Apenas um momento 3

“Quem permanece junto ao longo de tribulações, é de fato, merecedor de vivenciar do melhor após. E no pendular de cada instante, tudo ganha novos traços e sentidos, antes em pensamentos invisíveis, e agora concretizados. E assim, Sofia consegue visualizar a sua trajetória em uma nova etapa de sua vida” 

Para um melhor acompanhamento, indico a você a leitura dos posts anteriores: 

Apenas alguns momentos

Apenas alguns momentos 2

E quando na cozinha o mousse de limão foi espalhado no corpo de Sofia que estava sob a mesa, esse consumido centímetro por centímetro, e o creme de chocolate no corpo de Rael que fervia e Sofia se servia fartamente em ebulição. Uma noite intensa de muito amor, essa quebrada ao canto do galo Tião, o casal despertou na cama, mas sem noção alguma de onde estavam, apenas a sensação de que tudo foi consumado das melhores formas possíveis, e quando olharam para o “pé da cama” lá estavam Raul e Rita os observando em silêncio.

Nada melhor que um despertar com a luz do sol refletindo nas paredes, e nos rostos a estampa a espera foi válida. A noite de amor consumada irradiava não apenas o quarto, mas inundava todo o ambiente que suspirava amor, e se tempos atrás tudo era apenas pessimismo obscuro o agora trazia sensações nunca sentidas e essas faziam Sofia e Rael se renderem totalmente nessa nova onda apaixonante.

Aos miados da dupla miau-miau, o casal ficou rindo olhando para o teto e quando do encontro dos olhares as melhores sensações matinais e o clima só foi interrompido com os roncos de fome. Rael prontamente foi até a cozinha preparar o café da manhã, Raul o seguiu miando, Rita se aproximou de Sofia ronronando como querendo saber o que ela estava sentindo, deitou em seus braço e ficou olhando com olhar brilhoso como transmitindo também felicidade por sua amiga. O café estava bem caprichado e foi servido na cama, Sofia era só inundação de amor, a manhã foi passando e quando foram se despedir, Rael tentou dizer algo e Sofia com o indicador esquerdo alcançou seus lábios dizendo: – Não diga nada! Deixe acontecer como estamos fazendo, não fique preocupado, em seguida nas pontas dos pés um beijo profundo e demorado. Rael, se queria dizer algo, nem sabia mais, mas sentia que era mútuo o sentimento. Quando voltou para dentro de casa pegou o telefone e ligou para Val conversaram horas a fio, a amiga sentia a total alegria do outro lado da linha e prontamente lançou um convite para se reencontrarem e também comemorarem esse novo momento. A ligação foi interrompida porque Raul derrubou o abajur sobre a extensão telefônica, e após ficou olhando com cara de paisagem para Sofia.

A rotina se mantinha como sempre faziam, às vezes Rael deixava cartas a punho na caixa de correio de Sofia, ele também era correspondido da mesma forma, os encontros ficaram mais constantes e não tão ocasionais, e quando assim, não perdiam tempo. Foram ao bar sinuca o qual Val escolheu para o encontro, era um local bem descolado e movimentado e quem quisesse aprender a arte de jogar sinuca (bilhar) era só chegar. As amigas ficaram à mesa, Rael foi buscar as bebidas e as fichas e por coincidência encontrou um amigo de longa data, Lucca. Val com “olhar de luneta” de imediato cutucou a amiga babando:

– Quem é aquele gato com o Rael? Sofia responde rindo, calma amiga parece que levou uma flechada: Eu não sei quem é ele, mas vamos descobrir. Os amigos ficaram conversando por uns minutos próximos ao balcão. Lucca era um cara animado, gostava de falar de tudo um pouco, marasmo não era com ele e tinha sempre uma boa história pra contar. A cada passo que davam em direção à mesa Val sentia variados efeitos e quando se olharam as inevitáveis fagulhas saltavam nos olhares:

– Prazer, Lucca! A moça tremula e gaguejando responde:

– Sou, sou, sou, meu nome é Valéria, prazer todo meu.  Rael e Sofia eram testemunhas de um momento único e também totalmente ocasional, brindaram a esse encontro o qual já dava pinta de que ia ser pra valer. Após algumas rodadas de cervejas e muitas conversas resolveram jogar sinuca, fizeram casal contra casal, se bem que não passaram da primeira ficha, Val e Lucca interromperam o jogo com um beijo que fez o bar parar e as pessoas das mesas baterem palmas. Sofia sorridente, comenta:

– Amiga fazia um tempão que não a via assim, se deu bem mesma! Hoje tem jogo completo com prorrogação e penalidades. A noite seguia com os casais que se despediam com um clima muito leve e conspirador principalmente aos recém-apresentados “pensamentos invisíveis” que eram traduzidos a cada beijo. Cada qual seu seu destino, Val e Lucca chegaram primeiro, antes de consumar a noite beberam uma garrafa de vinho e deixaram tudo que era invisível em pensamentos concretizar em cada toque e movimento, ambos se saciaram como nunca e disposição a cada reinício, sentiam-se parte um do outro e o jogo só reiniciava a cada segundo.

Enquanto isso no outro bairro, Rael como sempre astuto, encostou o carro em frente a sua casa, pediu para Sofia vendar os olhos e confiar nos passos dele dizendo: Como ficamos mais em sua casa, hoje será diferente, serei o anfitrião. Sofia em passos de formiga segurava no braço de Rael, entraram e caminharam até a área externa da casa, e vem o aviso: Vou tirar a venda, mas mantenha os olhos fechados, contou até três, e quando abriu os olhos ficou encantada! Todo espaço do jardim estava enfeitado com luzes e dentro da estufa de flores uma mesa preparada para que a noite tivesse um toque diferente e especial. Sofia irradiante de paixão abraçou Rael dizendo com um olhar profundo: Vai ter troco! Em seguida um beijo demorado, o anfitrião serviu Sofia que parecia estar vivendo um conto, mas sabia que tudo era real e no ritmo que ela jamais pensava em acontecer. Inevitável não lembrarem do casal de amigos que se deram bem, afinal, foram de certa foram os “cupidos da noite”.

Mas de verdade, não queriam mais falar de ninguém, porque o clima já era de pura fervura e as labaredas surgiam a cada olhar, a mesa serviu de cama e todas as flores “faziam fotossíntese de paixão” eram provas de como o amor verdadeiro se conecta de forma diferente, por instinto, na respiração, no olhar, no beijo, no cheiro dos corpos, sem encenação e sim, toques de amor. Despertaram no vai e vem da rede aos cantos do galo Tião que novamente dava bom dia. O sol fazia companhia ambos sorriam e corriam nus quintal florido, quando entraram na cozinha, antes do café quebraram o jejum se amando novamente.

Algum tempo passou, e a vontade de ambos foi crescendo e decidiram morar juntos, porém, realizando um desejo de Sofia, morar em um casarão no final da rua, esse era um sonho, pois essa residência pertencia a sua vó materna, Dona Antonieta. E assim aconteceu, venderam as casas e em seguida compraram o imóvel, esse que atraia atenção de todos que passavam em frente, sem dizer do espaço interior e no quintal com variedades de flores, tinha até mesmo um chafariz de querubim em torno um jardim suspenso imenso. Sofia tinha muitas lembranças de sua infância nesse local, a forma como sua vó a tratava, as brincadeiras com os primos(as). Até mesmo o balanço que era disputado a época foi preservado, Sofia fazia uso dele contando as histórias com ricos detalhes a Rael ao ritmo do balanço, e ele se sentia parte dos enredos.

E agora, os pets também estavam juntos, alias sempre aprontando alguma, não estranharam o novo espaço, Lennon vivia cavando pelo quintal e escondendo seus brinquedos, Rita e Raul brincavam nos galhos das arvores tentando pegar os pássaros, mas nunca conseguiam. Após alguns dias, receberam a visita de Val e Lucca, vieram convidar Sofia e Rael para serem padrinhos de casamento o convite foi aceito de imediato.

Passados alguns dias, Sofia foi a clínica levar uns exames rotineiros feitos semanas antes, conforme a sua médica fazia a análise, um clima estranho pairava, e assim, Sofia infelizmente foi diagnosticada com uma doença rara e uma cirurgia iminente tinha de ser realizada. Sofia perdeu o chão na hora, e um turbilhão de pensamentos passava em sua mente, ao chegar em casa em prantos ficou no quarto escuro até os pets perceberam que ela não estava bem. Quando Rael chegou e sentiu um clima diferente, chamou por Sofia que lhe respondeu:

– Estou no quarto, meu amor! Rael subiu as escadas com pressa e pensativo, ao abrir a porta foi surpreendido com um forte abraço de Sofia que chorava. Ele a acalmou, sentaram-se um olhando para o outro e então Sofia explicou o ocorrido, Rael calmamente segurou as mãos da amada e lhe disse:

– Estarei contigo em todas as ocasiões, vamos passar por essa juntos! Não irei soltar as suas mãos! Vamos superar esse obstáculo, pois temos muito a construir e concretizar, e aquele balanço será brinquedo de nossos filhos(as). Você não estará sozinha, jamais! Ela já emocionada comenta:

– Fui presenteada com um homem raro! Muitos outros iriam arrumar uma desculpa e sumir do nada, com total normalidade, e com você, já me sentia segura desde que te beijei pela primeira vez, e em teus braços a segurança que tanto buscava. Após, ambos se beijaram chorando era sentida a comunhão verdadeira tomando conta do quarto. Os exames pré operatório foram feitos rapidamente, e a cirurgia marcada. Sofia sentia-se muito segura pelo apoio total de Rael que incansavelmente a mantinha sempre otimista. Na noite anterior a cirurgia conversaram sobre tudo até mesmo papo sobre filhos(as) riam iguais crianças e também sobre oficializar o casamento. Sofia era pura empolgação, em pensamentos expressava o desenho do vestido de noiva, o local da festa, convites apenas para amigos próximos, o bolo confeitado nos detalhes e tão breve pegou no sono devido a medicação.

O despertar foi leve, sensação agradável, os pets vieram dar bom dia entre miados e latidos de boa sorte, Rita subiu no colo de Sofia ronronando como passando energias positivas. Ao longo do caminho para o hospital, o clima era de puro romance e descontração no carro, os dois estavam sintonizados e até mesmo cantaram algumas músicas rindo como dois adolescentes: Crowded House- Don’t Dream It’s Over, When In Rome – The Promise, INXS – By My Side, Ric Ocasek – Emotion In Motion, entre outras.

Chegaram ao hospital e a equipe médica já estava preparada, se despediram com aquele olhar fervente e um até logo pairava, era uma energia tão contagiante que a equipe também foi irradiada. Momento de tensão, e após alguns minutos um corre, corre em direção a sala de cirurgia, Rael ficou aflito, as enfermeiras o acalmaram. Porém, Sofia sofria uma complicação cardiorrespiratória, e por algum tempo desconectou-se do mundo e passou a vagar por outros, até que encontrou a sua vó Antonieta no balanço da entrada do casarão e com uma voz doce chamou por sua neta:

– Sofi, Sofi, venha aqui, minha neta amada, não tenha medo! Fiquei feliz que estão morando no casarão, ele voltou a ser um lar alegre como era antes. Lembro de quando você era criança e vivia correndo em torno do jardim, do bolo de chocolate que você adorava, de quando tinha febre eu fazia chá, das historinhas que contava pra você dormir e sua alegria ao amanhecer sempre revigorada. Mesmo daqui, te observo, só queria mesmo uns instantes a mais de sua presença e a tive, e por falar nisso, você tem de voltar, essa não é a sua hora, a sua vida será longa e de muitos momentos felizes, aliás, o querubim vai te entregar o que tanto sonha, aproveite cada instante. Para Sofia, parecia ser uma eternidade aquele momento, mas durou apenas alguns segundos, e os batimentos cardíacos voltaram ao normal.

O processo cirúrgico foi realizado com sucesso, Sofia teve uma recuperação muito positiva reagindo bem aos tratamentos que exigiam muito de seu físico e psicológico. Rael estava presente em cada momento e isso só facilitava a busca da cura. Após alguns meses, longe de qualquer risco, Sofia passou a sentir enjoos, e foi então que descobriu que estava gravida, e para deixar o clima diferente, preparou uma surpresa a Rael, lembra que ela disse que ia dar o troco? Saíram para jantar, e quando foi servida a sobremesa abaixo do prato um envelope chamou a atenção de Rael, curioso o abriu de imediato, ao ler foi como se tivesse decolado em um foguete, ficou em órbita já banhado de lagrimas, Sofia era só emoção com o coração a mil, dizendo:

– Te avisei que iria ter troco! Rael caminhava a passos de nuvens em direção a Sofia, se ajoelhou em frente a amada e em seguida, beijou carinhosamente a sua barriga e todos presentes eram aplausos. Partiram para casa já na escolha de nomes, mas eram tantos que deixaram para o outro dia, e nessa mesma manhã, Rael pede a Sofia para ajudar a limpar o querubim, quando ela chegou próxima viu algo diferente na asa esquerda e foi quando ela percebeu um reflexo, e ao chegar próxima já estava emocionada, sim, era aliança, e ao fundo a voz de Rael, recitando versos em forma de pedido de casamento, os primeiros convidados foram os pets que estavam com trajes e até que bem comportados. O jardim exalava todo o clima diferente irradiado de puro amor e felicidade, a água do chafariz refletia um arco-íris, e a cadeira de balanço se movia como dando um sinal positivo e Sofia dizendo a si mesma:

– Bem que você falou, vó! E de imediato o balanço parou e os galhos das árvores balançavam ao ritmo do vento repentino. Rael sem entender nada perguntou a Sofia, ela disse: é uma longa viagem meu amor, depois te conto. Durante uns dias planejaram todo o casamento, o casarão escolhido como local, o vestido de noiva tão desejado foi confeccionado, Val e Lucca escolhidos também para serem padrinhos. Dias antes da data, uma visita à clínica para uma ressonância e tudo novamente muda, Sofia estava grávida de gêmeos, era um casal. Agora a família estava maior e o casarão teria novamente aqueles dias que marcaram a vida da atual mamãe.

O dia da cerimonia fazia uma tarde agradável, o sol presente acompanhado de algumas nuvens que se movimentavam com uma brisa fresca. O jardim estava impecável, assim como a decoração de todo casarão era uma perfeição nos detalhes. Os noivos se apresentaram próximos ao chafariz do querubim a cerimônia foi rápida e objetiva, e assim, no momento declarados oficialmente casados e quando do beijo pra selar o matrimônio, um forte esguicho vindo da flecha do querubim molhou os noivos que riam, pois sabiam que dessa vez a união era real e o sonho estava realizado.

Os dias foram passando e a barriga de Sofia crescia, e foi quando da rápida viagem de lua de mel escolheram alguns nomes e esses foram separados para um sorteio. Sentaram-se no balanço da vó Antonieta, primeiro veio uma caixa com nomes femininos, fecharam os olhos mexerem juntos as etiquetas e pegaram a mesma, e quando abriram os olhos, Eloah foi o nome escolhido. Então, fizeram o mesmo ritual para a escolha do nome masculino, pegaram a mesma etiqueta dentro da caixa e essa com o nome de Noah, e do nada o balanço ganhou movimento pendular, e o casal no embalo se beijava.

Os meses foram passando e os gêmeos nasceram saudáveis, deram um novo ar ao casarão que logo depois passou a ser frequentado pelos filhos de Valéria e Lucca. As tarefas diárias mudaram bastante, Rael estava sempre em atividade e Sofia ficava admirada com a total dedicação do papai coruja. Algum tempo depois em um belo final de tarde com a luz do sol se pondo, Sofia acendeu um incenso e silenciou-se em pensamentos profundos e lembrava de todas as fases de sua vida e agradecia, afinal, tudo é apenas um momento e de cada um algo deve ser levado como aprendizado. Cada instante passa muito rápido e logo se torna apenas vagas lembranças de “frações de resumos”, é claro, se tiver alguém que queira compartilhar de fato essa travessia tudo passa a ter um sentido diferente, e isso, tem a ver diretamente com o amor, e esse é paciente, reciproco, acolhedor, eleva e não machuca, apenas faz querer vivenciar a vida de forma única. Ao fundo uma voz ganhava mais volume era Rael chamando:

– Amor, a cerimônia vai começar, não vai se atrasar para o casamento de nossa filha.

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais

No embarque das artes

As artes causam um efeito o qual jamais saberemos da profundidade que acessamos através delas, muito além de um simples olhar, vai do navegar, mergulhar em seus mistérios em formas de pinceladas misteriosas, as quais, cada um cria o seu tempo, espaço gerando um mundo de ideias e personagens que vagam além de percepções e pensamentos

Era apenas mais um dia comum para Jonh, e de habito estava em seu recinto favorito, Café Retrô uma mistura de livraria, com exposições, cinema, teatro, stand up e muita cultura envolvida. Sentado no mesmo lugar, tomava seu café preferido apreciando um livro que já tinha sido lido algumas vezes, mas gostava de rever a trama a qual mudava nas releituras. Em certa ocasião, uma simpática mulher de andar elegante sentou de frente a Jonh, ela o olhava apreensiva queria de alguma forma  atrair a sua atenção, pois percebia a forma devota a qual consumia o café, e os olhos pensantes e frenéticos que devoravam cada palavra do livro. Em um “respiro para a visão”, Jonh percebeu que estava sendo observado e quando do encontro dos olhares, espontaneamente veio o sorriso de boas-vindas, a mulher então ergueu a xícara de café como fazendo gesto de brinde, e desse momento em diante toda a história começa a ter um enredo diferente, assim como o analisar de uma arte, nunca sabemos de fato o que iremos sentir e vivenciar.

Ao levantar para apreciar um quadro que estava em exposição, ele aproveitou a oportunidade e se apresentou para então mulher que agora não era mais uma visão.

– Prazer, meu nome é Jonh, você já esteve aqui antes? Mesmo sentindo um pouco de nervosismo conseguiu a aproximação que queria. Com olhar fixo, a mulher o respondeu:

– Prazer Jonh, meu nome é Cindy, estou aqui pela primeira vez e gostei muito do ambiente é agradável, pulsa e respira cultura. Apertando o livro com mais força, Jonh se mentém na ofensiva para quebrar mais o gelo:

– Gostou é, que ótimo, fico muito feliz! Aqui é o meu lugar preferido, venha irei te apresentar os outros andares. E assim, seguiram por horas com variadas xícaras de café, comentando as artes, compartilhando histórias, e o que mais atraia atenção eram os risos a todo tempo.

Quando repentinamente, Cindy avisa, está tudo ótimo, mas tenho de ir, anota meu telefone. Jonh foi pego de surpresa, saiu como foguete atrás de uma caneta, essa que falhou quando foi escrever e apenas o decalque dos números foram registrados na contra capa do livro. Cindy, antes de partir o encarou avisando: não esquece de me ligar mais tarde, em seguida lhe deu um beijo na testa e uma piscadinha com olho esquerdo. Antes mesmo de tentar dizer alguma coisa, ela já tinha sumido da visão e a ansiedade já estava pulsante em John que ficou próximo ao quadro, O Grito – de Edvard Munch, pediu mais um café e passou a apreciar a pintura com profundeza.

O retorno para a sua casa foi via metrô, em cada estação uma forma de tentar desvendar o que acontecera horas atrás no café, quanto mais pensava mais confuso ficava, e assim que chegou em casa, pegou um lápis e passou por cima do decalque do contato e deu um grito de alegria: Consegui! Consegui! Tirou os sapatos, pegou o telefone com extensão, deitou no sofá e discou o número, a cada som da discagem uma batida diferente o fazia sentir mais adrenalina. Quando no terceiro toque uma voz feminina:

– Alô, quem fala?

– Aqui é o Jonh, quero falar com a Cindy?

– Só um segundo, irei chamá-la!

– Alô, Jonh é você?

– Sim, sim! Liguei para agradecer a companhia de hoje, quero saber se podemos nos encontrar mais tarde? Após alguns segundos foi ouvido ao fundo, depois não fale que não te avisei, Cindy responde:

– É, podemos, sim! Anota meu endereço, por aqui tem algumas opções que você irá curtir. Jonh no outro lado da linha dava socos no ar de alegria respondendo:

– Maravilha! Tá, por favor, pode falar o endereço. Despediram-se, e o clima ficou no ar, mas com certo mistério, afinal o que aquela frase no intervalo da ligação queria dizer? Em seguida, para não se atrasar, Jonh ligou a sua Jukebox que começou a tocar uma música da banda (Depeche Mode – Strange Love), e nesse ritmo foi para banho cantando e fazendo passinhos. Fez a barba, escolheu uma roupa descolada e para evitar qualquer transtorno preferiu pegar um taxi, afinal iria para região do centro. Após três táxis passarem batidos, um atendeu o seu sinal, ao entrar no carro flagrou o taxista cantando todo animado uma música que estava tocando na rádio (Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover). Recebeu boa noite do simpático taxista e tão logo começou a puxar papo com Jonh, pois percebia o passageiro bem empolgado. O motorista agitando a cabeça ainda ao embalo da música, olha pelo retrovisor e quebra o silêncio:

– Boa noite, amigo! Meu nome é Vitor e o seu? Vejo que está bem animado, a noite promete, hein.

– Vitor, boa noite, meu nome é Jonh. Sim, estou bem animado para o encontro, algo me diz que será inesquecível. O taxista com sorriso aberto responde:

– É, ir a essa hora para os lados do centro, tenho de admitir, você é bem corajoso, por essas regiões muitas coisas realmente podem acontecer, faça valer, mas fique esperto nos detalhes! A corrida chegou ao final, Jonh desceu do táxi pensativo nos recados recebidos, agradeceu a Vitor, que já estava cantando outra música (The Police – Message In A Bottle).

Andou alguns metros e encontrou o endereço do apartamento, esse que fazia parte de um espaço que tinha uma loja de vinil abaixo e um cinema ao lado. Quando tocou o interfone foi atendido por Deby, amiga de Cindy e de imediato destravou a porta para que ele subisse, preferiu pegar elevador, quando esse chegou, um grupo de new wave saiu o encarando dizendo: esse cara é um careta! Chegou ao 13º andar e ao sair ouvia o som bem alto da banda (The Cure – In Between Days) e logo sacou: esse som só pode ser do apartamento de Cindy.

O apartamento de número 1313, Jonh apertou a campainha e foi atendido por Deby, vestida de gótica segurando uma taça de vinho e sua amiga felina Dorothy uma bolinha de pelos preta e branco miando:

– Entre, fique à vontade, Cindy logo virá, aceita uma taça de vinho? Ainda receptando as energias do local, Jonh aceitou a bebida e Dorothy ficou trançando em suas pernas querendo atenção. O apartamento todo decorado com posters de Bandas de Rock, Pop Art, instrumentos e algumas pinturas espalhadas pelas paredes. Ao beber o vinho começou a andar pelos espaços absorvendo todas as informações do ambiente. Foi quando do nada uma porta se abriu e Cindy colocando os brincos saiu repentinamente quase derrubando a taça de vinho:

– Nossa que desatrada! Me desculpe, Jonh! Quase sujei a sua roupa, aliás você está muito elegante. Após quase tomar um banho de vinho, sorrindo ele responde:

– Não se preocupe, não foi nada. Por falar nisso, você está linda! Ela se aproximou, pegou a taça de vinho, deu um pequeno gole e após um leve beijo em Jonh dizendo:

– Você ainda não viu nada! E novamente uma piscadinha com o olho esquerdo, andando em direção a um quadro de Pop Art cheio de artistas da música, cinema e outros segmentos culturais comentando:

– Esses são os meus heróis! Cada um tem um pouco de minha vida, em seguida um sorriso estranho e ao mesmo tempo contente, isso deixou Jonh reflexivo:

– Pelo seu sorriso, vejo que realmente tem uma conexão forte com esses artistas, não é mesmo? Isso dando um gole no vinho e esperando a resposta e ela veio:

– Vocé é muito observador, por isso é um exímio apreciador de artes, certamente logo mais irá entender melhor essa conexão. Um clima de suspense tomou conta da sala, até que a voz de Deby quebrou esse momento:

– Ei, estou saindo, vou à festa Gótica, caso queiram ir, é só dizer o meu nome na entrada, e quando forem sair, não esqueçam de fechar a porta e deixar a ração e água para a Dorothy, em seguida miados da felina agradecendo. Ambos responderam juntos:

– Não esqueceremos, boa festa!

O som ficou ligado e uma música acabou fazendo o clima mudar (Echo & The Bunnymen – The Killing Moon) em sincronia, deram um gole final nas taças de vinho e partiram para os beijos e abraços acalorados, Dorothy mexeu seus bigodinhos e sumiu, e a cena foi esquentando até que o telefone tocou. Cindy respirando fundo disse, espera um pouco, já volto. Atendeu o telefone, era o seu amigo Edy, estava precisando conversar urgentemente, pois algo tinha acontecido e ele não estava sabendo lidar com a situação, e de imediato ela concordou em ajudar. Ao sair da ligação, Jonh com olhar espantado pergunta:

– Está tudo bem com você? Ela após uma pausa responde:

– Sim, só temos de sair agora, depois terminamos o que iniciamos, em seguida um outro beijo e assim seguiram ao encontro de Edy, sem antes deixar a ração e água de Dorothy que agradeceu aos miados.

Quando o elevador abriu no andar, um bando de punks presentes ficaram olhando de forma intimidadora, mas era só pose, pois eram amigos de Deby apesar de ela ser gótica havia amizade natural entre os movimentos. Ao chegarem na calçada deram sinal para um taxi, esse atendeu e ao se aproximar Jonh incrédulo disse:

– Com esse som, só pode ser o Vitor! De fato, era ele, estava ouvindo em alto e bom som (Billy Idol – Dancing With Myself) e o condutor todo dançante ao volante dizendo:

– Ué, você de novo, tá perdido, meu amigo?(risos) Nossa, agora sei o motivo de seu nervosismo quando te trouxe, olhando para Cindy, que de imediato olhou para Jonh sorridente que concluiu:

– É, você acertou, meu amigo! Em seguida apresentou Cindy ao condutor, estranhamente ficou pensativo coçando a fronte:

– Acho que te conheço de algum lugar, só não estou me lembrando da ocasião. Cindy, encabulada devolve:

– Pode estar me confundindo, afinal inúmeras pessoas entram em seu carro, não é mesmo? Vitor, aceitou a resposta dizendo, tem razão pode ser um equívoco de minha memória.

Por entre muitas conversas ao longo do trajeto, o tempo passou despercebido e tão breve chegaram ao destino programado. Cindy e Jonh agradeceram a Vitor pela corrida e deram uma boa gorjeta, essa muito bem-vinda e um aviso grátis:

– Fiquem atentos! Já ouvi muitas histórias enigmáticas desse local, espero que se divirtam, até a próxima viagem. Cheiro de gasolina no ar, assim como os pensamentos de ambos sobre a fala do taxista se perdiam no espaço de um céu cinza e de lua cheia. O local era um prédio histórico muito charmoso e requisitado e passou a ser usado para eventos.

O casal entrou e ficou abismado com infinidades de artes exibidas por metro quadrado, em cada andar tinha um tipo de decoração diferente com obras artísticas de variadas épocas. Foram até a recepção e em seguida subiram até o terceiro andar usando as escadas, pois queriam absorver mais daquele ambiente cheio de riquezas culturais. Ao chegarem no andar desejado, apenas o silencio tomava conta junto a pouca iluminação, apenas uma luz roxa solitária fazia-se presente bem distante, indicava ser ao final do corredor. Seguiram a intuição e quando chegaram próximo a luz abriram uma porta e no mesmo instante, uma gritaria tremenda, balões, confetes, serpentinas tomavam conta do ambiente. E de repente aparecem Edy e Deby fantasiados gritando:

– Surpresaaaaa!!!! Achou que íamos esquecer de seu aniversário, amiga? Cindy segurando a emoção dá um abraço nos dois amigos agradecendo. Jonh logo caiu no ritmo da festa chamando Cindy para ir a pista de dança e por lá ficaram curtindo variadas músicas: Tears For Fears – Shoult, The Smiths – Bigmouth Strikes Again, The Outfield – Your Love, The Cure – The Lovecats, The B-52’s – Legal Tender, INXS – Mystify, New Order – Bizarre Love Triangle, entre outras mais. E quando tocou (Duran – Save a Prayer) não se seguraram e de imediato cruzaram os olhares e começaram a se beijar, a pista ficou pequena para eles. Deby que já conhecia o local indicou espaço o qual poderiam aproveitar à vontade o momento, era uma passagem secreta que levava a uma suíte cinco estrelas.

Cindy e Jonh aceitaram a proposta, a cada passo uma pausa para mais beijos, chegaram à porta da suíte, era dourada com vários símbolos em decalques, dentro um oásis de pura arte, foram apenas esses segundos que pararam, pois queriam mesmo era desfrutar de cada segundo, e assim fizeram ardentemente, nus a luz roxa e vermelha que criavam o ambiente ainda mais quente e vibrante entre cada beijo e caricias. Cindy era toda prazer sentia desejada a cada olhar de Jonh, esse parecia estar nas nuvens, ambos se saciaram incansavelmente. E quando exaustos olhavam para o teto e observavam mais pinturas de Pop Art, e por coincidência as mesmas que Cindy tanto venera. Comentaram sobre, e ficaram conversando por um tempo, até que a fome chegou forte, sorte que o frigobar estava cheio, afinal ninguém vive só de amor. Começaram a andar pelo quarto até que acharam o quadro (A Noite Estrelada  – Vincent van Gogh).

Ao tocarem na obra, de imediato tudo em torno se modificou como da mesma visão da pintura, foi como se estivessem de fato fazendo parte de cada pincelada do quadro. Realmente foi uma experiência muito real que acabaram de sentir, e perceberam que tudo não estava mais como antes, e sim, um ambiente hospitalar, mas na verdade era um hospício, ouvia-se gritos vindos de todas as partes. A porta antes dourada ficou branca e com uma placa escrita o nome dos dois, esses estavam em pânico, tentaram achar o andar da festa, mas foi em vão estavam definitivamente presos aos sentidos da arte. Agora cada andar continha vários tipos de pacientes, ao chegarem no térreo, um paciente estava vestido de punk e começou a cantar uma música (Ramones – Sheena Is a Punk Rocker) olhou para ambos e murmurando em tom sagas:

– Eu sei o que procuram, e também como achar a saída, mas como sou uma pessoa normal, não posso dizer (risos) mas, mesmo assim irei ajudá-los, fui com a cara de vocês, formam um belo casal, eu também tinha uma namorada, e sabe o que aconteceu? Não, não! Ela enlouqueceu!(risos). Nem me apresentei, meu nome é Fred. Pelo que sei, para vocês saírem daqui, terão de achar uma arte (As estrelas – Vincent van Gogh) ela é o portal que restabelece a “ordem real das coisas” ao menos aqui, se bem aqui nada é normal ou real, afinal o que é normal? (risos). Agora, não sei se vão acreditar numa pessoa normal como eu, não é mesmo (risos). De qualquer forma, boa sorte!

Em meio a tantos pacientes, Fred saiu saltitando e logo sumiu, e agora, Cindy e Jonh começam a pensar de que forma irão achar essa tal obra de arte. E de repente, descendo degrau, por degrau uma mulher cantando (Madonna – Like A Prayer) e atrás dela uns dez pacientes fazendo coreografia, era um show a parte. Parou em frente ao casal se apresentando:

– Prazer, meu nome é Diva! Faço shows aqui desde sempre e nunca vi vocês em nenhuma de minhas apresentações, por caso estão perdidos? Qual o nome desse gatão aí? Tô brincando, não pego o que não é meu, não sou louca de fazer isso, não é mesmo? (risos). Ambos se apresentaram e perguntaram pela tal arte. Diva, coçou os cabelos, fez uma careta e respondeu:

– Não tenho certeza de nada, mas acho que vi essa arte no décimo andar, quase ninguém vai lá, apenas eu com a minha turnê. Posso leva-los, mas com uma condição, esse bonitão terá de me dar um beijo, sou louca, mas não boba!(risos). Jonh ficou sem graça e Cindy não querendo ceder apenas fala:

– Não tem jeito, se quisermos sair daqui, o beijo será a chave, e também não vai arrancar pedaço. Em seguida o beijo aconteceu e Diva ficou toda felicidade, conduziu o casal ao local indicado, e curiosamente, cada andar tinha algum tipo de comemoração com variadas músicas e ritmos, tudo era uma curtição pra valer diferente de quando desceram, tudo naquele espaço mudava constantemente. Chegando ao local, a porta tinha cor vermelha e ao abrir, um tapete roxo se estendeu pelo chão, Diva se despediu dizendo: não sou louca pra entrar aí! Apenas os dois seguiram e a cada passo, luzes eram refletidas nas paredes mostrando as artes, dificultando a procura.

Por uns instantes, Cindy e Jonh fixaram o olhar apenas em uma direção, e então conseguiram visualizar a arte procurada (As estrelas – Vincent van Gogh) e quando tocaram nela, foram de imediato para o terraço do prédio e a noite que era cinza e de lua cheia, agora estava com show de estrelas brilhantes e tão próximas que até mesmo podiam ser tocadas. Jonh abraçou Cindy e ficaram deslumbrados com a paisagem que não acreditavam estar presenciando. Saíram do clima quando um guarda gritou:

 – Vocês dois aí, não podem visitar esse espaço nesse horário, me acompanhem até a saída. Ao descerem perceberam novamente que estavam em outro ambiente, esse nada a ver com o prédio da festa, as cores, decorações tudo estava diferente e as pessoas sorriam a todo tempo sem parar criando um clima estranho. Cindy, visualizou novamente a mesma Pop Art que estava próxima a saída de emergência dizendo a Jonh:

– Já sei como sair desse “mar de sorrisos estranhos”, vem comigo! Desviando e tentando manter o foco em meio as gargalhadas conseguiram chegar até a arte e quando tocaram juntos de imediato voltaram a pista de dança da festa nesse momento tocava a música (Huey Lewis & The News – The Power Of Love). Deby e Edy) e ouviram as vozes de Deby e Edy:

– Voltaram na hora certa! Cindy, é hora dos parabéns, minha amiga! Muita comemoração e alegria, Jonh ganhou o primeiro pedaço de bolo em seguida um beijo ardente que tirou aplausos acalorados dos convidados. Após os parabéns quase todos foram embora, os dois ainda foram curtir a última na pista, era uma “música lentinha” (Patrick Swayze – She’s Like The Wind) e o clima romântico estava no ar novamente, já com ares de despedida. O Dj lamentou, mas teve de encerrar a festa, luzes acesas e o casal desceu rumo a saída do prédio, já era início da manhã, e assim que pisaram na calçada deram sinal para um taxi e já sabiam pelo som alto (Inxs – New Sensation) que era o carro de Vitor que estacionou e saiu do carro dizendo:

– E aí, como foi a noite de vocês? Muitas histórias pra contar? Quero saber de todos os detalhes, os três entraram no carro sorrindo, Jonh respondeu:

– Se eu te contar você nem vai acreditar, “toca marcha” que te falo no caminho. Tudo foi resumido no trajeto e Vitor ia curtido cada detalhe. Chegaram no endereço, e Vitor se despediu dizendo, feliz que tenham curtido tudo intensamente, as artes tem lá os seus mistérios e vocês fizeram valer a aventura, até a próxima corrida!

E agora estavam seguros no apartamento de Cindy, ambos foram recepcionados pelos miados Dorothy, perceberam que Deby não estava em casa, e então resolveram estender a manhã, se trancaram no quarto e deixaram todas as imaginações acontecerem ardentemente até que uma voz aos poucos ia ganhando força:

– Jonh, Jonh, Jonh, vamos fechar o café, já está na hora! Jonh estava hipnotizado olhando o quadro (O Grito – de Edvard Munch) na galeria do Café Retrô, saiu do transe gaguejando:

– Você, você, viu a mulher que estava ao meu lado? O gerente olhando espantado informa:

– Ela já foi embora já algum tempo, você mesmo anotou o contato dela no seu livro, porque não liga pra ela? Quem sabe tenha uma noite cheia de histórias pra contar. Jonh saiu correndo para a seu apartamento, e quando chegou, novamente passou o lápis sobre o decalque dos números e entrou em contato com Cindy, que atende ao terceiro toque ouvindo a voz desesperada de Jonh:

– Alô, quero falar com a Cindy? Segundos de silêncio e vem a resposta:

– Jonh, sou eu! Estava preocupada, você chegou bem na sua casa? Gostou da festa? Jonh, soltou o telefone e se jogou no chão com olhar fixo para o teto, e já não sabia mais de nada, e ao fundo a voz:

– Alô, alô, Jonh, Jonh, está aí, fala comigo, Jonh!

Lista da trilha sonora:

Depeche Mode – Strange Love

Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover
The Police – Message In A Bottle
The Cure – In Between Days
Echo & The Bunnymen – The Killing Moon
Billy Idol – Dancing With Myself
Tears For Fears – Shoult
The Smiths – Bigmouth Strikes Again
The Outfield – Your Love
The Cure – The Lovecats
The B-52’s – Legal Tender
INXS – Mystify
New Order – Bizarre Love Triangle
Duran – Save a Prayer
Ramones – Sheena Is a Punk Rocker
Madonna – Like A Prayer
Patrick Swayze – She’s Like The Wind
INXS – New Sensation

Ducacroce.
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O amor acontece

É preciso dar novas oportunidades, outras chances e ocasiões acontecem, não necessariamente que seja “para sempre”, entretanto, enquanto da duração que seja vivenciado com verdade, tudo é aprendizado”.

O amor tem variadas formas de acontecer, e raríssimas vezes ele é de imediato, muitas vezes ele é percebido e aflora após muito tempo, sem que os privilegiados percebam a ação desse nobre e puro sentimento. Podemos elevar vários pensamentos sobre, afinal quem nunca se apaixonou e viveu uma história de amor? As sensações são infinitas e se deixar contagiar pelo amor é estar de coração literalmente aberto e compartilhar de variados momentos com a pessoa amada. Pode parecer fácil esse raciocínio, entretanto o ser humano tem as suas manias (ego) as quais sempre complicam um pouco essa equação. Tudo é questão de momento e equilíbrio, o amor pode até “estar presente”, mas naquela ocasião ele necessariamente não será o bastante, há de se ter a maturidade de ambos, e assim, de forma cristalina vem o aconchego, e a morada ao longo do cotidiano até o seu enlace oficial, o apogeu do casal, momento mais especial e esperado.

Por esses pensamentos e movimentos, lembro de uma história a qual acompanhei desde suas origens até mesmo a data marcada. A época, dois adolescentes, Vanessa e Edu, faziam parte da minha equipe, ajudavam em várias ocasiões das semanas e principalmente em eventos internos e externo. Não eram tão próximos e pouco se falavam, ela tímida, e ele mais articulado, ambos em um momento diferente na vida pessoal, porém objetivando crescimento profissional. Mesmo nas atividades não era muito comum vê-los juntos, e como nessa fase tudo acontece rápido reparava que cada um seguia por novas experiências, e em outras ocasiões estavam acompanhados, “todas as experiências são válidas, e saber apreciar cada momento a certeza de não ter lacunas abertas, e sim, ter bagagens que servirão em algum instante.” Interessante, a maturação adquirida por ambos nessas etapas, entre eles, apenas uma boa amizade, nada além. Único dia que percebi algo, foi quando os vi indo a um show de Rock, e logo depois perguntei a eles sobre, diferentemente do meu pensamento, estavam saindo de experiências não bem sucedidas, “provável que, os bastidores desse show tenham sido válidos em algum ponto, afinal, tudo começa por uma boa troca de ideias de experiências pessoais, isso de alguma forma aproxima e criam laços de confiança”.

Os ponteiros do relógio não pararam, seguimos com a nossa forte amizade, e cada qual novamente embarcou em novas oportunidades, lembro de um aniversário o qual estavam respectivamente acompanhados, “é preciso dar novas oportunidades, outras chances e ocasiões acontecem, não necessariamente que seja “para sempre”, entretanto, enquanto da duração que seja vivenciado com verdade, tudo é aprendizado”. Depois de um tempo não nos víamos com tanta frequência, e novamente os ventos sopravam para outras direções, e ambos agora livres, queriam desfrutar mais a vida. Nos encontramos para colocar as ideias em dias, a bem da verdade em uma noite muito fria na região da Rua Augusta, entre um copo e outro, rolês aleatórios, era sentido que a diversão foi garantida. Na hora de partir, uma volta pela Avenida Paulista, andamos abraçados para aquecer os corpos, eu fiquei no meio segurando-os, pois estavam mais altos de que eu (risos). Quando percebi, alguém largou de meu braço dizendo: esse serve, esse serve! Corremos literalmente na frente do ônibus, demos o sinal, e colocamos Vanessa dentro do coletivo com destino ao bairro da Lapa. Logo o dia estava amanhecendo, hora de se despedir de meu amigo, Edu já nas últimas energias, mas firme seguiu para a linha azul, e pelo que sei ficou indo e voltando, pois dormiu e perdeu a noção de tempo e espaço entre as estações. “Como sempre comento, nada melhor de que ter histórias para contar”.

O analógico do relógio não dá pausa, ambos continuaram seguindo seus caminhos, Vanessa em um momento mais focada na graduação, saindo bem pouco, ele trabalhando e curtindo novas experiências. Apenas os encontrava em aniversários, ou de forma individual, e uma dessas festas, me recordo de ter ganho uma garrafa de vodca e ter dado de presente ao Edu, mais que merecido pelos bons tempos e também pelo intervalo em que não nos víamos. Graças ao Edu, conheci um pouco mais do Rock Indie, quando fomos a uma festa na Barra Funda, aliás foram tantas festas que precisaria fazer um livro pra contar, quem sabe um dia (risos).  Em uma ocasião encontrei com Vanessa no Parque da Água Branca, encontrava-se em momentos mais reflexivos da vida, até mesmo com futuro profissional e amoroso, etc. Sempre calma, serena e muito precisa nos objetivos traçados, e assim tão logo virou professora, profissão a qual é dedicada ao extremo. Lembro quando a visitei na época de sua graduação, das caminhadas pela rua Catão, e é claro, quando fomos ao show dos Paralamas, e no retorno fui bem recepcionado por sua família. Também poderia ter um livro de outras histórias, afinal todas fazem parte de um acervo de muita confiança e carinho. “Ambos também me ajudaram em muitas ocasiões de minha vida, o que fez a nossa amizade ser ainda mais forte, ter ombros amigos é ter a certeza de que nunca estará só, e com eles sabia que podia contar a qualquer momento”.

E no balanço do tempo, cada qual estava seguindo por caminhos distintos, e apenas em 2017 conseguimos nos reunir, era aniversário da Vanessa, comemorado em um Pub na região de Pinheiros. Essa data marcou o retorno dos solteiros (todos tinham acabado de sair de relacionamentos, praticamente ao mesmo tempo). E dessa noite em diante os rolês ficaram mais constantes, mas um em especial se tornaria decisivo ao Edu e Vanessa. Esse fato ocorreu logo após uma visita a um Pub no bairro do Tatuapé, Vanessa estava em uma outra festa. Muito Rock In Roll ao vivo, cervejas e até descobri que Edu pensou ser chileno (risos, longa história). Pagamos as comandas e seguimos a estação do metrô, ficamos trocando ideias do antes e de tudo que estava acontecendo, e subitamente Edu demonstrou interesse em Vanessa, e prometeu que na primeira oportunidade iria expor suas intenções a ela, fiquei surpreso e pensei em silêncio: caramba, esses dois já se conhecem faz tempo, acho que agora vai. E assim aconteceu, se encontram algumas vezes e resolveram criar tudo de forma “off-line”, nem eu mesmo estava por dentro, apenas desconfiava, e só um tempo depois que assumiram de fato. Uma prova de que era pra valer, quando encararam o período de pandemia (covid-19) momento em que muitos casais optaram em desistir do relacionamento, eles mantiveram-se firmes e seguiram com seus propósitos. “Uma experiência exemplar para alguns casais que na primeira dificuldade já desiste, a convivência diária muda a forma de ação, mas não altera aquilo que é proposto, afinal, tudo vai se condicionando, e o melhor a extrair é a forma como cada qual se readapta e também se reinventar”.

Então, os ponteiros se encontram e o convite para o enlace oficial aconteceu, e vem um filme em mente assim como descrito, mas as emoções vão muito além quando se está ali no altar testemunhando e sentindo todas as vibrações. Uma emoção sem palavras, o caminhar para atestar com a assinatura evidenciava de fato os laços, esses que agora abençoados e consagrados por Deus e por todos que ali estavam. Confesso que fiquei dias emocionado, assim como hoje impactado ao lembrar de tudo, me senti realmente parte dessa história de amor, e poder expressar um pouco é uma forma de enaltecer a forma como o amor acontece, por mais que esse esteja desacreditado atualmente, está sempre por aí esperando alguma atitude, passo adiante de coragem, se apresenta de variadas formas, basta estar atento ele não vem com uma manual de instrução.

“E assim, o amor aconteceu, em sua nascente inesgotável uma nova história se concretizou, essa que transbordava aos olhos dos noivos, o amor estava ali, presente em cada gesto, não há quem não tenha se irradiado. Testemunha presente, sentia todas as vibrações, estado de pura inquietação com o coração em outra frequência. As emoções vieram fáceis, inundação de puro amor. A cerimônia foi abençoada, e a comemoração foi perfeita em todos os detalhes, e no final, com aperto de mãos, novas emoções provindas das palavras do noivo, as quais deixei desaguar nas minhas lágrimas, essas com gosto de amor, agora as sensações eram reais, tudo inundado, coisas do amor. Não há palavras para agradecer ou explicar, apenas navegar por essas águas, memória que mergulho desde então”.

Aos meus amigos-compadres, desejo que tenham sempre amor para todos etapas de suas vidas, em cada momento lembrem da linda história de amor edificada, dedicação, respeito e amizade que criaram e concretizaram juntos. Que essa nova etapa, traga frutos e muitas outras histórias para contar. Obrigado, pelo carinho, amizade e amor.

Ducacroce.
Criador e editor,
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Dez anos em alguns segundos

É obvio, nem tudo está registrado em filmes ou memórias digitais, e sim, no contexto histórico de cada um, ter esses questionamentos canalizam muito o ritmo diário que estamos condicionados, e só atentamos ao fator tempo, quando apenas todo esse enredo se torna parte apenas de uma memória volátil de alguns segundos. Dessa forma, sentimos que os movimentos dos ponteiros são implacáveis, a cada movimento tudo pode acontecer e se transformar, ou mesmo sumir em milésimos de segundos

Entre perguntas, respostas e reflexões é possível viajar em memórias do antes e do agora, os registros são provas dos momentos criados, hoje são bem mais práticos pelas formas tecnológicas e consumo instantâneo de mídias,
e talvez essa praticidade ofusque o brilho e o valor do presente momento

O que de fato, os anos nos revela passa a ter um valor diferente e uma atenção, quando por um acaso encontramos amigo(a) que não faz parte do cotidiano já algum tempo e de forma sucinta informa tais sinais mudanças. E mesmo com todas as manhãs revelando as diferenças, ainda sim, temos a sensação de que estamos da mesma forma de ontem. Isso no sentido visual, o qual procuramos sempre uma melhoria constante. Ao achar que a barba está curta, posso ouvir comentários diversos: Quando vai aparar essa barba? E esse cabelo, na hora de “zerar”. Aprofundando um pouco mais a questão, a todo momento estamos em constantes mudanças e cientes das tais, embora com certas distrações esquecemos de observar algumas alterações, essas vão além de valor estético, o não viver em estase (estado de impotência) faz com que a vida se torne invariante, efeitos que tiram o brio e o sentido de vida, e fica a questão: quando uma mudança é boa ou ruim?

O tempo está em cada pensamento e esse nos coloca em momentos presentes, mas com a atenção voltada ao futuro, e quando deparamos com uma interação de rede social a qual nos faz voltar em algum ano ou momento que não é mais cartaz da memória (compartilhe uma foto sua de dez anos) a partir desse envolvimento virtual, o antes e o agora estão presentes. E alguns pensamentos invisíveis são inevitáveis: acho que esse tempo fez bem pra mim, estava bem diferente, eu tinha cabelo, abusava da maquiagem, como eu saia com essa roupa, não tinha cabelo branco, etc. Além da aparência, certamente bate um sentimento de cobrança no que foi ou não planejado ao longo. A velocidade do tempo é sintetizada aos olhares de comparação nas fotos escolhidas, o que de fato realmente mudou sem o fator estético? As mudanças físicas são inevitáveis e visíveis, mas quanto aos propósitos, será que mudaram ao decorrer dos ponteiros?

O caminho para escolher a foto de antes passa por um túnel nostálgico, certamente ela não está disponível na galeria atual, se faz necessária uma busca, e nessa viagem é muito provável registros de outros momentos com pessoas que talvez nem façam mais parte do ciclo de amizade. Por falar nisso, quantas amizades você tem com mais de uma década? Ainda se encontram? Saem para uma troca de ideias? Você ainda tem algum amigo de infância? Cada um sabe o que decorreu por esse tempo e caso tenha mantido contato, tenha certeza, essa amizade é verdadeira, é muito provável que consiga contar com alguns dedos ou apenas um.

Em um amaranhado de pensamentos que agora está, quantas juras de amor foram feitas? Daquele para sempre? Dos “relacionamentos perfeitos”? Dos beijos demorados apaixonados? Será que ainda há preservado algum espaço para novos momentos? Ainda se reconhece quando se vê no espelho? Vem aquela voz dizendo:  tudo podia ser diferente, embora naquele momento o melhor foi feito, e após essa resposta, a voz é silenciada? E no reflexo atual, se reconhece de verdade, ou tem dúvidas? Ainda sobre amizades, alguma que tenha deixado de lado por algum motivo? Alguma que mesmo não se vendo há muito tempo, e quando em um eventual encontro a conversa surge como se o tempo não existisse?

Pode parecer pouco, mas é muito tempo uma década, e não percebemos como tudo vai se transformando, assim como os espaços geográficos da época de infância, e quando visitados vem sempre a memória de como era antes, e as comparações são inevitáveis. E ao longo dessas “ondas comparativas”, vem em mente a ideia de mudanças: será que essas foram feitas? Aquelas dificuldades com certos assuntos foram sanadas? Algumas ainda visitam em pensamentos passageiros? Por falar em lembranças, guarda algum segredo que antes era guardado a sete chaves? Hoje é provável que possa ser banal, ou será que talvez mude radicalmente alguma trajetória, será?

Entre perguntas, respostas e reflexões é possível viajar em memórias do antes e do agora, os registros são provas dos momentos criados, hoje são bem mais práticos pelas formas tecnológicas e consumo instantâneo de mídias, e talvez essa praticidade ofusque o brilho e o valor do presente momento. O online é no agora mesmo, não precisa mais esperar para revelar, tem a chance de até mesmo mudar o que não agradou no registro, mas o momento fica. É obvio, nem tudo está registrado em filmes ou memórias digitais, e sim, no contexto histórico de cada um, ter esses questionamentos canalizam muito o ritmo diário que estamos condicionados, e só atentamos ao fator tempo, quando apenas todo esse enredo se torna parte apenas de uma memória volátil de alguns segundos. Dessa forma, sentimos que os movimentos dos ponteiros são implacáveis, a cada movimento tudo pode acontecer e se transformar, ou mesmo sumir em milésimos de segundos.

Ao observar os ponteiros e cronômetros, sempre teremos propósitos de fazer tudo diferente, por mais que o cotidiano seja atarefado. Muitas das vezes as respostas estão próximas, e por acaso, aquela “nebulosidade de pensamentos” ainda se faz presente, está mais que na hora de deixá-la partir, afinal já deu para aprender bastante com esses momentos nebulosos. As possibilidades vão acontecendo com a movimentação do fator externo, não temos controle sobre, apenas precisamos nos atentar no que é apresentado, e embarcar em uma nova etapa é uma decisão única.

Neste momento, os dez anos voltam novamente em jogo, afinal se antes não arriscou por algum motivo, e agora, porque não? Decisões nunca são fáceis, mas a todo tempo estamos decidindo de forma condicionada o que fazer ou não, isso faz parte do mundo contemporâneo. Entre viagens nostálgicas de fotos e fatos, vale o “registro questionador” nessa troca de ideias: como será o seu mergulho em si daqui a dez anos? Fique tranquilo(a), é apenas um pensamento para exercitar sem criar mil ansiedades ou perda de sono. O planejar é saudável, seja individual ou acompanhado, o mais importante é poder curtir a trajetória e desfrutar quando da conquista do objetivo traçado. É iniciado mais um ano e o cronometro não está zerado, pelo contrário, se mantem em constante movimento, a virada de ano é apenas um intervalo curto como no movimento dos ponteiros do relógio, e quando percebemos já estamos atuando sem perceber como a passagem de dez anos.

Ducacroce.
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A busca pela simplicidade

“O que esses intervalos de dias podem auxiliar na nova etapa que está prestes a chegar? E de que forma será vivenciada? As respostas somente você que chegou até aqui poderá responder, afinal cada qual tem o seu ritmo e forma de encarar a sua própria realidade, se bater dúvidas, simplesmente pare por alguns minutos, respire e olhe em torno de si, algumas certezas você encontrará. Agora, o momento é provar do bolo”

“Os melhores momentos da vida, não tem negativos para recuperar a memória, são apreciados no exato instante sem pressa ou anseio, tudo acontece no presente e o que importa de verdade é sentir-se realmente parte desse flash de acontecimentos”

Ao tentar a procura da simplicidade, é necessário desconfiar de tudo, afinal o que realmente procuramos? O que é essa tal mania de questionar algo que é tão simples? No entanto, passa a ser complexo em sentir e evidenciar, o porquê, é simples, nunca estamos realmente no momento presente dos acontecimentos, há sempre um pensamento além, e o instante, passa a ser apenas uma fração de segundos a qual, vale por muito tempo, embora despercebida em pensamentos acelerados pelo amanhã que não existe.   

E por esses dias festivos é notório como as pessoas mudam de comportamentos e atitudes, muito pelo clima que é criado de forma espontânea ou comercial em torno, e fica sempre a pergunta: por que não manter esse mesmo ambiente? O ser humano segue sendo uma “bomba de surpresas” e de infinidades de interrogações dentro de seu próprio eu, ao tempo que está todo festivo em algumas horas já está em seu modo casulo vivenciando apenas o seu mundo interior. Talvez os dias de festas de final de ano despertem um sentimento diferente, mas ao longo do cotidiano fica quase impossível manter o mesmo ímpeto, afinal as realidades de cada um são bem distintas, e só nessas ocasiões é possível afirmar um consenso através da datas.

As festas sempre rementem muitos momentos de outros tempos, mas também é preciso vivenciar o presente, e foi assim os preparativos para a noite de Natal, dividindo a cozinha com a minha mãe, Dona Dirce. Ela de um lado no preparo dos assados e eu, na responsabilidade do bolo, as vezes me arrisco um pouco, levo como terapia as misturas dos ingredientes e bem da verdade, nem como tanto, faço mais para servir e saber se está a gosto. Por vezes, flaguei meu pai visitando a cozinha, roubava um beijo de Dona Dirce, relembrava alguns outros momentos, mas o objetivo dele era beliscar alguma coisa sobre a mesa, tenho a dizer, Sr. Léo é muito astuto. Por mais simples que seja, esse é o grande momento o qual não há um botão para rebobinar, por mais apps existentes, esse presente é dado apenas uma vez na vida, não tem replay são cenas que ficam gravadas na memória afetiva, e isso não tem preço que pague, é necessário estar aberto e atento na simplicidade dos acontecimentos reais e espontâneos.

Entre uma conversa aqui, e ali, as músicas do rádio transitavam por várias épocas e ficava impossível não viajar em uma onda nostálgica de outros finais de anos, em outros lugares, com familiares, amigos, pessoas ainda presentes e outras que partiram e deixaram saudades. Entre uma canção e outra, no embalo sonoro e na densidade da massa batida chega-se ao ponto ideal, e na temperatura do forno o exato momento de deixar tudo se transformar, e nesse momento, o fermento será o principal ingrediente. Bolo no forno e agora é só esperar, não mesmo! Por mais que tudo esteja planejado para evitar saídas desesperadas na véspera de Natal, encarar filas no supermercado vem a voz de Dona Dirce: preciso de papel alumínio!  

Gosto de planejar, mas confesso que aprecio um improviso, afinal não temos controle de nada e tudo vira uma boa história. Então, segui para o mercado, não estava tão cheio o que me deixou animado, no corredor das bebidas fui abordado por uma mulher que estava com dúvidas sobre qual cerveja levar, pois nada sabia em relação. Eu também não conheço tanto, mas pude dar algumas informações comparativas em relação a qualidade de cada uma, pelo que vi ela entendeu e aceitou as dicas. Alguns passos a seguir, encontro com amigos de época de escola e também de academia, papo rápido na fila de frios e também para passar no caixa o que não demorou tanto. Voltei para casa e de imediato acendi a luz do forno pra ver como estava o desenvolvimento do bolo e para alegria geral, o fermento fez o seu papel e deixou o bolo na altura certa, cumpriu o seu papel jogando coletivamente com outros ingredientes, e por falar nisso, que papelão novamente de nossa seleção. Ainda bem que já vi o tetra e o penta, e confesso que essa geração tem de comer muito arroz e feijão pra ganhar o hexa, isso é um outro tema a ser debatido, se bem que o Messi merecia levantar a taça.

Alguns minutos após, retirei o bolo e ajudei minha mãe a colocar os assados no forno. O bolo a espera para ser recheado, antes alguns macetes para não deixá-lo seco e sim, para obter aquele gosto de festa de infância, esse todos sabem qual é, não é mesmo? Preparei o recheio bem caprichado e minha mãe dizendo: eu não sei fazer isso não, é muito difícil. Eu, respondendo rindo: Um dia te ensino, não se preocupe. Bolo recheado e agora a parte fundamental, filmar para que descanse e crie uma harmonia de sabor com o recheio, cada detalhe é importante.

Ao sair no quintal percebi umas nuvens chegando, e durante a semana já estava fazendo manutenção no telhado, não queria que o Sr. Noel sofresse qualquer tipo de acidente. E como tudo acontece rapidamente, resolvi por as mãos nas telhas mais precisamente por debaixo das delas, rastejando até a bendita calha que ficou fora do lugar devido a uma forte pancada de chuva de dias atrás, deu trabalho e tudo se encaixou perfeitamente. O final de tarde já estampado, e quase tudo já pronto e a sensação de um dia com ritmo diferente. Um banho para refrescar, afinal a chuva não veio e o clima ficou abafado, restava agora o toque final, e com total atenção voltada para confeitar o bolo, como já planejada aquela ganache de chocolate meio amargo para dar um contraste como cobertura e caiu perfeitamente, ficou irresistível.

A noite chegou, uma cerveja merecida para refrescar, e sem muitas cerimônias tudo já estava pronto e cada qual se serviu à sua maneira. Barulhos de talheres, copos, vozes e o clima sem tradução pairava e contagiava. Por mais simples que esses momentos foram descritos, tenho a certeza da veracidade deles, e estarão comigo até meu último dia na terra. Quando a simplicidade é genuína e verdadeira, sem aditivos externos, ela passa ser habitada, e quando assim, não tenha dúvidas de que, o momento real foi vivenciado. Como atualmente tudo é fugaz, ter esses momentos é entender que a felicidade está nesses simples momentos, e bem provável ela está sempre por perto, basta atentar-se e vivenciar sem pressa alguma.

As festas de final de ano, se oferecem como grandes opções de reavaliarmos a forma de como estamos vivendo, e também, do ritmo de vida que estamos condicionados ao longo do cotidiano. Há de se questionar: O que esses intervalos de dias podem auxiliar na nova etapa que está prestes a chegar? E de que forma será vivenciada? As respostas somente você que chegou até aqui poderá responder, afinal cada qual tem o seu ritmo e forma de encarar a sua própria realidade, se bater dúvidas, simplesmente pare por alguns minutos, respire e olhe em torno de si, algumas certezas você encontrará. Agora, o momento é provar do bolo que fiz, servido(a).

Um ótimo 2023, cheio de renovações e realizações, recheado de grandes momentos reais. Grato, por você leitor(a), seguidor(a) por acompanhar o blog ideias e outras coisas mais. Um forte abraço carinhoso.

Ducacroce.
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Um dia de realidades e amor

“Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente”

Era uma manhã de primavera, e antes mesmo do café, Amado despertou dançante cantando em alto e bom som: “Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”, seu amigo felino Tim (abandonado em uma esquina dentro de uma caixa de papelão foi adotado por Amado, foi miado à primeira vista, hoje grandes amigos) olhava pensando: o que esse humano tem hoje? geralmente, não é assim. ­Amado, aos goles de um bom café forte e quente via vários filmes passar pelos desenhos dos azulejos, os quais refletiam muitas de suas histórias pela cidade de São Paulo. Em cada bairro, vila, quebrada e becos, um pouco de sua presença estava registrada. O aroma do café trazia a ele as variadas sensações das manhãs amorosas e das noites infinitas. Amado é um amante boêmio, a noite nunca acaba para ele.  Após tomar o seu café, dirigiu-se a garagem, e assim que desligou o alarme deu bom dia a sua amiga, Matilda (o seu carro) e tão breve um comentário:

– Tá animado hoje, pelo jeito a noite foi boa, em seguida vem a resposta sorridente:

  – Cada noite tem seus mistérios, eu apenas tento desvendá-los, porém, acabo fazendo parte dele. Matilda, devolve: Vejo que algum mistério te fez bem, esse seu andar saltitante não nega.

  – Tá bom, já falou muito, mania de querer saber de tudo da minha vida.

Após, ligou o rádio e coincidentemente tocava a mesma música que ele cantava ao despertar (september) colocou o cinto, ajustou os óculos escuros dizendo:

  – Esse mês será maravilhoso, preciso trocar umas ideias com um velho amigo Ludus se bem que, ele não é tão velho assim, ao menos é o que ele acha não ser. Matilda novamente:

  – Não querendo dizer, mas ele tá bem, ainda dá um caldo, saudades dele.

Colocou o celular no viva voz, e após o terceiro toque:

  – Fala meu Amado! A resposta de imediato:

  – Que seu o que, se liga, seu véio! E aí, tá por onde? Cadê os rolês? não te encontrei mais em nenhum. Ludus rindo responde:

  – Tá com uma voz boa, pelo jeito alguém invadiu seu coração.

De imediato, Matilda entra no diálogo:

  – Tá vendo, até seu amigo já percebeu, conta logo. Amado retruca olhando o retrovisor e responde:

  – Pronto! A minha vida agora virou um programa de fofoca matinal, é isso?

Gargalhadas na ligação:

– Logo pela manhã você todo animado assim, alguma coisa diferente realmente aconteceu, mas fique tranquilo, vamos marcar um “rolê de ideias” já faz um tempo que não nos vemos. Amado atento ao semáforo e no que acontecia aos redores concorda com seu amigo e comenta:   

– Cara, tá cada dia pior esses lados do centro, muita gente nas ruas, vejo miséria para todo lado e muitos acham que tá tudo bem, enquanto não tivermos ações sociais nada mudará.

 – Povo tem memória curta, infelizmente. Anos atrás a realidade era mais palpável, acesso ao básico ao menos, e hoje, isso é uma utopia bem distante, tempos sombrios de muitas injustiças e miséria. Se manifestou Ludus. Matilda na dela comenta:

 -Podiam se candidatar, votaria em vocês facilmente.

Os três riram em sincronia, Ludus completou:

 – Quem sabe? Amado já finalizando o papo:

 – Vou desligar, você fala muito, guarda para quando nos vermos, já próximo ao destino traçado despede-se de seu amigo. Antes Ludus manda a real:

 – Você continua um chatão classe A!

 – Disso ele tem razão! diz Matilda. Amado, curto e grosso:

 – Calem a boca, tchau!

Agora focado no destino principal, Amado pede a Matilda que sintonize alguma rádio para que fique por dentro das notícias do dia. E logo na primeira frequência captada veio a informação: A partir de amanhã, os combustíveis terão mais um reajuste. O clima mudou dentro do carro, e Matilda para tentar acalmar o condutor argumenta:

 – Ainda bem que, sou simpática e econômica.  – O que esse cara tá fazendo com nosso país? Imagina pra quanto irá um botijão de gás? tempos atrás custava R$35,00 e hoje, para mais de R$100,00 qual pai de família que aguenta  ganhando um salário mínimo de miséria? Cada dia um golpe no bolso do trabalhador, e para muitos tá tudo bem, pobre voltou a ser apenas uma estatística, revoltante. Respondeu Amado, com um sorriso nervoso.


Mais calmo, Amado chegou próximo a galeria de artes a qual foi convidado a participar de uma exposição sobre a cultura negra e sua influência ao longo da história. Assim que se aproximou de um estacionamento ouviu:

 – E aí, negão, vai deixar essa nave aqui?

Segurando o volante com firmeza e respirando fundo, Amado preferiu apenas pensar consigo:

Não vou perder a paciência! E assim, seguiu para um outro espaço a poucos metros de distância e observou pelo retrovisor um corre, corre. Eram policiais atrás de um ambulante, esse que foi derrubado ao lado de sua porta, levando golpes violentos por todo corpo, ele apenas estava vendendo água, mas de certa forma ofendia a autoridade dos impiedosos policiais.

Amado não se conteve, baixou o vidro e argumentou:

 -Pra que tanta violência? É um trabalhador! Vocês deviam proteger ele.

Clima ficou nebuloso, e o público se revoltou com a cena e se inflamou com as palavras ouvidas. Um dos polícias para “impor autoridade” sacou a arma e apontando a Amado disse rispidamente:

 – É melhor você ficar na sua.

 – Amado prosseguiu: Você não precisa apontar arma pra mim, o seu dever é de proteger, esse é o seu trabalho. E logo veio a resposta:

 – O meu trabalho é acabar com pessoas de sua classe, a mesma desse lixo do chão, você não merecem proteção alguma!

Após essa fala, foi como jogar mais gasolina na fogueira, e de imediato, os policiais foram engolidos pela multidão e um princípio de linchamento foi iniciado, a sorte é que vieram reforços jogando bombas de gás de efeito moral. Amado, subiu o vidro do carro, estacionou em uma esquina e por um tempo reflexivo: “O que esperar de uma polícia militarizada? Ganham uma miséria, são pobres como o vendedor de água e se acham acima da lei. Não possuem preparo algum para dialogar com ninguém, e o pior, tá cada vez mais forte essa onda racista, até quando? Hoje escapei por pouco, mas sei que muitos não terão essa mesma sorte, hoje foi no limite”.

Mais adiante, encontrou um estacionamento o qual achou mais seguro, e quando estava subindo as escadas da galeria de artes em direção ao elevador uma voz macia fez sinfonia aos seus ouvidos:

 – Por favor, segura! também vou subir.

Amado todo atencioso com olhar fixo, pergunta:

 – Qual andar?

 – No vigésimo farei uma palestra sobre a cultura negra.

 – Que coincidência, fui convidado será um prazer acompanhar.

E já de imediato ele pergunta:

 – Por gentileza, qual o seu nome?

Ela se apresenta fixando o olhar.

 – Prazer, me chamo Madalena, e você?

 – Ele já todo elétrico: Amando, quero dizer, Amado.

Ela sorriu dizendo:

 – Nome peculiar, gostei.

 – Era você que estava no meio daquela confusão na outra quadra? O que aconteceu? Perguntou ela curiosa. Amado resumiu a história, e ambos concordaram sobre a truculência e abusos da polícia militar nas abordagens diárias. Chegaram ao vigésimo andar, ele foi para a plateia desejando boa sorte, ela o agradeceu dizendo:

– Fique até o final, gosta de ipa?

 Amado:

– Claro que sim, minha preferida.

A resposta:

– Que ótimo!

Ao longo da palestra era visível o olhar de Madalena em direção a Amado, esse que sentia o clima em cada gesto vindo do palco. Ao término da palestra já com o auditório quase vazio, ele a esperava ansioso observando o andar dela em sua direção, seguiram para o elevador, ele todo elogio em relação a apresentação, quando no décimo segundo andar o elevador parou. Madalena ficou assustada, pois sofre de claustrofobia, Amado sentindo o clima a abraçou passando tranquilidade e pedindo para respirar lentamente, ela o atendeu mantendo-se calma, e por sorte o elevador voltou a funcionar após alguns minutos.

Momento de tensão, mas que renderam pontos positivos a Amado, pois Madalena sentiu-se segura na sua abordagem autêntica e carinhosa. Chegaram ao saguão e decidiram ir até a Rua Augusta foi uma decisão simultânea, ambos apreciam a região, local com variadas opções para todos os gostos.

Eles foram para o carro, Amado deu a partida, Matilda deu boa noite a Madalena e após comentou:

– Vejo que voltou diferente, também com uma companhia dessa.

– Nossa que loucura essa sua interação com seu carro! Disse Madalena as gargalhadas.

– Sou mais que um carro! Respondeu Matilda.

Amado segurando riso comenta:

– Fique à vontade Madalena, Matilda é amiga, só às vezes que começa a falar muito eu a desligo.

Duas quadras antes de chegarem ao local escolhido, pararam em um semáforo e um circense fazendo malabarismo com fogo parou de frente a Matilda. Madalena comenta:

 -Os artistas podiam ter mais espaços e oportunidades em nosso país, lamentável como essa classe também sofre com leis que diminuem cada vez mais as chances de mostrarem o seu talento

Amado, batendo os polegares no volante dá sequência a ideia:

 – Pra piorar, tem uma ala artística que apoia tudo que tá acontecendo, mas ganham muito dinheiro por fazerem esse papel ridículo, dando voz a quem nunca nada fez pela cultura. Madalena baixou o vidro e contribuiu com o artista, esse que agradeceu soltando piruetas.

Encontraram um estacionamento próximo ao bar escolhido, esse que estava com uma boa movimentação, preferiram ficar ao ar livre, pediram as ipas, entre brindes e ideias a noite foi se transformando e o clima era iminente de paixão, ambos se comunicavam de todas as formas. Como tudo conspira a favor do amor, um garoto passou vendendo rosas, parou próximo a mesa parafraseando um poema:

“Não há como explicar, nem descrever, há de acontecer agora, ou depois, nunca se sabe, mas, quando acontecer, não resista, não teime, não se afugente, não se desespere, não evite, apenas respire, deixe-se sentir e vibrar, é o amor que chegou para ficar”.

Logo veio a abordagem:

 – Boa noite, por favor, podem me ajudar? Estou tentando melhorar a renda mensal, não está fácil voltar ao mercado de trabalho. Vejo que formam um lindo casal.

Amado, só esperava por um fio para dar um passo à frente, e assim fez:

 – Sim, sim! Somos namorados!

Madalena ainda baqueada pelo verso, ficou sem ação ao ouvir e logo soltou um sorriso dizendo:

 – Ligeiro você, depois quero saber mais desse namoro. Lançando uma piscadinha com o olho esquerdo.

O garoto já sentindo que se deu bem na venda aproximou mais de Amado, esse que fala:

 – Você apareceu na hora certa, quero aquela ali, tá bem bonita.

Após levantou e entregou para Madalena, os outros casais próximos ficaram olhando invejados a cena.

Desejaram boas vendas ao garoto e também que conseguisse o emprego almejado, afinal cada dia tá maior a porcentagem de desempregados, só cresce, mas a mídia maquia dizendo que está tudo bem. Pediram a conta, e Madalena autêntica se impõe:

 – Meio a meio e sem discussão, por favor!

Dividiram a conta, e agora já não precisavam dizer mais nada, a noite prometia seguir na temperatura das trocas de olhares. E assim, embarcaram para um esconderijo onde todas as ideias foram despidas literalmente à vontade. Madalena sentia-se desejada, Amado todo atenção e disposição, a madrugada foi pouca para tanto amor que se reiniciava nas fagulhas dos olhares e quando dos corpos rentes, tudo era quente, ardente e prazeroso. Acordaram olhando para o teto, estavam entrelaçados como cordas, risos antes do bom dia e surgem “as vozes dos estomagos”: partiu, café?

Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente.

Amado deu uma carona para Madalena que residia na zona norte, ao longo do trajeto a música de fundo era de Tim Maia: “Primavera”.

Amado cantava sorridente, sinônimo de pura felicidade. Matilda não deixou passar em branco:

– Que clima é esse? Não precisam falar, fato do humor de Amado estar bom já me deixa feliz.  

Madalena só sorrisos responde:

– Ele foi bem cuidado.

Amado entra no papo:

 – Programa de fofoca logo cedo, já vejo que estão se dando bem, mas hoje pode!

Os três caíram em gargalhadas.

Chegaram ao destino traçado, antes de descer trocaram contatos, não teve foto, apenas beijos, abraços, trocas de gentilezas mútuas e no ar um clima de quero mais. Amado exalava alegria no retorno para sua casa, e por coincidência começou a tocar a música “September”

Amado aos pulmões solta a voz:

“Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”.

Chegando em sua casa, sentou-se em sua poltrona, ouviu o seu amigo felino Tim miar pedindo ração nova, antes ficou perdido em pensamentos de tudo que tinha vivenciado, isso o deixava em um contentamento único. Levantou-se, pegou a comida e serviu Tim que miava agradecendo. Ligou o celular, entrou no app de mensagens, abriu o contato de Madalena, um emoji de “coração” estourava a tela e um “muito obrigada”.

Agora conectados, aguardando apenas o próximo date. O seu despertar já revelava que tudo podia acontecer. Amado foi até a janela ainda não sabendo se era um sonho ou realidade, mas a certeza de que, a felicidade estava pulsante a cada movimento e pensamento, com isso, certeza de muitas outras histórias a serem vivenciadas, afinal ainda era início de setembro. 

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais.

A liberdade educa

Liberdade e educação andam lado a lado. A liberdade guia, dá a visão, já a educação questiona e aprimora a nossa forma de agir e existir

Quando o assunto é liberdade, cada um tem a sua forma de pensar e expressar. Não esquecendo que, a sua liberdade de ir e vir requer alguns cuidados, afinal respeitar espaço e forma de pensar e agir de cada cidadão é valorizar a sua liberdade. Falando de liberdade, lembrei do passeio de férias com a minha afilhada, Mariana. O único pedido que faço a ela das vezes que saímos é para não correr e assim, mantemos a nossa forma de aproveitar a nossa liberdade, eu, não a atrapalho e tão pouco me preocupo ao longo de que foi combinado. Caminhando lado a lado, entre um corredor e outro, entre muitas conversas tive que parar em um caixa eletrônico, e Mariana quis aprender como fazia um depósito, achei a ideia ótima, afinal já com idade dela ter certa autonomia do uso de um serviço que será parte de seu cotidiano em breve.

Passei as instruções, e ela as fez com muita concentração, sorridente ao pegar o comprovante impresso entregou dizendo, é seu Dindo. Seguimos o passeio, logo à direita do caixa eletrônico uma das diversões que estava no roteiro (balde de pipoca inflável) além da fila de espera, percebemos que a diversão não agradaria pois, em outra ocasião ela já tinha ido e dessa, preferiu passar a vez dizendo: Dindo, melhor irmos ao cinema, e assim fomos. Na compra dos ingressos pela máquina online, apenas paguei, porque Mariana fez a compra num piscar de olhos, e após, o lembrete: não esquece a pipoca, Dindo.

Antes de entramos na sessão escolhida, alguns registros da tarde de férias entre selfie, caras e caretas um rapaz se habilitou a tirar um registro nosso. Logo após, veio outro rapaz e um garotinho que estavam com ele. Eram os pais do garoto. Quando eles foram embora, fomos para a fila comprar a pipoca e Mariana ficou me olhando e após perguntei a ela: Está tudo bem? Ela, fez sinal de sim, porém percebi que estava pensando na cena de instantes atrás. Então de forma didática e lúdica, expliquei a ela sobre, afinal são escolhas de cada indivíduo na sociedade, o mais importante é o amor e a felicidade entre duas pessoas.

Mesmo podendo explicar, cabe também uma reflexão sobre o tema, ainda mais pelo momento de muita intolerância e truculência. Estamos inseridos em uma sociedade plural e contemporânea com mudanças constantes. Respeitar a diversidade, liberdade e as escolhas de um indivíduo em ser quem ele quer, é a forma primária e essencial de convivermos em cidadania. Liberdade e educação andam lado a lado. A liberdade guia, dá a visão, já a educação questiona e aprimora a nossa forma de agir e existir.

Ducacroce. Criador e editor, ideias e outras coisas mais.

Todo dia é dia de amor

“Não há nada de errado passar uma data comercial sozinho(a), e às vezes, é melhor estar só a estar com alguém que o sentimento não é correspondido”

Dias atrás, estava ouvindo meus pais conversarem na cozinha, e minha mãe perguntou ao meu pai: sabe que dia é hoje? Meu pai, claro! E então, começaram a lembrar do dia do casamento. São 49 anos de matrimônio, imagino os altos e baixos momentos e mesmo assim seguiram, não deixaram de crer e querer vivenciar toda uma vida juntos. Vejo em meus pais um exemplo a seguir, através do diálogo, companheirismo e romantismo, conduzem e se reinventaram juntos durante esses anos, mesmo que possam ter momentos de discordância, ainda sim, prevalece o respeito.

Não há como não fazer uma ponte com os “relacionamentos atuais”, quem está dentro, quer sair e quem está fora quer entrar. O que deixa ambos os lados em desespero, é a chegada do Dia dos Namorados. Uma data que mexe muito com os sentimentos de casais, e principalmente de quem gostaria de curtir a data com alguém, essa tem até o poder de mudar a ideia de quem quer sair. Para todos os casos, cabe uma reflexão: será que, uma data pode realmente alterar ou definir o futuro de um relacionamento? Não há nada de errado passar uma data comercial sozinho(a) às vezes, é melhor ficar só a estar com alguém que o sentimento não é correspondido. Em um momento em que tudo é virtual o significado até mesmo dessa data sai um pouco de cena, devido a não mais valorização de criar um relacionamento real, hoje é tudo rápido, descartável, frio e distante. A tecnologia ao mesmo tempo aproxima e afasta as pessoas, um indivíduo no mundo virtual tem uma personalidade e quando ao vivo, o susto pode ser grande, ou até traumático. Nada contra quem é usuário de redes de relacionamentos, embora uma pequena porcentagem realmente procura algo sólido e verdadeiro. Sim, mesmo no virtual existem pessoas que apostam na alma gêmea entre as “conexões de ips”, afinal quem sabe surja algo real.

Saindo do virtual e entrando no real, é chegada a hora do encontro, das trocas de ideias sem teclado e tela como escudos, esse é o momento ideal para sentir se vale ou não seguir adiante. Se o papo for bom e a presença agradar, porque não investir? É claro, ir aos poucos, cautela sempre é bem vinda. Agora, se já sentiu que a conexão não foi boa, é bom desconectar de uma forma educada e sensata. São dois exemplos simples, mas que podem desencadear em um futuro a dois como já aconteceu com muitos casais virtuais que se tornaram reais. O início é o ponto de construção de bases sólidas, e dessas, toda uma estrutura pensada, planejada, arquitetada e executada pelo casal ao longo. Isso inclui reciprocidade, confiança e segurança.

Quem está fora, tem de avaliar se está preparado para vivenciar um relacionamento real, não basta só o querer vivenciar o Dia dos Namorados, uma relação é muito além de uma data. Quem está dentro, procure se reciclar, ouvir, dialogar e manter o clima de paixão inicial, por mais difícil que seja, esse é o grande desafio do amor a dois, criar formas para movimentar a sincronia diaria. Um relacionamento é um desafio constante, independe de momentos, e mesmo na adversidade os laços se fortalecem e quando de novos tempos, vem o momento de valorizar e comemorar com quem batalhou ao seu lado e não soltou as suas mãos. Desafios quando enfrentados a dois, é sinônimo de cumplicidade, união e sensibilidade, assim o amor se recicla, o desejo se mantém e com o tempo os laços se fortalecem, coisas do amor.

Ducacroce. Criador e editor, ideias e outras coisas mais.

Ao novo, um mundo com mais amor

“A vida é real, e ela cobra o mínimo de organização. Dessa forma, coloque o que almeja em prática, mas sem pressão”

Sempre observei muito a chegada da “virada de ano” e principalmente, o comportamento das pessoas em relação. Desde as compras necessárias ou não, e a tradição de deixar tudo para próximo a data festiva, embora tenha como antecipar certas compras. Acompanhar as cenas repetidas em shoppings, supermercados e outros locais requisitados por esses períodos, torna-se uma maratona digna de algum roteiro de série televisiva com capítulos intermináveis. O que atrai atenção é a coragem e disposição como esse “verão antecipado” de final de ano é encarado na região da Rua Vinte e Cinco de Março, centro de São Paulo. Além do “mar de sacolas” a espantosa “avalanche de pessoas” na Ladeira Porto Geral. É um contigente de várias regiões do país, até nossos amigos “hermanos” atravessam as fronteiras e se aventuram por aqui.

É provável que, muitos passam pela região devido ao caminho para o trabalho, mas acabam fazendo parte do “mar de gente”. Ir em lugares concorridos próximo as datas festivas ou durante, soa como aquelas “promessas gratuitas” tais como: ir à academia, mudar de emprego, trocar de apartamento, comprar um carro, investir dinheiro, casar, namorar, parar de beber e fumar entre outras. Todo dia, é “dia de virada”, não há necessidade de esperar 365 dias do ano para tomar decisões, essas batem constantemente em nossa mente, e muitas vezes não prestamos atenção ou procrastinamos deixando para o outro dia e assim seguimos o ano todo.

Mesmo quando planejado surgem os questionamentos: será ou não que dará resultado? Estou ou não no ritmo certo? Ao longo dos dias cabem os ajustes, e esses são totalmente bem-vindos. No cotidiano temos constantes decisões, essas geram ansiedades em certos momentos, até porque, queremos os resultados para ontem. Mesmo sabendo entramos em uma “disputa frenética interna”, aplicando ainda mais doses de responsabilidades, é importante decidir e fazer, entretanto com a organização tudo passa a se encaixar dando ritmo e evitando aborrecimentos desnecessários. Quando jogava futsal sentia o tal “frio na barriga”, e quando na hora de uma batida de penalidade a pressão era grande, porém, confiava no que tinha treinado. Não há como prever e controlar tudo ao mesmo tempo (não há como controlar o externo) e nesse ritmo pode se cair no “loop de estresses”. No entanto, se algo não está de acordo, reprograme e reavalie o que já foi feito, mantenha a disciplina no que foi traçado. O tempo joga junto e não contra, então lembre-se, você pode a qualquer momento: replanejar, recalcular e ajustar, três passos que fazem parte dos planos e projetos traçados. O importante é não abrir mão dos objetivos.

É no cotidiano que fazemos o ano valer ou não. Não há cores, comidas ou gestos que farão o ano acontecer de forma sonhada. Muitos desejam na véspera de “ano novo” um milagre de mudanças , mas isso só acontece em filmes, a vida é real e ela cobra o mínimo de organização. Dessa forma, coloque o que almeja em prática sem pressão. Faça com profissionalismo o que venha ser exercido. Planejamentos à parte, permita-se ao novo, a conhecer novas pessoas, lugares e hábitos. Deixe que o amor também faça parte desse novo tempo. Apaixone-se, sinta o coração bater mais forte. Ser feliz também faz parte, afinal a vida não é apenas de obrigações, aventure-se, a busca da felicidade deve ser constante, ela é como um combustível para toda uma vida. Precisamos de um “novo ano” com mais amor, mais sorrisos espontâneos. Termos cores em dias cinzentos, pessoas de mãos dadas e abraçadas esbanjando alegria. Que cada pessoa seja uma semente nesse novo ciclo, e que floresça de todo amor e independente de estações, que todas venham ser regadas de todo carinho e afeto. Acreditar no amor é viver a imensidão. Um brinde ao novo, a um mundo com mais amor e leveza.

Ducacroce. Criador e editor, ideias e outras coisas mais.

O amor e suas marcas

“Muito provável que, as árvores “ouçam as declarações” e no balançar dos galhos e sons das folhas, desejam boa sorte aos casais”

Sempre fui muito ligado as atividades físicas e quando possível, vou ao parque correr e aproveitar um pouco mais da tarde “inverno-verão” como ultimamente vem fazendo. A sensação de bem estar e liberdade poder correr por uma mistura de espaços e ambientes dentro do parque. Inicialmente o asfalto, logo vem o verde com uma horta a direita, adiante pé de algodão (parece neve no solo) dando as boas-vindas a um dos campos de futebol. Ao final, um corredor com bananeiras e um ipê-amarelo. A descida é íngreme é um terreno com obstáculos e requer cuidados. Na sequência, as quadras esportivas, piscina e até mesmo espaço para recreação de pets. Após esse percurso, a grama seduz para um repouso necessário. Meditar e deixar o sol irradiar a pele, observar o vai e vem das nuvens no céu, ver as crianças brincando por toda parte e até mesmo ouvir o som das folhas nas árvores num momento de total desligamento.

Estando no “quintal verde” faço um repouso próximo a uma árvore e observo em seu tronco todo talhado nomes de pessoas, desenhos, declarações e frases de amor. Fiquei pensando: Quanto tempo essas marcas aí estão? Casais estão juntos? As marcas estão presentes nos casais? A natureza ainda expressa tais sentimentos, mesmo que não mais vivenciados é a prova de como o amor acontece, transforma e talvez marque para sempre e ao menos a certeza de que um dia o amor marcou.

Os casais nem se lembram daquela tarde ensolarada cheia de declarações, mesmo que, a árvore ainda seja a prova daquele momento, talvez nem juntos estejam e desprenderam-se ao longo do tempo, assim como aquela folha, que estava junto ao galho segura e tremulando pela manhã e já a tarde, não mais. As declarações silenciaram-se, restaram apenas as estampas talhadas perdidas em algum lugar da memória. A árvore revela mesmo após anos as marcas do amor, desenhada e declarada, porém ela não pode influenciar no cotidiano, esse cada casal deve fazer valer e se reinventar constantemente.

Muito provável que, as árvores “ouçam as declarações”, no balançar dos galhos e sons das folhas, desejam boa sorte aos casais, e certamente torcem para que as marcas não fiquem talhadas apenas superficialmente, mas enraizadas em ambos corações. Essa é apenas uma das inúmeras árvores com várias histórias de amor gravada. Tive a sorte da experiência de (uma viagem), imaginar casais em mente como em uma leitura de um romance. Quando estiver próximo a uma árvore, observe qual a história  esta “escrita nela”, quem sabe ganhe um passaporte e faça uma boa viagem. Ainda em solo verde, o sol se fazia presente, as folhas caíam na minha cabeça, tão logo me levantei e sem antes de partir mantive o hábito, uma água de coco, por favor.

Ducacroce. Criador e editor, ideias e outras coisas mais.