será que tem diálogo? E pelo comportamento dessa garota é nítido que ela é quase invisível aos olhos de sua mãe.

Em uma outra ocasião em um bar temático com objetos retrôs, máquina de escrever, câmera analógica, rádios, toca disco, brinquedos, etc. Fiz alguns registros e ao mesmo tempo vinham alguns pensamentos: como era a relação das pessoas no uso dessas tecnologias? Essas na verdade uniam, pois se criava um coletivo em torno de tecnologias que não eram tão acessíveis, até mesmo com um simples brinquedo era comum criar um grupo (não virtual como os atuais) e sim, de interação criativa com uso de gravadores de fita cassete, as vezes até filmagens com uso de filmadoras de fita vhs. Interessante ressaltar, tudo era vivenciado de forma concreta e não abstrata, passageira ou líquida a qual de forma processual a sociedade como um todo foi se moldando e transformando. Uma pergunta simples: Qual o seu comportamento quando não tem sinal de internet? Por quanto tempo você consegue ficar sem acessar as suas redes sociais?

Quanto a “liquidez da sociedade” é notório esse comportamento pasteurizado principalmente na forma de ostentação do “consumo expresso”. O indivíduo passa a ter como objetivo sentir parte de um grupo dos mesmos hábitos, as redes sociais tem papel fundamental em disseminar postagens a cada segundo, e nessas variedades de estilos de vida que são vendidos por muitos influencers impactando seus seguidores os quais passam a gerar “gatilhos de comparações de vida”, mas será que realmente é real?

O consumo sempre existiu, mas o que chama atenção é que agora, não é apenas para a sobrevivência, desejo, necessidade ou vontade e sim, transformar o consumidor em mercadoria, as pessoas são estimuladas a mostrar a sua identidade através de seu consumo e posteriormente compartilhado, isso cria um status social, o indivíduo se sente aceito, descolado, engajado e valorizado em algum grupo social. Tudo depende do produto certo e na ocasião exata, a afiliação social ao estilo que é divulgado estão nas grandes vitrines, as quais hoje inseridas dentro das redes sociais, esses indivíduos se vedem a cada interação criada, passam e fazer parte de sua própria propaganda, abre-se mão da privacidade para se vender como mercadoria. As redes usam de tecnologias comportamentais e sabem exatamente a forma de atingir qualquer usuário, ou você acha que uma propaganda é oferecida em seus stories de graça? Não existe visualização grátis, e sim, o objetivo de atrair consumidores, afinal hoje está tudo direcionado aos apps de lojas virtuais, a compra é compulsiva, direcionada e quando se percebe não há mais espaços no guarda roupa, e nem mesmo a última roupa comprada foi usada.  

Pensando nas relações humanas, essas também se distanciaram conforme surgimento de novas tecnologias, a sociedade ficou restrita aos apps e o diálogo passou a ser quase uma raridade, observe quanto tempo você fica sem olhar mensagens no celular quando está em algum evento com amigos(as). Poucos realmente ficam offline em boa parte dessas ocasiões, é preciso repensar e restabelecer os princípios básicos para obter uma relação com comunicação presente. As tendências de uso de apps ou sites de relacionamentos, possuem também as mesmas características das lojas virtuais, cada perfil tem a sua forma de apresentação, e o mesmo efeito de fluidez no consumo também reflete na forma dos relacionamentos, diferente de outros períodos as uniões tem um prazo curto de duração, ou seja, as pessoas são facilmente trocadas e descartadas.

São duas atividades básicas que fazem as redes existirem, as ações de conectar e desconectar. A primeira ação é oferecida a todo tempo “amizades virtuais” crescem rapidamente, e tão breve a desconexão, exclusão ou bloqueio, isso tudo muda constantemente. O comportamento liquido é como um sistema operacional que vive reiniciando com variadas atualizações, e quando novamente em uso, nada de antes faz sentido ou satisfaz, isso resulta em términos de variados relacionamentos, e os efeitos são inúmeros e indolores, afinal a ideia é de que não é preciso assumir responsabilidade em uma relação afetiva nos “moldes líquidos”, apenas uma conexão artificial e na primeira dificuldade vem a desconexão.

As relações humanas passam por essas “variedades de atualizações”, e isso, faz parte do mundo contemporâneo, cabe a cada indivíduo parar por uns instantes mesmo em “tormentas de pensamentos” e rever de que forma as últimas experiências de variados âmbitos causaram alguma diferença em outras relações. Certamente uma boa porcentagem nada somou, apenas a sensação de um enorme vazio, por não arriscar em vivenciar algo que lhe traga solidez em suas escolhas. Não é fácil, mas se faz necessária essa mudança comportamental, sem comparações, compartilhamentos, ou likes de aprovação, apenas o que realmente faça funcionar uma relação com comunicação e objetivos alinhados, sem a pretensão de agradar a plateia virtual.  

Ducacroce.
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Vamos à escola?

“Por esses dias, estava refletindo sobre os últimos acontecimentos dentro das escolas, cheguei a um consenso de que, elas se tornaram uma espécie de “rede social real abandonada”, onde as piores ideias e comportamentos tomaram conta do ambiente, desencadeando assim uma crescente onda de ataques”

Em um intervalo e outro, uma certeza concreta entre os variados pensamentos que esse título desperta, voltar a um período desafiador, desde a infância até a fase já adulta, superar cada série, matérias, provas, entrega de trabalhos, problemas pessoais, conciliar estudos com trabalho e uma infinidade de acontecimentos, e quando se percebe, é possível sentir e sintetizar o que realmente um pouco mais de uma década de estudos dentro de uma escola foi proporcionado. Talvez em algum momento de reflexão consiga visualizar ao certo o que foram esses anos com uma visão mais crítica e apurada. Por esses emaranhados de pensamentos, lembro de quando estava na segunda série do primário, existia uma “segregação de alunos” e com uso concreto de “salas especiais” (essas serviam para experiências nos semestres, ou seja, o que estava em jogo era a capacidade de cada aluno(a)). Inicialmente estava na sala 10, “considerada forte”, sim, esse era o termo, objetivo era ter salas com alunos mais aptos e capacitados, e existiam os temidos barracões (eram salas separadas do complexo da estrutura da escola, espaço nada agradável e sem conforto algum) e o preço a se pagar por não ser um “aluno nota dez” era ir para esse espaço.

Após o primeiro semestre, fui transferido para o barracão não era um “aluno nota 10”, mas conseguia tirar boas notas, passei pela sala 12 e depois para a 14 a pior de todas, e foram experiências muito interessantes, talvez se tivesse ficado com os “alunos nota dez” não teria tido a convivência de uma realidade que assolava e até hoje existente nas escolas, a marginalização, violência, exclusão, racismo, etc. Não era um aluno nota zero, essa nota atribuo a política de exclusão escolar da época,  na verdade distanciava o aluno(a) deixando-o à margem da sociedade, não havia uma motivação tudo era no individual.   

Presenciei muitas coisas, desde armas brancas, drogas e outros artefatos, o que atraia atenção era a forma ainda respeitosa direcionada aos professores e à direção, a punição era severa, e os pais apoiavam sem questionar. O entorno da escola não era nada seguro, a qualquer momento poderia acontecer algo, por muitas vezes, no intervalo ou na saída algumas brigas e ameaças, por sorte sem vítimas, mas o ambiente era tenso e hostil. Ainda ecoa a voz da professora Marion, que era muito temida por todos alunos(as): você aí, fique esperto, está na corda bamba! Apenas ouvia, até porque, garantia notas, e guardo comigo tudo que vivenciei dentro dos barracões, desde criança a “corda bamba social” sempre me manteve em alerta para os próximos passos da minha vida, e ter uma visão crítica em relação credenciou a entender melhor a formação social a qual estamos inseridos.

Por esses dias, estava refletindo sobre os últimos acontecimentos dentro das escolas, cheguei a um consenso de que, elas se tornaram uma espécie de “rede social real abandonada”, onde as piores ideias e comportamentos tomaram conta do ambiente, desencadeando assim uma crescente onda de ataques e mortes. Não por coincidência, e sim, por descaso de governos que sempre fecharam os olhos a esse tema, e claramente lembrado apenas quando em época de eleição. As escolas estão sucateadas há décadas, não apenas em estruturas, a grade curricular está defasada, afinal hoje em dia, quem quer ir à escola? Converso com muitos professores, alguns são meus vizinhos, ainda estão no ofício na linha de frente, e tive o privilégio de ter aulas com eles em época de colégio, relatam a falta de alunos, segurança e de interesse, etc. E lembro de um ano que tive que madrugar na fila para obter uma vaga, a minha sala tinha quase 50 alunos, havia briga por cadeira e espaço na sala de aula, e lamentavelmente hoje, sobram espaços e fica a pergunta, cadê os alunos?

As escolas ao longo foram perdendo forças, ridicularizadas e até mesmo virando “munição política” de partidos de extrema direita do Brasil, fato de tanto crucificarem os professores ficou nítido que uma hora a bomba iria estourar. Fica evidente o caminho turvo que uma grande parcela da sociedade aceitou: investir em educação ou ter porte de amas? A resposta já sabemos não é mesmo? As salas de aula estão vazias, e os alunos à deriva conectados a um “mar de desinformações” e essas funcionam como gatilhos que são disparados dentro das escolas. Mas, porque, logo dentro das escolas? Nesse caso, entra o papel da família, será que de fato os pais estão atentos ao comportamento de seu filho(a)? Quando ministrava aulas de informática, fazia reuniões com os pais das crianças, conseguia orientá-los em alguns pontos, me agradeciam, pois quase não tinham tempo necessário para tal conversa.

Pois bem, hoje com os avanços tecnológicos crianças e adolescentes passam horas em variadas redes, e muitas dessas os conteúdos são direcionados a todo tipo violência. Com o distanciamento dos pais, quem passa a educar os filhos são esses canais, que expressam ideias radicais de puro ódio, muitos desses alunos por vezes sofrem bullying, sentem-se à margem, se isolam, ficam em silêncio pensando em alguma forma de pertencer e fazer parte de algum grupo, e tenha certeza, esses canais de desinformações se encaixam perfeitamente nesse “estereótipo excluído” e dessa forma, o alvo é a escola. É preciso repensar as escolas, reestruturar e rever conceitos, afinal a sociedade mudou, há uma pluralidade social, existe uma lei que assegura atendimento psicológico, é de uma ajuda muito grande, ter auxílio principalmente nessa fase escolar período que tudo acontece e deixam marcas profundas.

A internet mudou o comportamento e tornou-se um campo de guerra, um terreno que prolifera diariamente ódio produzindo fake News a todo tempo, hoje muitas mídias se rendem a esse tipo de desinformação, é necessário regulamentar esse espaço, afinal o que é válido na vida real também deve ser na vida virtual. Antes que gere polêmica, regularizar, não é proibir, censurar ou mesmo pensar que o Brasil será uma ditadura, quem pensa dessa forma, certamente porque é um dos que produz ou é a favor da desinformação. Esse tipo de pensamento apenas faz com que, a impunidade virtual cresça e respigue diretamente não apenas nos alunos(as) que consomem conteúdo, e sim, em todos os usuários das redes. É claro existem canais específicos que ensinam de tudo, e um adolescente com a mente fértil é capaz de produzir cenas que dariam inveja aos estúdios de  Hollywood.

O horário do intervalo está acabando, é preciso voltar à sala de aula e rever o que realmente estamos errando como seres humanos, se faz necessário um mergulho no contexto histórico, social e político do Brasil. O que realmente queremos para o nosso país? Qual tipo de sociedade estamos gerando? Sempre digo a frase: “por mais que você não goste de política, é preciso se atentar a ela, afinal tudo é política”. Um momento ou outro você vai perceber que mesmo não querendo já está inserido. Lembro facilmente das aulas nos barracões, tudo ecoa na minha mente, ainda mais quando era inverno e chovia, era um inferno. Eles deram lugar para construção de quadras esportivas, mas quem ali esteve, sabe muito bem o que é sobreviver dentro de um processo escolar injusto, segregador, desleal, violento, etc.  O melhor de tudo, foi “sair ileso” e consciente de que precisamos evoluir como seres humanos, mas também sei, muitos dessa época partiram para outros caminhos, uns nem chegaram a trilhar, esses foram meus colegas do barracão. A inspetora tá chamando, parece que terá aula vaga, dessa forma irei estudar para a prova da última aula, na verdade, é a criação de uma redação, para ajudar na nota, o título é: Vamos à escola?

Ducacroce.
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O amor acontece

É preciso dar novas oportunidades, outras chances e ocasiões acontecem, não necessariamente que seja “para sempre”, entretanto, enquanto da duração que seja vivenciado com verdade, tudo é aprendizado”.

O amor tem variadas formas de acontecer, e raríssimas vezes ele é de imediato, muitas vezes ele é percebido e aflora após muito tempo, sem que os privilegiados percebam a ação desse nobre e puro sentimento. Podemos elevar vários pensamentos sobre, afinal quem nunca se apaixonou e viveu uma história de amor? As sensações são infinitas e se deixar contagiar pelo amor é estar de coração literalmente aberto e compartilhar de variados momentos com a pessoa amada. Pode parecer fácil esse raciocínio, entretanto o ser humano tem as suas manias (ego) as quais sempre complicam um pouco essa equação. Tudo é questão de momento e equilíbrio, o amor pode até “estar presente”, mas naquela ocasião ele necessariamente não será o bastante, há de se ter a maturidade de ambos, e assim, de forma cristalina vem o aconchego, e a morada ao longo do cotidiano até o seu enlace oficial, o apogeu do casal, momento mais especial e esperado.

Por esses pensamentos e movimentos, lembro de uma história a qual acompanhei desde suas origens até mesmo a data marcada. A época, dois adolescentes, Vanessa e Edu, faziam parte da minha equipe, ajudavam em várias ocasiões das semanas e principalmente em eventos internos e externo. Não eram tão próximos e pouco se falavam, ela tímida, e ele mais articulado, ambos em um momento diferente na vida pessoal, porém objetivando crescimento profissional. Mesmo nas atividades não era muito comum vê-los juntos, e como nessa fase tudo acontece rápido reparava que cada um seguia por novas experiências, e em outras ocasiões estavam acompanhados, “todas as experiências são válidas, e saber apreciar cada momento a certeza de não ter lacunas abertas, e sim, ter bagagens que servirão em algum instante.” Interessante, a maturação adquirida por ambos nessas etapas, entre eles, apenas uma boa amizade, nada além. Único dia que percebi algo, foi quando os vi indo a um show de Rock, e logo depois perguntei a eles sobre, diferentemente do meu pensamento, estavam saindo de experiências não bem sucedidas, “provável que, os bastidores desse show tenham sido válidos em algum ponto, afinal, tudo começa por uma boa troca de ideias de experiências pessoais, isso de alguma forma aproxima e criam laços de confiança”.

Os ponteiros do relógio não pararam, seguimos com a nossa forte amizade, e cada qual novamente embarcou em novas oportunidades, lembro de um aniversário o qual estavam respectivamente acompanhados, “é preciso dar novas oportunidades, outras chances e ocasiões acontecem, não necessariamente que seja “para sempre”, entretanto, enquanto da duração que seja vivenciado com verdade, tudo é aprendizado”. Depois de um tempo não nos víamos com tanta frequência, e novamente os ventos sopravam para outras direções, e ambos agora livres, queriam desfrutar mais a vida. Nos encontramos para colocar as ideias em dias, a bem da verdade em uma noite muito fria na região da Rua Augusta, entre um copo e outro, rolês aleatórios, era sentido que a diversão foi garantida. Na hora de partir, uma volta pela Avenida Paulista, andamos abraçados para aquecer os corpos, eu fiquei no meio segurando-os, pois estavam mais altos de que eu (risos). Quando percebi, alguém largou de meu braço dizendo: esse serve, esse serve! Corremos literalmente na frente do ônibus, demos o sinal, e colocamos Vanessa dentro do coletivo com destino ao bairro da Lapa. Logo o dia estava amanhecendo, hora de se despedir de meu amigo, Edu já nas últimas energias, mas firme seguiu para a linha azul, e pelo que sei ficou indo e voltando, pois dormiu e perdeu a noção de tempo e espaço entre as estações. “Como sempre comento, nada melhor de que ter histórias para contar”.

O analógico do relógio não dá pausa, ambos continuaram seguindo seus caminhos, Vanessa em um momento mais focada na graduação, saindo bem pouco, ele trabalhando e curtindo novas experiências. Apenas os encontrava em aniversários, ou de forma individual, e uma dessas festas, me recordo de ter ganho uma garrafa de vodca e ter dado de presente ao Edu, mais que merecido pelos bons tempos e também pelo intervalo em que não nos víamos. Graças ao Edu, conheci um pouco mais do Rock Indie, quando fomos a uma festa na Barra Funda, aliás foram tantas festas que precisaria fazer um livro pra contar, quem sabe um dia (risos).  Em uma ocasião encontrei com Vanessa no Parque da Água Branca, encontrava-se em momentos mais reflexivos da vida, até mesmo com futuro profissional e amoroso, etc. Sempre calma, serena e muito precisa nos objetivos traçados, e assim tão logo virou professora, profissão a qual é dedicada ao extremo. Lembro quando a visitei na época de sua graduação, das caminhadas pela rua Catão, e é claro, quando fomos ao show dos Paralamas, e no retorno fui bem recepcionado por sua família. Também poderia ter um livro de outras histórias, afinal todas fazem parte de um acervo de muita confiança e carinho. “Ambos também me ajudaram em muitas ocasiões de minha vida, o que fez a nossa amizade ser ainda mais forte, ter ombros amigos é ter a certeza de que nunca estará só, e com eles sabia que podia contar a qualquer momento”.

E no balanço do tempo, cada qual estava seguindo por caminhos distintos, e apenas em 2017 conseguimos nos reunir, era aniversário da Vanessa, comemorado em um Pub na região de Pinheiros. Essa data marcou o retorno dos solteiros (todos tinham acabado de sair de relacionamentos, praticamente ao mesmo tempo). E dessa noite em diante os rolês ficaram mais constantes, mas um em especial se tornaria decisivo ao Edu e Vanessa. Esse fato ocorreu logo após uma visita a um Pub no bairro do Tatuapé, Vanessa estava em uma outra festa. Muito Rock In Roll ao vivo, cervejas e até descobri que Edu pensou ser chileno (risos, longa história). Pagamos as comandas e seguimos a estação do metrô, ficamos trocando ideias do antes e de tudo que estava acontecendo, e subitamente Edu demonstrou interesse em Vanessa, e prometeu que na primeira oportunidade iria expor suas intenções a ela, fiquei surpreso e pensei em silêncio: caramba, esses dois já se conhecem faz tempo, acho que agora vai. E assim aconteceu, se encontram algumas vezes e resolveram criar tudo de forma “off-line”, nem eu mesmo estava por dentro, apenas desconfiava, e só um tempo depois que assumiram de fato. Uma prova de que era pra valer, quando encararam o período de pandemia (covid-19) momento em que muitos casais optaram em desistir do relacionamento, eles mantiveram-se firmes e seguiram com seus propósitos. “Uma experiência exemplar para alguns casais que na primeira dificuldade já desiste, a convivência diária muda a forma de ação, mas não altera aquilo que é proposto, afinal, tudo vai se condicionando, e o melhor a extrair é a forma como cada qual se readapta e também se reinventar”.

Então, os ponteiros se encontram e o convite para o enlace oficial aconteceu, e vem um filme em mente assim como descrito, mas as emoções vão muito além quando se está ali no altar testemunhando e sentindo todas as vibrações. Uma emoção sem palavras, o caminhar para atestar com a assinatura evidenciava de fato os laços, esses que agora abençoados e consagrados por Deus e por todos que ali estavam. Confesso que fiquei dias emocionado, assim como hoje impactado ao lembrar de tudo, me senti realmente parte dessa história de amor, e poder expressar um pouco é uma forma de enaltecer a forma como o amor acontece, por mais que esse esteja desacreditado atualmente, está sempre por aí esperando alguma atitude, passo adiante de coragem, se apresenta de variadas formas, basta estar atento ele não vem com uma manual de instrução.

“E assim, o amor aconteceu, em sua nascente inesgotável uma nova história se concretizou, essa que transbordava aos olhos dos noivos, o amor estava ali, presente em cada gesto, não há quem não tenha se irradiado. Testemunha presente, sentia todas as vibrações, estado de pura inquietação com o coração em outra frequência. As emoções vieram fáceis, inundação de puro amor. A cerimônia foi abençoada, e a comemoração foi perfeita em todos os detalhes, e no final, com aperto de mãos, novas emoções provindas das palavras do noivo, as quais deixei desaguar nas minhas lágrimas, essas com gosto de amor, agora as sensações eram reais, tudo inundado, coisas do amor. Não há palavras para agradecer ou explicar, apenas navegar por essas águas, memória que mergulho desde então”.

Aos meus amigos-compadres, desejo que tenham sempre amor para todos etapas de suas vidas, em cada momento lembrem da linda história de amor edificada, dedicação, respeito e amizade que criaram e concretizaram juntos. Que essa nova etapa, traga frutos e muitas outras histórias para contar. Obrigado, pelo carinho, amizade e amor.

Ducacroce.
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Um passado tão presente

“A sociedade brasileira ainda é condicionada por valores em crer que, os negros não são pertencentes a nada, já os indígenas, são povos invisíveis, lembrados apenas no mês de abril, mas longe de entender, o Brasil é um país miscigenado, vai além de traços, está no sangue, porém é mais fácil negar e empinar o nariz com quem dizendo: sou puro(a), branco(a)”.

Todo conhecimento como novidade aguça curiosidade, espanto ou fuga. A quem se aventura no saber, obtêm-se uma visão diferente de que se propõe a fazer e criar. Ao espanto, as primeiras sensações de mudanças, e quem foge, fecha os olhos ao que possivelmente afronta suas ideias obscuras de uma realidade irreal. Assim, quando iniciada a primeira aula de filosofia, era visível as reações acima em cada aluno presente em sala de aula. O professor (filósofo) com voz calma e sorridente apenas orientava: gente, boa noite! Vamos fazer o seguinte: quem estiver com interesse na aula e quiser aprofundar as trocas de ideias, venha para esse lado, os quem não estiver afim do debate, não tem problema algum, eu respeito, pode continuar fazendo o que está. Para a não surpresa do professor, pouco menos da metade se dirigiu ao lado indicado, a grande maioria manteve-se no mesmo local com comentários: Esse professor tem uma ideias estranhas, aula chata, esse professor é louco! Pra que estudar filosofia? Essa matéria não vai reprovar mesmo, entre outros comentários que seguiram até o final da aula.

O que fomenta a curiosidade, faz questionar, refletir, observar e debater certamente merece uma atenção, e pelas reações de cada aluno é nítido entender a forma de desvalorização da matéria em questão. A atitude desses alunos tem um lastro histórico, provindo de outras gerações, negar o conhecer e o questionar, apenas vivenciar o que é oferecido sem argumentar. O saber das essências, descobrir e desenvolver novas formas e habilidades, são alguns aprimoramentos adquiridos, através dos estudos filosóficos, por um outro lado, historicamente uma grande parcela da sociedade despreza tais valores, até porque, esses foram ao longo desmerecidos e desvalorizados, aliás, pra que questionar? O saber era para poucos, e quem o detinha tinha o poder de “comandar o povo”, e mesmo após muitos anos, a história apenas se repete com uma rotulagem diferente, e a visão é contínua, ainda estamos dentro da caverna observando a movimentação das sombras, e apenas imaginando como tudo seria, mas será que não podemos ser participantes reais a meros expectadores?

A filosofia faz questionar os meandros históricos os quais estamos inseridos, impossível ambos não se misturarem e diluírem em debates. Entrando em um contexto histórico, era abril de algum ano, lembro da professora do primário com um cocar na cabeça, explicando e ilustrando didaticamente sobre o “dia do índio” hoje (dia dos povos indígenas). Confesso que ficava em dúvida se realmente aquilo era tão real como apresentado, é obvio, muitos dos livros escolares deixavam uma “visão de mundo perfeito”, e assim, muitos crrianças crescem com esse entendimento, ainda mais quando tratado sobre os povos indígenas, e o não procurar saber o que realmente aconteceu de fato, faz com que, a “história ilustrada” passe a ser um fato real.

A visão que a sociedade brasileira tem sobre os povos originários é nula, praticamente invisível. E novamente, para uma grande parcela, esses povos apenas atrapalham o progresso do país, será? A vida dos povos originários era de paz, mas essa acabou graças os europeus, e tempos depois com os bandeirantes, esses que escravizavam, caçavam, matavam e foram responsáveis por dizimar inúmeras tribos indígenas por várias regiões do território nacional. No início do descobrimento das terras brasileiras, os colonizadores se aproximavam da tribos, criavam laços de amizade e adquiriam confiança, e com o tempo colocavam em prática o grande objetivo, a tomada das terras e a escravização da mão escrava indigena usando de todos os requintes de violência. E saber que, nos dias atuais, cenas de genocídio nas aldeias das tribos yanomami. Qual parte da história erramos e não apredemos?

Certamente, em várias ocasiões, até porque, o mesmo objetivo da época é o atual, a busca pelo maldito ouro nas terras indígenas, juntamente com o garimpo ilegal e o desmatamento, essses tornaram-se totalmente livres nas regiões nos últimos quatro anos, graças ao afrouxamento de leis e vistas grossas das autoridades federais com efeitos de desarticulação da autonomia na FUNAI (Fundação nacional dos povos indígenas). As tribos passaram a travar uma guerra invisível contra os garimpeiros, a defesa do solo é sagrada, origem da sobrevivência das tribos. As mídias nacionais e internacionais destacavam os crimes, esses eram desmentidos descaradamente pelos responsáveis com a tutela do ex-presidente. E novamente, tudo era colocado em dúvidas em relação aos povos indígenas, e na verdade, ninguém estava se importando, aliás, quem se importa com a história indígena brasileira?

O povo brasileiro é peculiar nos acontecimentos de outros países, causa espanto em muitas pessoas quando assistem filmes sobre o período da segunda guerra, e ao verem, cenas dos campos de concentração nazistas cheios corpos cadavéricas, a comoção é instantânea, porém, quando imagens ao vivo das tribos yanomami mostravam crianças e adultos em pele e osso, essas mesmas pessoas comovidas, simplesmente ignoram o fato explicito dentro de seu país, vão no embalo das mídias tendenciosas e enxurradas de fakenews dizendo o contrário. É preciso sair da “caverna de app”, “atualizar o chip de ideias” e entender de vez o que realmente está acontecendo, isso é de cunho pessoal, vai além de visão política, é uma condição social, histórica e humana. São nesses momentos, os quais devemos aprender o que de fato podemos fazer para termos uma futura sociedade mais atuante e pensante nesses temas históricos que refletem no atual.

Muito além da caverna, existe também um outro povo, que estava em seu território em paz, mas os europeus tiveram a grande ideia de transformá-los em escravos, e se hoje, o mundo é essa “bagunça racial-social”, não tenha dúvidas, o velho continente tem total responsabilidade. O povo negro, esse que é maioria em nosso país com 56% da população, mesmo com essa porcentagem populacional, fica como explicar ainda o racismo e discriminação presentes? Pois bem, o Brasil manteve-se economicamente ligado a mão escrava por 388 anos, e nesse contexto, conseguimos entender um pouco sobre o que ocorre no cotidiano. Quando comentado o tema “cota racial” é como se uma bomba atômica estivesse prestes a explodir, certa parcela da sociedade torce o nariz, entretanto, se abstém em falar, talvez por desconhecer, mas há de se entender a “dívida histórica”.

O Brasil foi último país a abolir a escravidão, e quando da oficialização de seu fim, ficou conhecida como a “abolição sem salva guarda”: “O Estado brasileiro não garantiu aos ex-escravizados e seus descendentes as condições necessárias para inserção social. Não teve indenização, nem acesso à terra muito menos acesso à escolarização”. E se olharmos atentamente longe da caverna, veremos que ainda há resquícios maquiados espalhados em algumas regiões brasileiras. São dez anos da criação do projeto de lei de cotas, é necessário uma análise profunda e prováveis mudanças, acerca de novos impactos para a diminuição da desigualdade gritante e histórica. A sociedade brasileira ainda é condicionada por valores em crer que, os negros não são pertencentes a nada, já os indígenas, são povos invisíveis, lembrados apenas no mês de abril, mas longe de entender, o Brasil é um país miscigenado, vai além de traços, está no sangue, porém, é mais fácil negar e empinar o nariz com quem dizendo: sou puro(a), branco(a).

A história do brasil é um emaranhado de acontecimentos, e muitos se repetem constantemente com enredos diferentes, mas o contexto é o mesmo. A sociedade precisa mudar como um todo, leva tempo, e bem da verdade, é necessário além de querer. O olhar tem de ser de dentro pra fora e deixar expelir os pensamentos e atitudes mesquinhos de uma sociedade escravocrata, é preciso educar as novas gerações a pensar e entender sobre as raízes do país até a sua formação social atual. É urgente sair da caverna e entender que somos um só povo, sim somos seres iguais, mas quando colocada a cor da pele em questão, deixamos de ser, e passamos então a criar o que temos hoje, uma grande “segregação racial histórica”. Quanto as aulas de filosofia, o motivo de tirarem do currículo escolar, é puramente e simplesmente por ajudar a criar pensamentos que desmistificam os meandros históricos socias de formas argumentativas. O artifício de questionar, torna-se nocivo a quem usa a história para camuflar suas atitudes e ações. Afinal, para que uma sociedade sabedora de suas origens e reivindicadora de seus direitos? Então, de qual lado da turma você ficaria na aula de filosofia?

Ducacroce.
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A história pendular

“O Brasil é plural, não pertencente a um grupo étnico, há de ser governado para todos os cidadãos, independente de preferência de voto. A nossa democracia voltou a sorrir, o mundo precisava do retorno do Brasil em vários sentidos, voltaremos ao protagonismo mundial, e o melhor de tudo, a nossa democracia resistiu e deu a resposta no voto, na vontade da maioria, e assim, se fez valer mais um movimento pendular democrático histórico.”

Na vida, tudo que não é esclarecido, passado a limpo e resolvido de forma cristalina e objetiva, certamente causará um desconforto provindo de um desequilíbrio emocional, e também é claro dizer que, um país que não se resolve com questões políticas do passado, está fadado a sempre correr riscos dentro de sua democracia e liberdade, pois esses males permanecem como “espectros conspiradores”, objetivando o retorno e a perpetuação do poder, não importando a forma ou meios. A nossa história é baseada por esses movimentos (golpes) que brocam de forma explicita a soberania naciona (democracia) historicamente essa ala está presente desde o início da república.

Como em um movimento pendular, a história vai escrevendo os seus capítulos, vez ou outra, alguns se repetem de outras formas, muda-se apenas o rótulo, mas o conteúdo é o mesmo. O que define esse movimento pendular não é a ida e volta do pêndulo, e sim, o intervalo entre os ponteiros, é nesse meio que se obtém as informações e até mesmo as desinformações. Para entender melhor o meio, é necessário embarcar pelos dois pontos e observar de que forma a sociedade absolve variados conteúdos diários e principalmente através dos meios utilizados.

No início do século XX, o rádio e cinema eram poderosas ferramentas de comunicação, e muito bem exploradas por regimes totalitários (Nazismo e Fascismo) são expoentes mais precisos, os quais se enquadram em alguns formatos atuais de governos. A programação de 24h com maciça propaganda política dos partidos e a total atenção do povo às informações que eram anunciadas, essas em sua maioria eram negligentes e criminosas, mas quem iria ser contra a um movimento e posteriormente um governo tirano? O povo era alvo das desinformações diárias, e aos poucos, esses regimes chegaram ao poder vendendo a ideia de que o país precisava de uma “nova política e novas formas de governar” e para isso era necessário exterminar seus adversários: comunistas, judeus, ciganos, homossexuais, deficientes, mestiços e outras minorias, e para tal feito, os campos de concentração foram construídos e usados para esse ato criminoso, extermínio de seres humanos. A morte era comprovada pela fumaça que saía dos fornos dos campos, e outros que eram fuzilados pelas ruas e praças como total normalidade. Em meio a esse contexto caótico, existiam pessoas que eram contra, mas já era tarde, o Nazismo tomou o poder na Alemanha, corroendo aos poucos a democracia de forma estratégica.

O trecho acima reflete aos muitos títulos de filmes sobre o período da segunda guerra mundial, e todos ficam revoltados com a forma que tudo aconteceu, mas o que mais intriga, é o fato das mesmas táticas e artimanhas usadas antes, ainda hoje também são utilizadas, e com ferramentas com mais alcance. As tecnologias mudaram, a forma de relação e a política se aproveitam muito bem, atualmente os grandes destaques tecnológicos de alcances: grupos de WhatsApp, Telegram e Facebook são os principais meios junto as outras redes sociais, que disseminam não apenas as famosas fake News, mas a “gestação de um embrião de ódio” que vem  junto com o total desconhecimento democrático e constitucional, inflamado por pessoas ligadas ao governo, a ideia é distorcer qualquer tipo de informação e manter essas pessoas alienadas em um bolha.

Para melhor entender esse contexto, é preciso fazer uma viagem pendular para meados dos anos 30 no Brasil, década marcada pela ascensão das ações do grupo Integralista do Brasil (era uma cópia do modelo fascista italiano. A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi um movimento político brasileiro ultranacionalista, corporativista, conservador e tradicionalista católico de extrema-direita). O movimento pendular mostra que ao longo essas ideias e ideais integralistas sobreviveram atraindo muitos adeptos, os “camisetas verdes” como são conhecidos ainda se reúnem com o mesmo discurso ultranacionalista. Um slogan muito usado constantemente: Deus, pátria e família, é oriundo dos integralistas, e respinga totalmente nos grupos de apoio do ainda governo que termina em janeiro de 2023.

Na primeira disputa presidencial após a ditadura (1964-1985), um candidato se destacava entre outros que cobiçavam a faixa presidencial, Enéas Carneiro do partido (PRONA – Partido de Reedificação da Ordem Nacional, partido político brasileiro de cunho nacional-conservador e economicamente nacionalista, ideologicamente compatível em geral, associado com a direita e a extrema-direita) tinha simpatia e apoio dos ainda integralistas. O PRONA foi extinto em 2006 dando espaço ao PL (Partido Liberal). Pois bem, voltando do movimento pendular, chegamos até o presente momento, é possível entender um pouco dos efeitos do pós eleição nacional 2022, a qual o resultado não agradou uma parcela muito grande do país, e nas manifestações é nítida as influencias dos grupos citados acima, incluindo grupos neonazistas. Ao longo do trajeto histórico, muitas pessoas são impactadas e perdem o senso de realidade, isso visto pelas cenas lamentáveis de pedidos de intervenção militar (volta da ditadura).

Ao tempo, esses indivíduos não percebem que, tão pouco eles não poderão reivindicar qualquer direito ou ato de expressão, na verdade desconhecem o que foi o período de ditadura no Brasil (1964-1985). Fecham os olhos para o retorno da miséria, como pode um país ser um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, e ter a sua população passando fome? Estranhamente, quando faltou oxigênio para evitar as mortes por covid-19 em Manaus, não se viu caminhoneiros prestando ajuda, e a tão criticada Venezuela prestou solidariedade doando tubos de oxigênio. Que patriotismo é esse, que não questiona as quase 700 mil mortes pela pandemia? Por que, nada falam sobre o rombo do orçamento deixado para o próximo presidente? O país está quebrado literalmente, será preciso muito trabalho para refazer os estragos dos últimos 6 anos (Temer 2016-2018 e Bolsonaro – 2018 – 2022).

Observando esses últimos ocorridos, recorro ao movimento pendular e paralelamente vem as cenas da segunda guerra mundial, a qual a todo tempo era noticiado que a Alemanha estava vencendo a guerra, e o povo cegamente acreditava, resistia até mesmo lutava pelas ruas de Berlim, porém, quando menos perceberam, a guerra chegava ao seu final, e a queda do regime Nazista foi concretizada. Não há como não fazer uma ponte histórica, pois as ideias e ideais políticos estão sempre rondando e procurando uma brecha para se infiltrar, e após, criar vida dentro das mentes, gerando um mundo paralelo, o qual hoje é bem visível pelos protestos golpistas pelo país, ainda não aceitaram a derrota nas urnas, tão pouco há o respeito pela constituição e democracia. Os atos são inflamados por pessoas alinhadas ao governo, através dos grupos de comunicações citados.

É obvio, não se cria um monstro do dia pra noite, como vimos os rastros históricos comprovam, sempre que a democracia de um país está fragilizada, essas ideias aparecem como solução imediata, basta lembrar de como foram as eleições de 2014, 2018 e 2022, os ataques a democracia já eram nítidos, com variados protestos patrocinados por grupos empresariais, partidos políticos e uma ala do exército, esses todos ganharam espaços no atual governo. Uma figura que se destacou por esses períodos foi o tal juiz, tido como o “herói do brasil”, Sergio Moro. Chegou a fazer parte do ainda atual governo, mas logo foi chutado do cargo, pois tinha que cobrir os crimes cometidos pela família presidencial. Romperam relações, mas nas eleições de 2022, se juntaram novamente, essa é a tal “nova política”, afinal, se não fosse esse juiz, as eleições presidenciais de 2018 teriam outros rumos democráticos, e bem da verdade, esse indivíduo era pra ter sido julgado e punido, pois simplesmente atentou contra a democracia de forma ampla, mudando os resultados de uma eleição presidencial, condenando a época Luiz Inácio Lula da Silva, apenas usando de sua convicção sem qualquer tipo de prova. Curiosamente, ele foi eleito para o senado, pelo o estado do Paraná, porém, pode ser que não não tome posse, pois há irregularidades em gastos de sua campanha. Esse é um típico idivíduo dentro da política nacional que aos poucos vai criando corpo e espaços, quando menos esperar, estará atuando, como já fez contra a democracia por diversas ocasiões.

Em um país pobre e miserável, vender a ideia de armas é mais benéfico de que matar a fome, não tenha dúvidas, alguém vai “lucrar com a fome”, e muito mais com a venda de armamentos. Sobre as armas, é nítida a manobra muito bem pensada por esse governo (2018-2022) articulando exatamente um golpe de estado com apoio da população armada, pelo que se vê pelas ruas, são pessoas que estão propensas a fazer qualquer tipo coisa para “restabelecer a ordem democrática, para o bem-estar da família brasileira com a ajuda de Deus e dos bons costumes”, mas não entendem que estão jogando contra a própria democracia. Usam de discursos de ódio contra quem pensa diferente, são intolerantes, preconceituosos, homofóbicos, xenófobos, racistas, etc. Não aceitaram a derrota através do voto democrático, aliás, o candidato que representa essa parcela, usou de todas as forças aliadas (policia rodoviária federal, polícia do exército, polícia militar e outros meios) fez de tudo para que muitos não conseguissem votar, proibindo passagens de ônibus, pessoas com vestia vermelha sendo presas e proibidas de entrar na zona eleitoral, etc.

O que passa despercebido nesses protestos, é a forma como ele é financiado, afinal banheiro químico, barracas de acampamento, alimentação, água e acessórios não aparecerem do nada, não é mesmo? Quem banca essa estrutura? Simples, são empresários ligados ao ainda atual governo que possuem alguma regalia fiscal, e não querem perder. Foram descobertas 43 empresas que investiram nesses protestos golpistas, e tiveram suas contas bloqueadas, desse total, 34 são de Mato Grosso do Sul, não é de se espantar, não é mesmo? Essa região é responsável pelo crescimento do desmatamento da Amazônia, perseguição às aldeias indígenas e corte ilegal de árvore. Os protestos também funcionam como cortina de fumaça, tiram o foco e toda essa exploração na região citada continua, ao menos até o final desse governo ainda teremos de suportar a essas ações criminosas.

Para sintetizar todas as ideias aqui debatidas, o que temos de questionar em todos esses movimentos, é a quem realmente todo esse cenário político interessa. Quem lucra a todo tempo? Quem mantém o povo ainda escravizado tirando direitos trabalhistas? Quem dita as regras econômicas? Sim, são esses mesmos, ala do agro, banqueiros e empresários que detém as maiores riquezas. Para eles pouco importa se o presidente não tomou vacina ou deixou de comprar vacina para o povo, se a família é corrupta, miséria e fome pelas ruas, etc. Nada disso importa, o lucro está acima de qualquer questão, a todo tempo ouvimos: o mercado, esse se refere a esse grupo. Por isso, quando há projetos sociais direcionados a educação, saúde e cultura há uma grande revolta desse grupo, mas o que espanta, é que, muitos pobres explorados passam a defender esse grupo, não percebem que também são usados como massa de manobra e logo descartados.

Mexer com lucro desse grupo, não é um bom negócio, basta lembrar do golpe de 2014-15 patrocinado por esses mesmos com uma ajuda extra (ala do exército – espectro golpista sempre está por perto) queriam colocar qualquer um no poder a todo custo, mesmo esfacelando a democracia, tudo foi válido, desde que não mexessem em seus lucros e assim sucedeu o golpe, a partir desse momento, vivenciamos a crescente faixa da miséria no país. Atualmente “ 52,7 milhões de pessoas, estão em situação de pobreza ou extrema pobreza no Brasil”. O mais curioso, ninguém se revolta com tal fato real, cadê os patriotas?

Em breve um novo governo assumirá, mas o jogo ainda não terminou, pelo contrário, o movimento pendular está sempre indicando e alertando, as ameaças a democracia nunca cessam. Os derrotados não estão satisfeitos, e assim seguirão por 4 anos, é preciso manter o campo de batalha em alerta e não baixar a guarda como em anos atrás, temos apenas uma certa vantagem democrática momentânea. É preciso resistir e fortalecer a nossa democracia, afastar de vez esses ideais fascistas e espectros golpistas que sempre estão atentos visando a tomado do poder a qualquer custo. A luta apenas reiniciou, precisamos lutar incansavelmente para que os anos de pesadelos não voltem. O Brasil é plural, não pertencente a um grupo étnico, há de ser governado para todos os cidadãos, independente de preferência de voto. A nossa democracia voltou a sorrir, o mundo precisava do retorno do Brasil em vários sentidos, voltaremos ao protagonismo mundial, e o melhor de tudo, a nossa democracia resistiu e deu a resposta no voto, na vontade da maioria, e assim, se fez valer mais um movimento pendular democrático histórico.

Para maior profundidade nos temas abordados, indico os materias abaixo:

1 – Fascismo no Brasil: Do integralismo ao Neointregalismo

2 – O que é Integralismo e por que ele está de volta?

3 – Brasil em transe: Embates de ideias de eleitores nas ruas

4 – Brasil em transe – Episódio 1 – O sonho acabou

5 – Brasil em transe – Episódio 2 – A lava jato e “o golpe”

6 – Brasil em transe – Episódio 3 – Nação dividida

7 – Ascensão dos Nazistas: a estratégia que levou Hitler ao poder (PARTE 1)

8 – Ascensão dos Nazistas: a violenta tropa de choque de Hitler (PARTE 2)

9 – Ascensão dos Nazistas: o golpe final que deu a Hitler poder absoluto (PARTE 3)

10 – O Dia que Durou 21 Anos – Documentário Completo

Ducacroce.
Criador e editor,
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A voz do voto

“Qual foi o projeto implantado? O que mudou de fato? Em breve, cada cidadão poderá decidir com seu voto o futuro do Brasil nos próximos quatro anos. Então, qual país que você quer? Assim como o voto é secreto, reflita, pesquise, analise e exerça seu direito de cidadão, vote consciente”

A história de nossa democracia ainda é um “embrião histórico” e fazer parte dessa gestação se torna importante em meio a tanta polarização, efeito o qual também acompanha desde sempre o cenário político e social de nosso país. Hoje está mais evidente devido aos meios de comunicação tendenciosos e com a disseminação maciça de fake News. Não se cria um ambiente político totalmente a gosto de um eleitor, isso pode, como vem acontecendo em algumas democracias, quando grande parte da mídia tem apoio de grupos que visam a tomada do poder para se estabelecerem perante uma sociedade desigual, sem voz e totalmente sem direitos, pregando valores sociais, ideológicos e cristãos. São três engrenagens em pleno funcionamento harmônico usados com muita expertise, e boa parte da sociedade adere com facilidade mantendo-se alheia a tudo que venha acontecer.

O voto, é sim de utilidade muito importante, por mais que a política não lhe agrade (política, não político) mas essa mesma está presente em seu cotidiano, basta ver a crescente tomada de pedintes e moradores de rua, a miséria se tornou um cartão postal em várias regiões privilegiadas de várias cidades, apenas quem vive em uma outra realidade crê que tudo está bem, da verdade, sabem, mas fingem, afinal os efeitos das engrenagens citados acima refletem totalmente nesse ponto. O ser humano é descartável aos olhos desses, ou mesmo invisíveis, mas é através desses que o status dessa classe é mantido, a exploração é o grande combustível, e isso vem desde o início de nossa história. Todos esses grupos que aparecem em época eleitoral: agro, ala religiosa, exército, etc. Estão presentes desde a época de colonização, e não seria agora que iriam desaparecer, querem se manter firmes frente a sociedade, e a desigualdade não é problema algum, vivem como se fosse na época das (oligarquias hereditárias) em pleno século XXI.

A política tem o seu lado sombrio, é verdade, mas isso é feito para que os direitos do cidadão sejam ocultados em uma “fumaça burocrática”, e o político que tiver mais habilidade através de projetos sociais e econômicos de canalizar uma porcentagem desses direitos passe a se destacar e ganhar popularidade do povo, na verdade esses direitos estão um pouco além da constituição. Para essa manobra funcionar, fica impossível não haver uma politicagem de conchavos, a troca de favores sempre irá ocorrer, independente do político ou partido, tudo é uma politicagem, e no final esse tal grupo tem de se beneficiar de algo a mais. Nesse jogo, eles apenas não querem que as camadas menos favorecidas cresçam socialmente e economicamente, efeitos que ofuscam o tal status de uma parcela da sociedade. Um exemplo simples, anos atrás era muito comum um cidadão viajar de avião, fazer grandes viagens pelo mundo, etc. Isso incomodou e muito (ainda incomoda) afina,  uma funcionária do lar não tem direito a fazer uma viagem? Não só tem, é um direito de todo trabalhador.

Estranhamente, lutamos contra uma ditadura (1964-1985) entretanto, os militares nunca saíram de cena, e isso é histórico até mesmo no atual governo a sua base é toda fardada, querem controlar a contagem de votos, mas não conseguem saber a quantidade de armas que circulam no país, o chamado CAC (CAC é a sigla para Colecionador, Atirador e Caçador, são as atividades em que Pessoas Físicas são categorizadas no Exército Brasileiro através do Certificado de Registro). O responsável pelas urnas eletrônicas é o TSE (tribunal superior eleitoral) esse é representado por um ministro do (STF – Supremo tribunal federal). Esse mesmo supremo convive com críticas ácidas e pesadas do atual governo, principalmente na desqualificação da apuração de votos, fazendo um jogo político para minar as eleições criando ainda mais um ambiente instável. Quem está em dúvida de votar acaba sendo impactado com inverdades, e votar passa ser um desafio ainda maior, então vem a pergunta, quem é favorecido com o voto nulo?  Quem perde? Caso esteja nesse momento pensando sobre, tenha certeza, você será o maior prejudicado, pois terá alguém decidindo por você os próximos quatro anos, e por mais que você não goste de política, você faz parte do jogo político.

Ainda sobre o voto, há um fator determinante em uma eleição, o voto feminino. Historicamente nem na época da Grécia antiga as mulheres tinham direito ao voto (apenas cidadãos do sexo masculino acima de 30 anos tinham esse direito) no Brasil, apenas em 1932 esse direito foi concedido. Mais um “embrião histórico” e decisivo, afinal as mulheres sempre tiveram um papel fundamental em vários setores da sociedade, apenas não são evidenciadas como deviam ser, pois sabemos da sombra patriarcal que assola todos os âmbitos sociais. As mulheres estão atentas aos projetos que visam maior proteção, segurança e direitos de igualdade, e mais precisamente contra à violência diária a qual são submetidas. Isso não é nenhum favor, é um direito, e elas sabem muito bem reivindicar. As suas vozes estão sempre ecoando, o voto feminino é decisivo em uma sociedade ainda muito conservadora e retrograda.

Ao “eleitor debutante”, esse tem acesso a todo tempo as informações e desinformações, há um constante bombardeio de fake News (notícias falsas publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais). Áudio fake (são áudios criados também por programas eletrônicos, são diferentes de imitações feitas por comediantes). Deepfake (O deepfake é uma tecnologia usada para criar vídeos falsos). São materiais vinculados em mídias socias por grupos financiados por muitos partidos com o grande objetivo de obter vantagens em uma eleição, afinal uma mentira contada algumas vezes se torna verdade. Por isso, é sempre importante checar as informações recebidas e saber da fonte de vinculação. A melhor opção, é acessar o plano de governo do candidato(a) e ficar por dentro de que realmente está sendo proposto, e assim, a decisão consciente do voto.

Aos debates, não há o que se esperar, é gerado um clima de guerra e quem sai perdendo é o eleitor, ninguém está disposto a ver apenas ataques, muitos até pessoais entre os candidatos, o ideal era criação de um debate de ideias reais de cada plano de governo. Porém, a realidade é outra, a estratégia é a agressão verbal visando trocas de votos em futura pesquisa, afinal esse jogo interessa muito mais aos candidatos, são sabedores dos inúmeros votos ainda em aberto dos muitos eleitores dispersos ao que envolve a política as vésperas de uma eleição, qualquer vantagem é benéfica. Ao mesmo tempo, tendo um debate de baixo nível, é possível esconder o despreparo dos candidatos(as) ao que é proposto no projeto de governo. As promessas fazem parte do jogo, sem elas, o que seria da política? A democracia no Brasil ainda respira, mesmo sendo golpeada e ameaçada nos últimos anos, cabe a cada um fazer uma reflexão profunda em relação aos últimos quatro anos da gestão do atual governo, será que teve competência? Qual foi o projeto implantado? O que mudou de fato? Em breve, cada cidadão poderá decidir com seu voto o futuro do Brasil nos próximos quatro anos. Então, qual país que você quer? Assim como o voto é secreto, reflita, pesquise, analise e exerça seu direito de cidadão, vote consciente.

Ducacroce.
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Enigmas, histórias e romance

Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro

“Será que tudo aquilo foi real? Apenas um sonho? Quem sabe, tudo irá se repetir no próximo rolê? Mas, pode ser que, ainda nem aconteceu. Enfim, ficarei atento aos detalhes. Após uns instantes, levantou para tomar água, seu celular vibrou e uma solicitação de amizade chegou: Efigênia”. E foi assim que, Ludus despertou, reflexivo sobre tudo que tinha vivenciado na noite anterior, afinal tudo estava ainda pulsante em seus pensamentos e essa solicitação era fundamental para desvendar esse mistério, e assim, aceitou o convite.

Para arejar um pouco as ideias resolveu fazer uma caminhada pelo bairro e para a sua surpresa recebeu uma ligação de seu amigo, Amado.

Fala aí, véio! Já tá recuperado das alucinações? Ludus rindo comenta: que milagre você me ligar, bateu a cabeça?

– Quase isso! Na verdade, um pedaço de tronco de uma árvore caiu na minha cabeça, estou em observação no pronto socorro.

Meu amigo! Desejo, plena recuperação, e nada de ficar com gracinhas com as enfermeiras, te conheço bem. Sobre as alucinações, foram bem reais e estou muito próximo de descobrir o que de fato aconteceu.

Amado, responde rindo: véio, vai se meter em confusão de novo, e dessa vez não estarei por perto, mas fique esperto nesse lance, nem eu sei mais o que tá rolando. Indo aqui, uma enfermeira tá me chamando, depois falamos mais, um abraço. Nem deu tempo de se despedir, e ao retornar da caminhada, ligou o celular e foi beber água, nesse momento várias mensagens saltavam pelo aplicativo, todas vindas da nova amizade.

Antes de iniciar uma conversa, Ludus resolveu explorar melhor o perfil. Observou muitas fotos antigas do centro histórico de São Paulo, na verdade tudo era uma viagem retrô, e o mais estranho era não ter foto alguma do contato, apenas uma pequena silhueta em uma manifestação na Praça da Sé. Pela descrição, Efigênia era uma historiadora, a foto de seu perfil, era uma paisagem da antiga Estação da Luz. O mistério apenas crescia, assim como os longos papos que iam acontecendo pelo aplicativo, esses se tornaram constantes pelas madrugadas e tão breve resolveram marcar um encontro. E assim, passando alguns dias, o tão esperado momento chegou. Era uma tarde de sábado ensolarada muito agradável, Ludus estava ansioso, mas muito atento a tudo, saiu bem antes para não atrasar, pois não queria deixar passar nada em branco. O local escolhido foi a Galeria do Rock, o mais interessante é que, Ludus não sabia quem era essa Efigênia.

Como fazia tempo que não andava de metrô, optou por esse meio mais veloz. Logo observou uma movimentação muito grande mesmo sendo final de semana. O metrô parou na plataforma e um princípio de tumulto, pela correria que acontecia todos achavam ser algo grave, mas era apenas um garotinho vestido de “estátua da liberdade” sendo escoltado por 8 agentes de segurança do metrô, alguns passageiros tentaram intervir e o clima ficou tenso, mas logo normalizou. Ludus em pensamentos invisíveis:

– Qual mal uma criança vendendo doces pode fazer? Será que realmente precisa desse exagero para contê-lo? O ideal era que esse garoto estivesse brincando ou estudando, mas certamente ajuda no sustento de sua família vendendo doces, é uma realidade que para muitos é inexsitente,chega a ser invisível.

O embarque foi feito, e após duas estações, um bate-boca: eu tenho direito de sentar nesse assento, você tem de sair daí agora mesmo, seu vagal! O jovem que estava sentado no banco reservado responde: Se o sr. falar direito comigo, eu saio sem problemas. E o senhor batendo sua bengala no chão avisa: é melhor você sair, seu marginal! O tempo fechou no vagão, pois o jovem estava indo a um jogo de futebol, e seus amigos uniformizados acalmaram o dono da bengala e seu assento foi liberado sem mais confusões. E os pensamentos invisíveis:

Se o assento é reservado para determinado passageiro, por que fazer o uso? Deixe livre, assim evita problema, hoje em dia por nada as pessoas perdem a cabeça, mas acho que aquele sr. também podia abordar o rapaz de uma forma mais cordial, não é mesmo?

A viagem seguiu, e uma estação antes do desembarque, o metrô parou e um corre-corre na plataforma. Uma mulher acionou a parada de emergência, pois foi assediada por um homem, esse quase foi linchado pelos passageiros a sorte que os agentes agiram com eficiência. E novamente pensamentos invisíveis de Ludus:

– Que ótimo, essa vitima não se calou, e o espertalhão foi atuado. Agora resta saber quanto tempo ele ficará fora de circulação. Mesmo que a mulher não fique em silêncio, as leis ainda protegem de alguma forma o infrator nesse tipo de crime, é preciso mais rigor e não fazer a vitima se achar culpada, afinal a culpa recai sempre na mulher, não é mesmo?

Ao desembarcar e sair da estação, Ludus deu uma respirada profunda, pois sentiu que, em poucas estações as violências não dão sinal para parar, seguem sem destinos. Chegando no ponto de encontro enviou mensagem avisando que já estava no local combinado, resolveu andar pelos andares da galeria, entrou em uma loja de discos do terceiro andar, observou ao seu lado oposto uma mulher com estilo retrô, e percebeu um olhar que o filmou dos pés à cabeça, ele sentiu algo peculiar daquele olhar, mas continuou catalogando os clássicos do Rock anos 80. Em um piscar de olhos sentiu uma presença leve ao seu lado, e antes de qualquer ação veio a voz: Pensou que eu não viria? Ludus, sentiu um arrepio e ao virar, manteve o olhar fixo ao da mulher misteriosa lhe dizendo: pelo contrário, tinha certeza de que viria. E assim, se conheceram pessoalmente sem cerimonias, saíram da loja e encostaram na sacada, deram as mãos e de imediato um beijo pra quebrar o gelo com direito aos raios de sol nos rostos, e ao som do vinil vindo da loja: “by my side” da banda – INXS”.

Andaram pela galeria e em cada andar, Efigênia parecia conhecer os espaços sempre contando algum episódio curioso. Saíram da galeria e andando pelas ruas do centro, Ludus notava sempre a sensação de que tudo em torno fazia parte literalmente dela, era visível em seu olhar e reações, isso fazia uma ligação com as fotos dos álbuns. Curioso, Ludus comentou quando próximos ao viaduto do chá:

– Parece que, você tem uma conexão muito grande com o centro, é nítido em suas reações, fale um pouco sobre. Efigênia se aproximou de Ludus lhe dando as mãos e dizendo:

– Sim, minhas raízes pertencem a essa cidade a qual tenho muito amor, e todas as vezes que a visito revivo tudo como se fosse a primeira vez, isso me deixa viva, entende? O clima, a pressa, o movimento, o jeito de cada pessoa, tudo me remete a um tempo que não volta mais. Ludus, sentia-se ainda mais intrigado, e após a resposta prosseguiu: Muito tempo que você não visita a área central?

– Nem sempre que quero posso, mas em ocasiões especiais como a de hoje, eu vim, queria muito conhecer você pessoalmente e está sendo muito bom, em seguida um abraço e um beijo para selar o momento enquete.

Já pela metade da tarde, caminharam até o Lago São Francisco, estava tendo um ato sobre “a carta pela democracia” havia uma movimentação muito grande, era nítida a vibração de Efigênia ao se aproximar do espaço entoando gritos e palmas. Ludus observava tudo, mas o quebra cabeça ainda estava bem incompleto, mas logo teria uma clareza maior nas respostas que tanto procurava.

Ao saírem do ato, Efigênia pediu a Ludus que caminhassem até a Praça da Sé, chegando próximo ao marco zero pararam, e ela o indagou: Você já esteve aqui com seu pai em um ato das Diretas Já?

– Ludus, não escondeu tamanha surpresa e adivinhação e respondeu: Sim, estive, como você sabe? Efigênia com sorriso espontâneo e um ar de mistério responde:

– Fique calmo, sei de muitas coisas, mas nem tudo posso falar, assim como da última vez não deu tempo, mas voltei porque senti confiança em você. Sei que procura algumas respostas, e você as terá, mas que possamos fazer valer esse nosso reencontro, pois não sei quando o verei novamente. Ludus ouviu atentamente, deu um abraço em Efigênia e em seu ouvido, disse: vamos escrever mais um capítulo dessa história, faremos valer o hoje em cada segundo, na sequencia um beijo ardente que iluminava a noite já presente.

E dessa vez não teve agitação e sim, espaço nunca visto por Ludus na região do centro, muito aconchegante com uma decoração retrô. Assim que se acomodaram, observavam uma vista maravilhosa de toda a cidade as luzes davam um toque especial. Não tiveram mais tempo para conversar, e sim, para despir todo o desejo que exalavam pelos poros. Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro a música de Lenny Kravitz – Again.

Ele foi ao seu encontro, a manhã também começou musicalmente banhada e muito ardente, após ficaram deitados na cama observando a paisagem e o sol se impondo na manhã de domingo, era nítido que não queriam o término do final de semana, afinal a felicidade está totalmente no momento vivenciado e proporcionado de forma única, mas estavam conscientes de que ambos estariam conectados de alguma forma.

Ludus pegou uma leve soneca, e quando despertou já não tinha mais a presença de Efigênia, misteriosamente ela foi embora. Ele antevia essa ação, só não sabia qual o momento exato. Em seguida deixou o quarto e ao passar pela recepção um funcionário veio em sua direção perguntando: Por favor, você é o Ludus? Sim, sou eu mesmo. Uma moça misteriosa deixou comigo esse pacote e pediu para lhe entregar. Ludus agradeceu, e todo cheio de curiosidade rasgou rapidamente a embalagem, era uma agenda de capa vermelha bem encorpada e pesada. Na capa um recado: “prometi te falar tudo, e em cada página dessa agenda você saberá quem sou, e quem sabe um dia nos veremos para debatermos cada capítulo, será um imenso prazer, na assinatura um beijo ainda fresco de batom”. Ao atravessar a rua, o local simplesmente deu virou uma sorveteria, Ludus rindo comenta com ele mesmo: por essa já esperava.  

A agenda só foi aberta quando Ludus chegou em sua casa, ao acessar o aplicativo viu que o perfil de Efigênia tinha sumido, restava agora, apenas as revelações escritas e registros históricos anexados em cada página. Algumas dessas fotos estavam no perfil dela, Ludus ficou vários dias lendo em detalhes todas as histórias contidas, essas vinham do início do século XX até os dias atuais. Com tantas informações foi criada uma time line e algumas coisas ainda não se encaixavam. Apenas uma pista podia ser seguida, Efigênia em uma de suas visitas foi presa, torturada e morta no antigo DOPS na época da ditadura militar (1964-1985). Ela conta em detalhes tudo o que aconteceu naqueles dias intermináveis, e também dos tratamentos cruéis como choque elétrico, espancamento, afogamento, cadeira do dragão, ingestão de insetos, etc. As folhas que relatavam esse período continha um tom mais escuro, Ludus percebeu atrás de uma única foto que Efigênia aparece uma descrição, era o número da cela a qual ela ficou presa e torturada.

Agora com o quebra cabeça quase montado, Ludus decidiu ir até o antigo prédio do Dops hoje conhecido como (Memorial da Resistência de São Paulo é um museu que preserva as memórias da resistência e da repressão políticas do estado de São Paulo). Seguindo a descrição da agenda, o objetivo era encontrar a cela a qual Efigênia ficou presa, já quase desistindo resolveu percorrer por um corredor não muito movimentado, sentia um clima mais frio, e mais abaixo observou umas celas mais isoladas, e ao observar a numeração ficou em choque, pois era o local que tanto procurava. Analisou cada centímetro da cela, e percebeu uma diferença no reboco da parede ao tocar sentiu que estava oco, com um chaveiro foi raspando e perfurando a camada de cimento já vencida pelo tempo.  

Com as pontas dos dedos conseguiu puxar um saquinho plástico e dentro dele uma folha de caderno com a seguinte mensagem:

“Se você está lendo essa mensagem, é porque você mereceu minha confiança, conseguiu saber mais de minha história, essa que vai muito além dessa maldita cela. É certo de que você teve acesso a minha agenda, sem ela seria impossível, e essa sim, conta realmente quem sou. Na verdade, não tente saber ao fundo, pois nem eu mesma sei. Apenas me tenha em seus pensamentos como alguém que realmente sentiu-se segura em sua companhia. A nossa história ainda não terminou, e quem sabe um dia tenhamos uma tarde de ideias e uma outra noite ardente de amor. Agora você faz parte de minha história, e os primeiros capítulos já foram bem escritos, e a assinatura, o mesmo batom e ainda com certo frescor.

Ao terminar de ler, as luzes começaram a apagar e acender, a porta da cela bateu várias vezes, tudo se normalizou em alguns minutos, Ludus saiu do prédio atônito com o coração fora do compasso e pensando:

“Consegui enfim, fechar a time line, essa foi a maior experiência que tive na minha vida em todos os sentidos, foi como viajar em períodos históricos cheios de detalhes e o melhor de tudo, com um romance que ultrapassa a linha do tempo”.

Após alguns dias, no bar do Pereira, Ludus encontrou seu amigo, Amado: E aí, véio! Hoje quero saber os detalhes dessa sua brisa histórica. E ao longo de várias rodadas de cerveja, toda a história foi contada. Amado ficou fissurado nos acontecimentos e quando viu a agenda ficou pálido gaguejando, caramba! Você realmente conseguiu desvendar esse mistério. Ludus, após um breve gole, responde:

– Esse mistério não tem como solucionar, Efigênia pode estar em qualquer lugar e no tempo que ela quiser, quero apenas deixar tudo como deve ser, é sentido que em breve nos veremos, não sei como, mas vai acontecer.

Amado, ainda espantado pediu mais uma cerveja e foi atender uma ligação, e nesse instante, três garotas entram no bar, e uma delas com olhar fixo e profundo na agenda vai em direção a Ludus, toca em sua mão, senta a sua frente e começa a cantar a música daquela manhã: all my life, where have you been, i wonder if I’ll ever see you again.

Observação: É recomendável a leitura dos posts abaixo:

Um dia de realidades e amor

Rolês ideias e mistérios

Ducacroce.
Criador e editor,
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coisas mais.

Rolê, ideias e mistérios

“Tá bom, você não acredita, mas depois te explico o que rolou. Passado algum tempo, Ludus chegou em casa tomou banho e pegou no sono facilmente. Quando despertou, encontrou a mesma taça de vinho na cabeceira de sua cama e dentro dela uma frase: as vozes ecoam”

Em uma manhã ensolarada e agradável, após o término de uma corrida no parque, Ludus resolveu sentar à sombra de uma árvore, ainda sentindo os efeitos da atividade, ficou deitado na grama por um tempo deixando os raios de sol irradiar e energizar o seu corpo. Ao levantar observou muitos nomes decalcados no troco de uma árvore. Agora já desperto e recuperado, resolveu ligar o celular, esse que vibrou muitas vezes, e o levou a pensar: Nossa, quantas mensagens! O que está acontecendo? Quando visualizou eram todas de seu amigo Amado o convidando para “um rolê de ideias”, fazia muito tempo que não se viam. Ludus enviou a resposta confirmando por áudio (Amado fica pistola com áudio) era de proposito mesmo. Antes de sair do parque deu uma volta caminhando e lembrando de várias cenas de rolês com seu amigo e quem passava próximo se espantava em vê-lo rir sozinho com as “ondas nostálgicas”. Para aproveitar melhor o tempo, Ludus foi pontual como sempre ficou esperando no ponto de referência, e após alguns minutos ouve:

– E aí véio! Em seguida um forte abraço de pura amizade. Quanto tempo, hein? Ludus para apimentar logo de início comenta:

– Faz muitos anos, mesmo! Dá última você tinha mais cabelo (risos). Amado para não ficar por fora alfineta:

– É verdade, lembro que você era bem mais jovem.

Ambos riram e antes de seguirem, foram deixar Matilda (carro de Amado) no estacionamento, após algumas ideias na esquina resolveram entrar no estacionamento, e quando Ludus entrou no carro, Matilda toda animada lhe fala:

– Ludus! Quando tempo, você está ótimo. Vem a resposta:

– Obrigado Matilda, sempre generosa. É melhor não elogiar muito, se não o condutor ficará bravo. Ambos riram, e Amado pegando o ticket comenta:

– Fica enchendo a bola desse véio, depois tenho de aguentar ele na minha orelha.

Ludus:

– Te falei, Matilda, ele se faz de durão, mas é ciumento. Carro parado e vem a voz do condutor:

– Matilda, já teve seus segundos de atenção, agora vai descansar, até mais.

Ao saírem do estacionamento, viram uma grande movimentação de mulheres com bandeiras (protesto por igualdades e pelo fim da violência diária contra as mulheres). Ambos não deixaram de comentar: É, muitos acham que protestar é uma atitude de vagabundos,  comunistas, etc, mas não sabem que, as vozes nas ruas ecoam e nunca se calam. As mulheres merecem respeito o qual é de direito, e não por obrigação ou favor”.  Pegaram alguns adesivos e foram em direção ao Bar da Genoveva, muito conhecido por atender uma pluralidade de frequentadores nas noites intermináveis de São Paulo.

O local estava bem movimentado escolheram um lugar propicio para dialogar, pediram as cervejas e começaram as trocas de ideias. Ludus sempre com memória de elefante lembrava dos rolês aleatórios. Amado ria e entrava na onda, essa que logo acabou, e esse começou a falar dos momentos atuais:

– Te falar meu amigo, naquele dia que nos falamos, conheci uma garota muito especial, Madalena, mas ela está viajando fazendo palestras sobre a cultura negra entre outras exposições artísticas. Nos demos muito bem, estou aguardando o retorno dela, por isso nem estou saindo muito. Ludus prestando atenção aguarda o momento certo e entra na ideia:

– Do jeito que te conheço e está falando, parece que realmente está vidrado na onda de Madalena, faz bem um paixão, né? Quem sabe vira um namoro sério, não é mesmo? Amado dando um gole na cerveja responde:

–  Você estava indo bem, mas no final, vem com esse lance de namoro, não estou nessa, se bem que, com Mada eu fecharia geral. Ambos riram e fizeram um brinde.

Após, vem a intimação de Amado e você, conta aí, o que aconteceu esse tempo todo?

– Ludus: Amigo, longas histórias pra variar. Mas, como você sabe sempre entro pra valer, se não for assim, melhor nem ir. Estava em um relacionamento com a Sônia, deu certo algum tempo, depois nos perdemos e cada um seguiu seu caminho, e com o tempo senti que estava em uma relação tóxica. Amado interrompe:

– Por isso que gosto de trocar ideias contigo, você fala a real, eu também passei por um e sei o quanto é difícil de lhe dar com isso. Vem sempre a sensação de que estamos errados, isso dá uma confusão nos pensamentos. Ludus faz sinal de joinha e completa:

– A nossa amizade possibilita esse “trânsito de ideias”, é preciso ter coragem para falar sobre, sabemos que os homens sofrem calados muitas vezes, afinal existem muitas mulheres tóxicas que sabotam relacionamentos, e também é verdade, a maioria dos homens são tóxicos e violentos. E vem o complemento de Amado:

– Isso mesmo! Muitas mulheres causam e depois não sabem os motivos de não encontrarem alguém. Às vezes é preciso ficar de boas um tempo e refletir sobre as ações feitas ao longo de relacionamentos, isso clareia a mente. E também é verdade, muitos caras estragam muitas mulheres, principalmente esses tais “cidadãos do bem”. Ludus com a destra no queixo segue:

– Esses são os piores, bancam de bonzinhos, muitas vezes tem vida dupla, são violentos e sempre deixam traumas irreparáveis. Basta acompanhar as notícias diárias, a todo tempo uma mulher sofre algum tipo de violência, e esse tipo de perfil, é o que se encaixa na sociedade atual, totalmente retrograda banhada ao machismo patriarcal. O tal macho escroto está em alta nesses últimos tempos, parece não temer a nada, afinal a lei está sempre a seu alcance, lamentável e revoltante.

Entre cervejas e outras ideias mais, o tempo foi passando e Ludus cogitou algum outro lugar mais agitado, Amado rindo:

– O véio tá no gás!

Ludus, sorrindo:

– Relaxa, jovem, tá com medinho? Não fique, qualquer coisa a Matilda te leva em segurança para casa.

Ambos riram e seguiram para o local e no trajeto, alguns pedintes pararam Amado teve um que achou que ele era o Emicida, quase pediu autografo, após uns metros um sósia do Tim Maia fez uma canja e ganhou uma bela gorjeta. Ludus rindo:

– Tá famoso pela região, jovem.

Amado arrumando os óculos:

– Nem te conto, me sinto um “para-raios de pessoas” quando ando por aqui, e observo a região algum tempo está sendo dominada por prédios, e também é visível a quantidade maior de moradores de rua. Ludus concorda:

– Sim, percebi isso também, faz um tempo que não venho aqui, e muitos lugares que íamos fecharam. As noites alternativas de São Paulo estão sendo reduzidas, ainda bem que fomos em várias e temos histórias intermináveis. Amado concorda com olhar brilhante:

– Tá vendo aquele bar, foi ali que estive com Madalena. Ainda sinto como se fosse hoje a paixão nascendo e me consumindo.

Ludus observando o olhar do amigo:

– Sinto que a paixão realmente está contigo, Madalena te pegou de jeito, não negue, está comprovado em seu olhar.

Amado:

– Você tem toda razão, Mada mexe comigo, e o pior, ela sabe e está longe.

Como tudo muda rapidamente, gritos, barulhos de bombas de efeito moral, um corre, corre geral, cavalaria em peso e até tropa de choque, vieram dar um basta no protesto que até então estava pacifico, cenas fortes com prisões e muita agressividade por parte dos homens da lei.  Quando perceberam estavam em meio à confusão e o jeito foi correr para algum lugar nais seguro, e o que se via eram cenas de pura barbárie. Ludus pensando alto:

– Como podem tratar as pessoas dessa forma por apenas reivindicarem de seus direitos?

Uma participante que estava ao lado ouviu e lhe respondeu:

Enquanto tivermos uma sociedade opressora e machista, a luta será sempre assim, não há o que se fazer, recuar é se entregar. Nesse protesto tinha presença de muitas crianças e famílias, isso nos motiva a manter a voz ativa. E quem tem dúvidas em relação a forma a qual o governo se posiciona, devia se atentar mais a realidade e menos fakes, é preciso abrir os olhos, a tal moralidade corrompe e cega facilmente. As vozes ecoam!

 Ludus e Amado ficaram boquiabertos com o mini discurso, e logo ouviram: Meus nome é Efigênia, pensei que estivessem no protesto, estão usando os adesivos. Ambos se apresentam e Amado se pronuncia:

– Até queria, mas nesse não participei diretamente, por isso o adesivo. Sou totalmente contra esse governo atual e a forma como atacam as minorias, já várias brigas com muitos desses trouxas que apoiam.

Ludus, segue a ideia:

– Estranhamente como para muitos está tudo bem, e não está! Ser mulher hoje em dia é virar estatística, é andar com um alvo nas costas (para não dizer em outro lugar) é violência de todos os tipos, recente o caso do anestesista, totalmente desumano, vergonhoso uma desonra.  Sou a favor de protestos e para quem acha que não é válido, saiba que, a massa (povo) é a maioria e não quem a oprime, quando tivermos esses ideais em sincronia, talvez tenhamos uma sociedade mais justa.

Efigênia segurando uma bandeira ficou admirada com a lucidez da dupla e lançou um convite: Percebo que estamos engajados na mesma da luta, conheço um local muito agitado para trocarmos mais ideias, o que acham? A dupla gostou do convite e aceitou, caminharam por alguns minutos e dupla nunca tinha visto aquele agito na região. Não pegaram fila e nem passaram pelos seguranças, Efigênia era como uma sósia da casa.

Os dois estavam sentindo o ambiente, paredes com muitas fotos de protestos históricos, mini museu ao fundos e com o passar do tempo tudo ficava mais agitado e movimentado. Dirigiram-se ao segundo andar uma parte mais isolada e reiniciaram as ideias entre algumas cervejas.

Amado percebia que Efigênia estava de olho em Ludus e de fininho pediu licença, desceu as escadas ficou dançando e bebendo ao seu estilo. Efigênia e Ludus já estavam de acordo e já faziam valer os ideais de outras formas. A madrugada estava apenas iniciando, quando deram uma pausa, Ludus foi ver se encontrava Amado em algum canto, mas sem sucesso. Estranhamente estava um público bem diferente de quando chegaram pareciam alucinados, a decoração e iluminação estavam mais sombrias e um detalhe, a porta de entrada havia sumido.

Quando olhou para cima estava Efigênia com um sorriso enigmático segurando uma taça de vinho fazendo sinal com o dedo indicador, e soletrando: venha, venha. Ludus subiu as escadas receoso e quando se deu conta, já foi recepcionado com um beijo ardente, o qual o fez entrar em transe e apagar, despertou por volta das 12h do dia seguinte, o local estava com poucas pessoas e totalmente diferente.

Ao sair perguntou por Efigênia ao segurança, esse que franziu as sobrancelhas respondendo:

– Efigênia nos deixou há 10 anos, você tá bem?

Ludus perplexo, coloca as mãos na cabeça e responde:

– Não é possível!

Estranhamente quando atravessou a rua, o local simplesmente sumiu dando origem a um muro grafitado. De imediato ligou para Amado: E aí, cara! Você está bem? Sumiu do nada no rolê.

– E aí véio, se deu bem ontem no debate com a Efigênia, não perdeu a forma.

Amigo, nem te conto! Te explico melhor em um outro rolê, se não vai acreditar, o local que fomos não existe, nem mesmo Efigênia!

Amado:

– Se precisa dormir, já está tendo alucinações. Coisa da idade.

Tá bom, você não acredita, mas depois te explico o que rolou. Passado algum tempo, Ludus chegou em casa tomou banho e pegou no sono facilmente. Quando despertou, encontrou a mesma taça de vinho na cabeceira de sua cama e dentro dela uma frase: “as vozes ecoam”. Ao levantar da cama, pegou a taça e foi para a janela, assim que o raio de sol a atingiu no mesmo instante ela se desintegrou, um vento forte soprou e segundos após o despertador do celular pontualmente as 6h da manhã tocou, Ludus acordou banhado em suor, ficou deitado alguns minutos olhando para o teto refletindo, em seguida seu celular tocou:

– E aí véio, tudo certo pro rolê de hoje?

Ludus, gaguejando:

– Mas, mas, o lance foi ontem, uma doidera que ainda nem estou acreditando.

Amado rindo sem parar:

– Cara se tá doidão, esqueceu de beber seu remédio? Não nos vimos ontem. Volte a dormir e mais tarde nos encontramos. Abraço

Após a ligação, Ludus ficou estarrecido, deitou no chão fechou os olhos, relaxou um pouco e já não sabia mais o que vivenciara, e pensando consigo mesmo:

– Será que tudo aquilo foi real? Apenas um sonho? Quem sabe, tudo irá se repetir no próximo rolê? Mas, pode ser que, ainda nem aconteceu. Enfim, ficarei atento aos detalhes. Após uns instantes, levantou para tomar água, seu celular vibrou e uma solicitação de amizade chegou: Efigênia.

Ducacroce.
Criador e editor,
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Um dia de realidades e amor

“Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente”

Era uma manhã de primavera, e antes mesmo do café, Amado despertou dançante cantando em alto e bom som: “Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”, seu amigo felino Tim (abandonado em uma esquina dentro de uma caixa de papelão foi adotado por Amado, foi miado à primeira vista, hoje grandes amigos) olhava pensando: o que esse humano tem hoje? geralmente, não é assim. ­Amado, aos goles de um bom café forte e quente via vários filmes passar pelos desenhos dos azulejos, os quais refletiam muitas de suas histórias pela cidade de São Paulo. Em cada bairro, vila, quebrada e becos, um pouco de sua presença estava registrada. O aroma do café trazia a ele as variadas sensações das manhãs amorosas e das noites infinitas. Amado é um amante boêmio, a noite nunca acaba para ele.  Após tomar o seu café, dirigiu-se a garagem, e assim que desligou o alarme deu bom dia a sua amiga, Matilda (o seu carro) e tão breve um comentário:

– Tá animado hoje, pelo jeito a noite foi boa, em seguida vem a resposta sorridente:

  – Cada noite tem seus mistérios, eu apenas tento desvendá-los, porém, acabo fazendo parte dele. Matilda, devolve: Vejo que algum mistério te fez bem, esse seu andar saltitante não nega.

  – Tá bom, já falou muito, mania de querer saber de tudo da minha vida.

Após, ligou o rádio e coincidentemente tocava a mesma música que ele cantava ao despertar (september) colocou o cinto, ajustou os óculos escuros dizendo:

  – Esse mês será maravilhoso, preciso trocar umas ideias com um velho amigo Ludus se bem que, ele não é tão velho assim, ao menos é o que ele acha não ser. Matilda novamente:

  – Não querendo dizer, mas ele tá bem, ainda dá um caldo, saudades dele.

Colocou o celular no viva voz, e após o terceiro toque:

  – Fala meu Amado! A resposta de imediato:

  – Que seu o que, se liga, seu véio! E aí, tá por onde? Cadê os rolês? não te encontrei mais em nenhum. Ludus rindo responde:

  – Tá com uma voz boa, pelo jeito alguém invadiu seu coração.

De imediato, Matilda entra no diálogo:

  – Tá vendo, até seu amigo já percebeu, conta logo. Amado retruca olhando o retrovisor e responde:

  – Pronto! A minha vida agora virou um programa de fofoca matinal, é isso?

Gargalhadas na ligação:

– Logo pela manhã você todo animado assim, alguma coisa diferente realmente aconteceu, mas fique tranquilo, vamos marcar um “rolê de ideias” já faz um tempo que não nos vemos. Amado atento ao semáforo e no que acontecia aos redores concorda com seu amigo e comenta:   

– Cara, tá cada dia pior esses lados do centro, muita gente nas ruas, vejo miséria para todo lado e muitos acham que tá tudo bem, enquanto não tivermos ações sociais nada mudará.

 – Povo tem memória curta, infelizmente. Anos atrás a realidade era mais palpável, acesso ao básico ao menos, e hoje, isso é uma utopia bem distante, tempos sombrios de muitas injustiças e miséria. Se manifestou Ludus. Matilda na dela comenta:

 -Podiam se candidatar, votaria em vocês facilmente.

Os três riram em sincronia, Ludus completou:

 – Quem sabe? Amado já finalizando o papo:

 – Vou desligar, você fala muito, guarda para quando nos vermos, já próximo ao destino traçado despede-se de seu amigo. Antes Ludus manda a real:

 – Você continua um chatão classe A!

 – Disso ele tem razão! diz Matilda. Amado, curto e grosso:

 – Calem a boca, tchau!

Agora focado no destino principal, Amado pede a Matilda que sintonize alguma rádio para que fique por dentro das notícias do dia. E logo na primeira frequência captada veio a informação: A partir de amanhã, os combustíveis terão mais um reajuste. O clima mudou dentro do carro, e Matilda para tentar acalmar o condutor argumenta:

 – Ainda bem que, sou simpática e econômica.  – O que esse cara tá fazendo com nosso país? Imagina pra quanto irá um botijão de gás? tempos atrás custava R$35,00 e hoje, para mais de R$100,00 qual pai de família que aguenta  ganhando um salário mínimo de miséria? Cada dia um golpe no bolso do trabalhador, e para muitos tá tudo bem, pobre voltou a ser apenas uma estatística, revoltante. Respondeu Amado, com um sorriso nervoso.


Mais calmo, Amado chegou próximo a galeria de artes a qual foi convidado a participar de uma exposição sobre a cultura negra e sua influência ao longo da história. Assim que se aproximou de um estacionamento ouviu:

 – E aí, negão, vai deixar essa nave aqui?

Segurando o volante com firmeza e respirando fundo, Amado preferiu apenas pensar consigo:

Não vou perder a paciência! E assim, seguiu para um outro espaço a poucos metros de distância e observou pelo retrovisor um corre, corre. Eram policiais atrás de um ambulante, esse que foi derrubado ao lado de sua porta, levando golpes violentos por todo corpo, ele apenas estava vendendo água, mas de certa forma ofendia a autoridade dos impiedosos policiais.

Amado não se conteve, baixou o vidro e argumentou:

 -Pra que tanta violência? É um trabalhador! Vocês deviam proteger ele.

Clima ficou nebuloso, e o público se revoltou com a cena e se inflamou com as palavras ouvidas. Um dos polícias para “impor autoridade” sacou a arma e apontando a Amado disse rispidamente:

 – É melhor você ficar na sua.

 – Amado prosseguiu: Você não precisa apontar arma pra mim, o seu dever é de proteger, esse é o seu trabalho. E logo veio a resposta:

 – O meu trabalho é acabar com pessoas de sua classe, a mesma desse lixo do chão, você não merecem proteção alguma!

Após essa fala, foi como jogar mais gasolina na fogueira, e de imediato, os policiais foram engolidos pela multidão e um princípio de linchamento foi iniciado, a sorte é que vieram reforços jogando bombas de gás de efeito moral. Amado, subiu o vidro do carro, estacionou em uma esquina e por um tempo reflexivo: “O que esperar de uma polícia militarizada? Ganham uma miséria, são pobres como o vendedor de água e se acham acima da lei. Não possuem preparo algum para dialogar com ninguém, e o pior, tá cada vez mais forte essa onda racista, até quando? Hoje escapei por pouco, mas sei que muitos não terão essa mesma sorte, hoje foi no limite”.

Mais adiante, encontrou um estacionamento o qual achou mais seguro, e quando estava subindo as escadas da galeria de artes em direção ao elevador uma voz macia fez sinfonia aos seus ouvidos:

 – Por favor, segura! também vou subir.

Amado todo atencioso com olhar fixo, pergunta:

 – Qual andar?

 – No vigésimo farei uma palestra sobre a cultura negra.

 – Que coincidência, fui convidado será um prazer acompanhar.

E já de imediato ele pergunta:

 – Por gentileza, qual o seu nome?

Ela se apresenta fixando o olhar.

 – Prazer, me chamo Madalena, e você?

 – Ele já todo elétrico: Amando, quero dizer, Amado.

Ela sorriu dizendo:

 – Nome peculiar, gostei.

 – Era você que estava no meio daquela confusão na outra quadra? O que aconteceu? Perguntou ela curiosa. Amado resumiu a história, e ambos concordaram sobre a truculência e abusos da polícia militar nas abordagens diárias. Chegaram ao vigésimo andar, ele foi para a plateia desejando boa sorte, ela o agradeceu dizendo:

– Fique até o final, gosta de ipa?

 Amado:

– Claro que sim, minha preferida.

A resposta:

– Que ótimo!

Ao longo da palestra era visível o olhar de Madalena em direção a Amado, esse que sentia o clima em cada gesto vindo do palco. Ao término da palestra já com o auditório quase vazio, ele a esperava ansioso observando o andar dela em sua direção, seguiram para o elevador, ele todo elogio em relação a apresentação, quando no décimo segundo andar o elevador parou. Madalena ficou assustada, pois sofre de claustrofobia, Amado sentindo o clima a abraçou passando tranquilidade e pedindo para respirar lentamente, ela o atendeu mantendo-se calma, e por sorte o elevador voltou a funcionar após alguns minutos.

Momento de tensão, mas que renderam pontos positivos a Amado, pois Madalena sentiu-se segura na sua abordagem autêntica e carinhosa. Chegaram ao saguão e decidiram ir até a Rua Augusta foi uma decisão simultânea, ambos apreciam a região, local com variadas opções para todos os gostos.

Eles foram para o carro, Amado deu a partida, Matilda deu boa noite a Madalena e após comentou:

– Vejo que voltou diferente, também com uma companhia dessa.

– Nossa que loucura essa sua interação com seu carro! Disse Madalena as gargalhadas.

– Sou mais que um carro! Respondeu Matilda.

Amado segurando riso comenta:

– Fique à vontade Madalena, Matilda é amiga, só às vezes que começa a falar muito eu a desligo.

Duas quadras antes de chegarem ao local escolhido, pararam em um semáforo e um circense fazendo malabarismo com fogo parou de frente a Matilda. Madalena comenta:

 -Os artistas podiam ter mais espaços e oportunidades em nosso país, lamentável como essa classe também sofre com leis que diminuem cada vez mais as chances de mostrarem o seu talento

Amado, batendo os polegares no volante dá sequência a ideia:

 – Pra piorar, tem uma ala artística que apoia tudo que tá acontecendo, mas ganham muito dinheiro por fazerem esse papel ridículo, dando voz a quem nunca nada fez pela cultura. Madalena baixou o vidro e contribuiu com o artista, esse que agradeceu soltando piruetas.

Encontraram um estacionamento próximo ao bar escolhido, esse que estava com uma boa movimentação, preferiram ficar ao ar livre, pediram as ipas, entre brindes e ideias a noite foi se transformando e o clima era iminente de paixão, ambos se comunicavam de todas as formas. Como tudo conspira a favor do amor, um garoto passou vendendo rosas, parou próximo a mesa parafraseando um poema:

“Não há como explicar, nem descrever, há de acontecer agora, ou depois, nunca se sabe, mas, quando acontecer, não resista, não teime, não se afugente, não se desespere, não evite, apenas respire, deixe-se sentir e vibrar, é o amor que chegou para ficar”.

Logo veio a abordagem:

 – Boa noite, por favor, podem me ajudar? Estou tentando melhorar a renda mensal, não está fácil voltar ao mercado de trabalho. Vejo que formam um lindo casal.

Amado, só esperava por um fio para dar um passo à frente, e assim fez:

 – Sim, sim! Somos namorados!

Madalena ainda baqueada pelo verso, ficou sem ação ao ouvir e logo soltou um sorriso dizendo:

 – Ligeiro você, depois quero saber mais desse namoro. Lançando uma piscadinha com o olho esquerdo.

O garoto já sentindo que se deu bem na venda aproximou mais de Amado, esse que fala:

 – Você apareceu na hora certa, quero aquela ali, tá bem bonita.

Após levantou e entregou para Madalena, os outros casais próximos ficaram olhando invejados a cena.

Desejaram boas vendas ao garoto e também que conseguisse o emprego almejado, afinal cada dia tá maior a porcentagem de desempregados, só cresce, mas a mídia maquia dizendo que está tudo bem. Pediram a conta, e Madalena autêntica se impõe:

 – Meio a meio e sem discussão, por favor!

Dividiram a conta, e agora já não precisavam dizer mais nada, a noite prometia seguir na temperatura das trocas de olhares. E assim, embarcaram para um esconderijo onde todas as ideias foram despidas literalmente à vontade. Madalena sentia-se desejada, Amado todo atenção e disposição, a madrugada foi pouca para tanto amor que se reiniciava nas fagulhas dos olhares e quando dos corpos rentes, tudo era quente, ardente e prazeroso. Acordaram olhando para o teto, estavam entrelaçados como cordas, risos antes do bom dia e surgem “as vozes dos estomagos”: partiu, café?

Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente.

Amado deu uma carona para Madalena que residia na zona norte, ao longo do trajeto a música de fundo era de Tim Maia: “Primavera”.

Amado cantava sorridente, sinônimo de pura felicidade. Matilda não deixou passar em branco:

– Que clima é esse? Não precisam falar, fato do humor de Amado estar bom já me deixa feliz.  

Madalena só sorrisos responde:

– Ele foi bem cuidado.

Amado entra no papo:

 – Programa de fofoca logo cedo, já vejo que estão se dando bem, mas hoje pode!

Os três caíram em gargalhadas.

Chegaram ao destino traçado, antes de descer trocaram contatos, não teve foto, apenas beijos, abraços, trocas de gentilezas mútuas e no ar um clima de quero mais. Amado exalava alegria no retorno para sua casa, e por coincidência começou a tocar a música “September”

Amado aos pulmões solta a voz:

“Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”.

Chegando em sua casa, sentou-se em sua poltrona, ouviu o seu amigo felino Tim miar pedindo ração nova, antes ficou perdido em pensamentos de tudo que tinha vivenciado, isso o deixava em um contentamento único. Levantou-se, pegou a comida e serviu Tim que miava agradecendo. Ligou o celular, entrou no app de mensagens, abriu o contato de Madalena, um emoji de “coração” estourava a tela e um “muito obrigada”.

Agora conectados, aguardando apenas o próximo date. O seu despertar já revelava que tudo podia acontecer. Amado foi até a janela ainda não sabendo se era um sonho ou realidade, mas a certeza de que, a felicidade estava pulsante a cada movimento e pensamento, com isso, certeza de muitas outras histórias a serem vivenciadas, afinal ainda era início de setembro. 

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
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