No embarque das artes 3

Para um melhor acompanhamento, indico a você a leitura dos posts anteriores : 

No embarque das artes

No embarque das artes 2

“As artes tem os seus segredos que se tornam íntimos, e mesmo com tentativas de desvendá-los automaticamente mais proximidade é criada. E dentro de um contexto de busca, a infinidade de possibilidades de mergulhar em fatos os quais levam a uma disparidade de acontecimentos, e bem provável que, nunca se chegue a um destino exato, afinal ninguém tem esse poder seria muita pretensão, a não ser através da persuasão da arte e reação espontânea a essa conexão”

– Será que essas câmeras estavam desligadas? Deram um beijo leve pra não borrar o batom e maquiagem, e após alguns segundos a energia oscilou, tudo parou e Jonh sentiu que não estava mais segurando a mão de Cindy, e repentinamente o elevador desceu com toda velocidade, e quando parou e abriu as portas, Jonh estava no elevador de seu condomínio, justamente no seu andar, ao abrir a porta de seu apartamento, percebeu que tudo estava diferente, e após uns segundos o telefone tocou, e quando atendeu:

– Jonh, Jonh! Sou eu, a Cindy!

Jonh, novamente no chão olhando para o teto, sem reação em um espiral profundo de pensamentos intermináveis. E ao fundo:

– Jonh, Jonh!

Em um despertar com efeitos de “ressaca de pensamentos perturbadores”, Jonh se sentia totalmente perdido, e dessa vez, ainda tudo mais enigmático, afinal embarcou em uma viagem cheia de variados contextos, e ao mesmo tempo, Cindy se tornava um grande mistério a ser decifrado. Jonh conseguiu levantar escorando no sofá, e o transe foi quebrado pelo som das teclas de sua máquina de escrever, que datilografou a seguinte mensagem em caixa alta: “Procure um local visitado por muitas pessoas, no percurso desse espaço, encontra-se variadas diversões alucinantes as quais deixam adrenalina pulsante e os gritos de emoções são constantes”. Jonh, nesse momento ficou paralisado não querendo crer, mas já sabia que já estava embarcando em outra grande aventura.

Jonh visualizava a sua sala novamente com uma decoração diferente, uma pincelada de misturas artísticas de variadas décadas, e a moldura com Dorothy já não tinha mais a sua imagem. Espantosamente, ao tempo em que cada palavra era lida, essa se apagava, e ao término a máquina de escrever continuou datilografando sozinha. Quando tentou pegar a folha em mãos, ela pegou fogo instantaneamente. Estático por uns instantes, vieram flashes de quando reencontrou Cindy na sala do cine e a beijou (foi nesse intervalo que flashes de variados lugares apareceram e um especificamente era a resposta desse enigma). Andando em círculos, pensando no texto datilografado, coçando a cabeça e foi quando deu uma suspirada profunda, olhou para o teto e observou uma pintura (Parque de Diversões – Agostinho Batista de Freitas) pulando em gritos socando o ar como comemorando um gol: é esse o local! Cindy esteve nele ou está nele? E agora, como saber?

A máquina de escrever parou de datilografar, e de imediato a televisão ligou sozinha e justamente uma transmissão ao vivo de um parque de diversões estava sendo transmitida, a grande novidade era que as atrações iriam funcionar 24h sem parar, e uma festa atração surpresa estava prevista, um detalhe chamava atenção, as última entradas estariam disponíveis em uma disputa de fliperama no Fliper Retrô, região do centro, e o jogo escolhido (Taito – Cavaleiro Negro 1980).  Jonh com ar de riso:

– Conheço bem esse jogo, é a chance que tenho de entrar no parque, e sinto que, muitos outros mistérios estarão presentes ao longo desses caminhos, afinal, o que vale mesmo é a jornada trilhada. Como de habito, ligou a jukebox e escolheu uma música (The Bolshoi – Away) e partiu para o banho em passos dançantes e esses, seguiam embalados e após, já ao som de (Oingo Boingo – Just Another Day). Com certa pressa, escolheu rapidamente uma roupa e partiu para o elevador, em cada andar parecia estar passando por uma época diferente, quando chegou ao térreo um desfilar de chapéus e todos trajados uniformemente de ternos elegantes. Jonh atravessou a rua e quando e ouviu:

– Bom dia, Sr. vai um trato aí no pisante? Era um simpático engraxate. Jonh, para ajudar disse: Bom dia, pode sim! Me chamo, Jonh e você? Sou Tony, sente-se e fique à vontade, você é novo por aqui? Jonh, com olhar pensativo responde:

– Pode-se dizer que sim. Tony, preparando a escova e a graxa comenta:

– É, nunca saberemos de fato o que os caminhos nos reservam, parece que já estive em vários lugares, sei bem como é, nem sempre fui engraxate, mas isso é uma longa história, vou aproveitar e ligar o rádio, faz bem para fugir dessa poluição sonora. Já na primeira estação sintonizada com a música (Bill Haley & His Comets – Rock Around The Clock) e o melhor de tudo, os pedestres começaram a dançar ao ritmo fazendo coreografias, até o guarda de trânsito não resistiu. E no ritmo de outros sucessos (Chubby Checker-The Twist, Stupid Cupid, Connie Francis – Stupid Cupid,

The Beatles – Twist & Shout, Ray Charles – Hit the road Jack!, Chuck Berry – Johnny B. Goode), os sapatos ficaram um brilho só, e Jonh foi se despedir de Tony que lhe disse:

– Boa sorte em sua aventura, meu amigo, aproveite a viagem. Assim que olhou para trás, o engraxate havia desaparecido e apenas uma latinha de graxa no cantinho da parede se fazia de prova, e assim que voltou o alhar para a avenida, percebeu um corre, corre e um garoto lhe pedindo ajuda:

– Moço, moço me ajuda! Estão atrás de mim. Jonh observou uns homens bem trajados e carrancudos vindo em sua direção e então de imediato, escondeu o garoto numa pilha de jornais, e quando indagado por um dos bruta montes, apenas disse: não vi ninguém. Esperaram um pouco e começaram a conversar: Meu nome é Domenico e o seu? Sou, Jonh! Você salvou a minha vida, lhe devo uma, vamos até a Vila Italiana, tenho de apresentar você a minha família. Andaram por umas quatro quadras e chegaram no local, bandeiras da Itália em todos os lados, movimento intenso, barraca de frutas e verduras e muitas crianças brincando nos hidrantes abertos.

Quando de repente, uma limosine preta toda filmada estaciona, Jonh fica gelado! Do nada começa a tocar nos falantes da vila (The Godfather – El Padrino) lentamente o vidro traseiro vai revelando quem é o passageiro. Os dois seguranças desceram da limosine, abriram a porta, e para espanto de Jonh, Dorothy estava no colo desse passageiro dando uma saudação com a patinha esquerda. Desce um homem muito bem trajado de terno preto, com uma rosa no bolso, grisalho de queixo avantajado, com olhar forte, segura o rosto de Domenico dizendo:

– Feliz que esteja vivo, meu filho! Sei que foi a Família Lorenzo que quis te pegar, isso não ficará assim. Quem é esse rapaz que está com você?

– Graças a ele escapei dos capangas. E então a apresentação: Jonh esse é o meu pai, Don Tommaso. Ambos apertaram as mãos e Don com olhar fixo de demolir paredes diz a Jonh:

– Sou eternamente grato pela ajuda, tens meu respeito, e o que precisar pode contar com a Família Tommaso. Enquanto se cumprimentavam era visto no início da rua um princípio de tumulto, novamente os capangas da Família Lorenzo, e dessa vez em maior número, o clima ficou pesado. Jonh e Domenico correram para uma viela e no final dela havia uma porta enferrujada, despediram-se rapidamente, e quando atravessou a porta saiu em uma avenida bem movimentada.

Percebia uma concentração muito grande de mulheres que gritavam com os braços erguidos: Silenciadas nunca mais! Era um protesto (violencia contra as mulheres) em uma das principais avenidas da cidade, Jonh acabou se envolvendo e entoava os mesmos gritos em meio aquele mar de vozes, e não apenas femininas, homens e até crianças eram presentes. Mais adiante, o carro de som deixava o clima um pouco mais festivo com músicas ligadas a causa (Pitty – Desconstruindo Amélia, Beyoncé – Run the World (Girls),

Christina Aguilera – Can’t Hold Us Down, Rita Lee – Pagu, entre outras).

Em meio aos gritos de protestos, Jonh foi comprar água, e aos longos goles refrescantes de água ficou olhando os televisores da vitrine de uma loja de eletrônicos, e o canal sintonizado trazia informações sobre o parque de diversões, e alertava que estava lotado, e era preciso chegar logo ao Retrô Arcade. Foi quando a vendedora de água o avisa:

– Corra! Corra! Jonh, assustado engasgando com a água, o que foi?

– Infelizmente um grupo de reaças causou problemas em meio ao protesto e a polícia pra variar resolveu agir contra o protesto, bando de irresponsáveis!

A sorte que a estação estava próxima, e assim que entrou percebeu uma linda decoração em todas as paredes, essas continham uma variedade de artes minimalistas (artistas, cantores, filmes, bandas, personagens, etc.). Os olhos de Jonh era pura arte, e ao se dirigir a plataforma começa a ouvir nos alto-falantes (The Warriors – In The City) observando a chegada do metrô, esse bem diferente dos padrões era de uma outra época todo grafitado com aspecto já de uso de anos.

Segundos antes do metrô parar na plataforma uma gritaria ferrenha, eram gangues de bairros em meio a uma briga, e quando as portas abriram uma gangue conseguiu entrar, deixando as que não embarcaram revoltadas. Os membros conversavam assustados entre eles:

– E agora meu irmão, como faremos para chegar ao nosso bairro? Temos de atravessar a cidade toda! Vai ser uma loucura! Foi quando um dos membro se aproximou de Jonh dizendo:

– Não tenha medo, não faremos nada a você. Só estamos longe de nosso bairro, somos The Warriors. E Você, quem é? Olhando fixamente o símbolo da gangue e gaguejando vem a resposta: Sou, Jonh! Legal, fica na sua aí, que nada vai te acontecer. Passando duas estações, o metrô parou devido a problemas técnicos na linha, ficaram aguardando um pouco antes de saírem da estação e nos alto-falantes

(Barry De Vorzon – Baseball Furies Chase). E assim que desceram a rua, uma gangue vestida de time de baseball saiu correndo atrás dos Warriors.

Dando uma respirada profunda, Jonh saiu da estação e foi até um bar próximo a uma esquina, sentou e coçava a cabeça tentando sintetizar tudo que aconteceu até aquele momento, mas já sabia que muitas outras coisas estavam por vir. Foi quando uma atenciosa garçonete com andar elegante e olhar misterioso foi lhe atender:

– Algo para refrescar esses pensamentos ensurdecedores? Da cozinha consegui ouvi-los!

Jonh, balbuciando: pode, pode, por favor, um suco de abacaxi com limão, obrigado. A garçonete com visual meio new wave comenta: acho que já te vi em alguma festa pelo bairro, você não é estranho, afinal não ia esquecer o rosto de um gato como o seu, já volto. Jonh, suspirou e dei uma rosadinha de lado, em seguida olhou para a decoração do bar que a todo tempo era mistura de artes: Renascimento, Barroco, Romantismo, Impressionismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Modernismo.

A viagem pelos movimentos artísticos acabou quando o suco chegou, estava bem caprichado, e no guardanapo o contato da garçonete: me ligue quando quiser, Suzy! Ao provar do suco foi agradecer, e já não via mais a atenciosa garçonete, nenhuma surpresa para ele, e quando olhou o guardanapo, a arte do parque de diversões estava em decalque mesclado com a mancha de batom. Jonh, levantou e percebeu novamente uma mudança de clima, a avenida agitada, e foi quando apareceu um grupo de garotas new wave cantando e dançando (Cyndi lauper – Girls Just Want To Have Fun).

Estavava acontecendo uma festa a algumas quadras abaixo, e Jonh foi no embalo junto de outras pessoas que passavam. Ao chegar ficou deslumbrado com a arquitetura histórica, o local uma casa chamada Dark Night, tinha uma aparência de igreja medieval e sua decoração era toda baseada no movimento gótico, e na entrada um vitral com rosáceas coloridas enormes davam as boas-vindas ao som (The Rescue – Tell Me Now). Os drinks eram grátis, curiosamente apenas em duas cores, vermelho e roxo.

A festa estava normal, mas quando começou a tocar a música (Love and Rockets – So Alive) as luzes ficaram piscantes em tons avermelhados, e um clima sombrio pairava, os vitrais cada vez mais reais e já início de gritaria com alguns morcegos causando pânico, e foi quando Suzy apareceu do nada segurando os braços de Jonh:

– Vamos sair daqui! Esse lugar está cheio de criaturas setentas de sangue, em meio ao corre, corre conseguiram sair. Pararam na esquina e os olhos de Suzy estavam vermelhos e os seus dentes caninos estavam crescendo, ela foi se aproximando comoque seduzindo Jonh, dizendo:

– Você é meu! Não vai escapar! Quero seu sangue! E já sentindo a aproximação dos dentes cravando o seu pescoço, Jonh ouve a voz da sanguessuga: Maldito! Maldito! Era o seu amigo Vitor, que deu um golpe certeiro em Suzy, dizendo:

– Fazia tempo que estava te caçando, sua criatura das trevas! Jonh, atordoado no chão observava os últimos momentos de Suzy na terra ao ouvir:

Eu só queria o seu sangue e o seu amor, meu gato! E em seguida, o golpe fatal no coração e em segundos a criatura desapareceu no ar assim como todo o local da festa, que se transformou em um museu de artes. Vitor, guardando a estaca no seu carro, comenta:

– Meu amigo, você se envolve em cada uma, fala sério. Desde a nossa primeira viagem te disse: fique esperto com o centro, tem muitas coisas que acontecem, mas vejo que você adora uma aventura, não é mesmo? (risos) Venha, levante-se! Jonh, agradeceu o amigo dando um forte abraço, e curioso perguntou: Pensei que era apenas taxista?

– Vitor responde: faço muitas coisas nessa vida, e como viu, nas horas vagas sou caçador de criaturas, risos.

Ambos começaram a conversar, e Jonh comentou que precisava chegar ao parque de diversões, mas antes tinha de ir até o Fliper Retrô. Entraram no carro e  quando parou no semáforo, uma Ferrari California Spyder 1961, emparelhou ao lado esquerdo, ouvindo bem alto o som da banda

(Sigue Sputnik – Love Missile F1-11) eram três jovens: um garoto ao volante usando uma boina preta e óculos escuros, uma garota ao lado bem elegante com óculos escuros, e um rapaz mais tímido no banco de trás de óculos escuros e uma boina xadrez, e o condutor comenta: “A vida passa muito depressa. Se não paramos para curti-la de vez em quando, ela passa e você nem vê”. Assim que acelerou, após alguns metros a Ferrari sumiu, e Vitor rindo: Tá vendo, a cada segundo aparece alguma coisa, de tédio ao menos por aqui não morremos, risos de ambos. Quando o carro passou em frente a uma outra estação de metrô, Jonh observou os Warriors escapando novamente de outra gangue.

Após alguns minutos rodando, a dupla chegou ao Fliper Retrô, um espaço com vários andares cheios de Fliperamas (diversões eletrônicas) para todos os gostos e o local estava lotado. Para adquirir as entradas vips para o parque de diversões, Jonh teria de acertar o maior quantidade de bônus no arcade Cavaleiro Negro. Os concorrentes eram experientes, mas Jonh já conhecia os segredos para conseguir uma pontuação acima da média, e assim, na primeira ficha já estabeleceu o novo recorde, e esse, não foi alcançado. O vencedor recebeu as entradas aparecendo ao vivo no canal que cobria a promoção e Vitor, saudava o seu amigo com gritos: Fliperman, fliperman! (gargalhadas de ambos)

Antes de partirem foram conhecer melhor o espaço, e quando chegaram próximos as escadarias para o segundo andar, uma exposição de artes de óleo sobre tela e novamente a arte (Parque de Diversões – Agostinho Batista de Freitas) apareceu, e dessa vez emitindo uma luz, curiosos oss amigos se aproximaram da arte e automaticamente foram enviados ao parque de diversões.

Na entrada muitos artistas circenses, e música ambiente (Kiss – Psycho Circus) era um show e tanto mesmo antes de entrarem no parque e encontrar Cindy. Assim que passaram as catracas foi como se tivessem mudado de época novamente, cada espaço do parque era uma festividade diferente de culturas de países. Os dois amigos tiveram o mesmo pensamento quando viram a bandeira do México a qual tinha como cultura (El Dia de los Muertos) e era visível muitas pessoas com vestias de Catrina e Caveira mexicana.

– Jonh responde a Vitor: Sim, meu amigo, estamos no mesmo pensameto, Cindy só pode estar nesse espaço cultural, era o local que íamos da última vez que nos encontramos, consigo sentir que ela está bem próxima a nós. Quando estavam a caminho, perceberam alguns homens vestidos de cawboy encarando e se aproximando, Vitor dizendo:

– Isso não vai dar certo! Saíram correndo em direção a festa italiana, e quando sem saída, ouviram:

A diversão acaba aqui seus idiotas! Quando do nada, seguranças de Don Tommasio entram em cena e acabam com os cawboy (homens de da família Lorenzo) em sequencia aparece o próprio Don comentando:

– Você teve meu respeito, e por isso, retribuo o favor que fez ao salvar o meu filho. Não esqueça, logo o parque irá fechar, pode ser que não encontre o que tanto procura. Boa diversão! Perdidos no tempo, agora lutavam contra os ponteiros, e quando ouviram anunciar: hoje tem a inauguração da maior montanha russa do mundo, e quem tem ticket aquirido pela promoção tem preferência.

Assim que ouviram, não pensaram meia vez, correram em direção a atração essa ficava justamente no setor mexicano, Jonh tentava a todo custo encontrar Cindy, foi quando uma voz leve sussurrou em seu ouvido: porque demorou tanto, meu amor?

Jonh arrepiou até o último fio de cabelo, sentindo o toque de mãos macias e quentes, ficou paralisado por segundos, até que Vitor o despertou estalando os dedos em seu rosto, acorda, acorda, amigo! Mas, só veio voltar em si quando Cindy lhe deu um beijo profundo. Jonh parecia levitar e todos eram audiência na cena, essa foi interrompida quando a fila andou e já eram os próximos a sentir a adrenalina na montanha russa ouvindo (Red Hot Chili Peppers – Rollercoaster).

Jonh e Cindy sentaram no primeiro vagão, Vitor logo atrás conversando com uma Catrina. Assim que deu a partida, curvas e mais curvas com descidas à esquerda, à direita, subida até o céu e descida até onde não se pensava ter mais fim, tudo muito rápido até que uma luz reluzente é emitida próxima a última descida e tudo muda, agora em outro tempo e espaço, reaparecem novamente no Café Retrô de frente ao quadro (O Grito – de Edvard Munch).

Os três ficam em silêncio profundo, mas ao mesmo tempo sabem muito bem de tudo que vivenciaram. Alguns minutos após, saíram e para espanto o carro de Vitor estava estacionado, ele gentilmente oferece carona ao casal. Durante o trajeto foram relembrando as histórias e curiosidades de todas as aventuras que ainda pairavam uma grande dúvidida: Será que realmente essas experiências no mundo das artes foram reais? Chegaram ao apartamento de Jonh, e Vitor se despediu:

– Deixarei vocês dois conversarem. Jonh, fica esperto, e se for ao centro fique longe de confusões. (risos) até a próxima viagem. Cindy, cuida do meu amigo, e por favor, não suma! Risos do trio aventureiro, que se abraçou, e assim que o carro de Vitor parou no semáforo, para nenhum espanto de Jonh, ele sumiu.

O momento agora era de um boa conversa, mas pelas trocas de olhares, não teria nada de diálogo. E quando no saguão do edifício novamente se beijaram, e aquela mesma luz do reencontro tomou conta do ambiente e tudo em torno mudou, pareciam estar no “tempo certo”, entraram no elevador beijando-se loucamente e dessa vez, tamparam a câmera de segurança e travaram o elevador, afinal a “sede de amor” era grande em cada toque e suspiro.

Quando chegaram ao apartamento, já nus, se declaravam no olhar, saciaram do amor no chão, sofá, canto da parede, cama, cozinha, em frente a janela todos os lugares foram provas, saciaram-se de amor como nunca e reiniciavam no encontro dos lábios. Estirados no chão e exaustos pela forte “onda de amor” logo pegaram no sono, e foi quando Jonh despertou assustado e percebeu que estava sozinho e a decoração estava diferente, Dorothy estava de volta na moldura, mas e a Cindy? Jonh, começou a gritar: Cindy, Cindy, Cindy! De novo não!! Já entrando em paranoias, ouviu a voz de sua amada: Estou aqui, meu amor! Vindo em sua direção com olhar brilhante e profundo, já se despindo novamente, calando a boca de Jonh com o dedo indicador da mão esquerda dizendo:

– Agora as nossas histórias estarão juntas eternamente, jamais o deixarei, você é o meu grande amor, o qual procurei por muitas épocas, és a minha obra de arte perfeita. Viajou por lugares que só eu sei. Quando se beijaram na aurora da manhã ao som (Duran Duran – A Matter Of Feeling) tudo em torno mudou, Jonh e Cindy se tranformaram em um moldura do movimento romancista (Edmund Leighton – A Ordenação de um Cavaleiro).

Alguns anos depois, um jovem casal foi morar nesse mesmo apartamento, em comum apreciavam artes e ficaram encantados desde a primeira visita feita meses antes do casamento. E como a decoração ficou mantida, isso se tornava um motivo ainda mais especial, esse que refletia agora no desejo realizado, algo imaginado desde quando em época de namoro nas inúmeras viagens mundo a fora. Perceberam e sentiram as energias vindas de cada objeto, e quando tocaram na moldura de Jonh e Cindy, trocaram de lugar transformando-se na arte (Knut Ekwall – A proposta) e o casal aventureiro estava de volta, mas isso são outras longas histórias entre artes e infinitos mistérios.   

Lista da trilha sonora:

The Bolshoi – Away
Oingo Boingo – Just Another Day
Bill Haley & His Comets – Rock Around The Clock
Chubby Checker-The Twist
Stupid Cupid – Connie Francis
The Beatles – Twist & Shout
Ray Charles – Hit the road Jack!
Chubby Checker – Let’s Twist Again
The Godfather – Orchestral Suite
Pitty – Desconstruindo Amélia
Beyoncé – Run the World (Girls)
Christina Aguilera – Can’t Hold Us Down
Pagu – Rita Lee
The Warriors – In The City
Barry De Vorzon – Theme From “The Warriors”
Barry De Vorzon – Baseball Furies Chase
Cyndi lauper – Girls Just Want To Have Fun
The Rescue – Tell Me Now
The Psychedelic Furs – Love My Way
Sigue Sigue Sputnik – Love Missile F1-11
Kiss – Psycho Circus
Red Hot Chili Peppers – Rollercoaster
Duran Duran – A Matter Of Feeling

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais

No embarque das artes

As artes causam um efeito o qual jamais saberemos da profundidade que acessamos através delas, muito além de um simples olhar, vai do navegar, mergulhar em seus mistérios em formas de pinceladas misteriosas, as quais, cada um cria o seu tempo, espaço gerando um mundo de ideias e personagens que vagam além de percepções e pensamentos

Era apenas mais um dia comum para Jonh, e de habito estava em seu recinto favorito, Café Retrô uma mistura de livraria, com exposições, cinema, teatro, stand up e muita cultura envolvida. Sentado no mesmo lugar, tomava seu café preferido apreciando um livro que já tinha sido lido algumas vezes, mas gostava de rever a trama a qual mudava nas releituras. Em certa ocasião, uma simpática mulher de andar elegante sentou de frente a Jonh, ela o olhava apreensiva queria de alguma forma  atrair a sua atenção, pois percebia a forma devota a qual consumia o café, e os olhos pensantes e frenéticos que devoravam cada palavra do livro. Em um “respiro para a visão”, Jonh percebeu que estava sendo observado e quando do encontro dos olhares, espontaneamente veio o sorriso de boas-vindas, a mulher então ergueu a xícara de café como fazendo gesto de brinde, e desse momento em diante toda a história começa a ter um enredo diferente, assim como o analisar de uma arte, nunca sabemos de fato o que iremos sentir e vivenciar.

Ao levantar para apreciar um quadro que estava em exposição, ele aproveitou a oportunidade e se apresentou para então mulher que agora não era mais uma visão.

– Prazer, meu nome é Jonh, você já esteve aqui antes? Mesmo sentindo um pouco de nervosismo conseguiu a aproximação que queria. Com olhar fixo, a mulher o respondeu:

– Prazer Jonh, meu nome é Cindy, estou aqui pela primeira vez e gostei muito do ambiente é agradável, pulsa e respira cultura. Apertando o livro com mais força, Jonh se mentém na ofensiva para quebrar mais o gelo:

– Gostou é, que ótimo, fico muito feliz! Aqui é o meu lugar preferido, venha irei te apresentar os outros andares. E assim, seguiram por horas com variadas xícaras de café, comentando as artes, compartilhando histórias, e o que mais atraia atenção eram os risos a todo tempo.

Quando repentinamente, Cindy avisa, está tudo ótimo, mas tenho de ir, anota meu telefone. Jonh foi pego de surpresa, saiu como foguete atrás de uma caneta, essa que falhou quando foi escrever e apenas o decalque dos números foram registrados na contra capa do livro. Cindy, antes de partir o encarou avisando: não esquece de me ligar mais tarde, em seguida lhe deu um beijo na testa e uma piscadinha com olho esquerdo. Antes mesmo de tentar dizer alguma coisa, ela já tinha sumido da visão e a ansiedade já estava pulsante em John que ficou próximo ao quadro, O Grito – de Edvard Munch, pediu mais um café e passou a apreciar a pintura com profundeza.

O retorno para a sua casa foi via metrô, em cada estação uma forma de tentar desvendar o que acontecera horas atrás no café, quanto mais pensava mais confuso ficava, e assim que chegou em casa, pegou um lápis e passou por cima do decalque do contato e deu um grito de alegria: Consegui! Consegui! Tirou os sapatos, pegou o telefone com extensão, deitou no sofá e discou o número, a cada som da discagem uma batida diferente o fazia sentir mais adrenalina. Quando no terceiro toque uma voz feminina:

– Alô, quem fala?

– Aqui é o Jonh, quero falar com a Cindy?

– Só um segundo, irei chamá-la!

– Alô, Jonh é você?

– Sim, sim! Liguei para agradecer a companhia de hoje, quero saber se podemos nos encontrar mais tarde? Após alguns segundos foi ouvido ao fundo, depois não fale que não te avisei, Cindy responde:

– É, podemos, sim! Anota meu endereço, por aqui tem algumas opções que você irá curtir. Jonh no outro lado da linha dava socos no ar de alegria respondendo:

– Maravilha! Tá, por favor, pode falar o endereço. Despediram-se, e o clima ficou no ar, mas com certo mistério, afinal o que aquela frase no intervalo da ligação queria dizer? Em seguida, para não se atrasar, Jonh ligou a sua Jukebox que começou a tocar uma música da banda (Depeche Mode – Strange Love), e nesse ritmo foi para banho cantando e fazendo passinhos. Fez a barba, escolheu uma roupa descolada e para evitar qualquer transtorno preferiu pegar um taxi, afinal iria para região do centro. Após três táxis passarem batidos, um atendeu o seu sinal, ao entrar no carro flagrou o taxista cantando todo animado uma música que estava tocando na rádio (Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover). Recebeu boa noite do simpático taxista e tão logo começou a puxar papo com Jonh, pois percebia o passageiro bem empolgado. O motorista agitando a cabeça ainda ao embalo da música, olha pelo retrovisor e quebra o silêncio:

– Boa noite, amigo! Meu nome é Vitor e o seu? Vejo que está bem animado, a noite promete, hein.

– Vitor, boa noite, meu nome é Jonh. Sim, estou bem animado para o encontro, algo me diz que será inesquecível. O taxista com sorriso aberto responde:

– É, ir a essa hora para os lados do centro, tenho de admitir, você é bem corajoso, por essas regiões muitas coisas realmente podem acontecer, faça valer, mas fique esperto nos detalhes! A corrida chegou ao final, Jonh desceu do táxi pensativo nos recados recebidos, agradeceu a Vitor, que já estava cantando outra música (The Police – Message In A Bottle).

Andou alguns metros e encontrou o endereço do apartamento, esse que fazia parte de um espaço que tinha uma loja de vinil abaixo e um cinema ao lado. Quando tocou o interfone foi atendido por Deby, amiga de Cindy e de imediato destravou a porta para que ele subisse, preferiu pegar elevador, quando esse chegou, um grupo de new wave saiu o encarando dizendo: esse cara é um careta! Chegou ao 13º andar e ao sair ouvia o som bem alto da banda (The Cure – In Between Days) e logo sacou: esse som só pode ser do apartamento de Cindy.

O apartamento de número 1313, Jonh apertou a campainha e foi atendido por Deby, vestida de gótica segurando uma taça de vinho e sua amiga felina Dorothy uma bolinha de pelos preta e branco miando:

– Entre, fique à vontade, Cindy logo virá, aceita uma taça de vinho? Ainda receptando as energias do local, Jonh aceitou a bebida e Dorothy ficou trançando em suas pernas querendo atenção. O apartamento todo decorado com posters de Bandas de Rock, Pop Art, instrumentos e algumas pinturas espalhadas pelas paredes. Ao beber o vinho começou a andar pelos espaços absorvendo todas as informações do ambiente. Foi quando do nada uma porta se abriu e Cindy colocando os brincos saiu repentinamente quase derrubando a taça de vinho:

– Nossa que desatrada! Me desculpe, Jonh! Quase sujei a sua roupa, aliás você está muito elegante. Após quase tomar um banho de vinho, sorrindo ele responde:

– Não se preocupe, não foi nada. Por falar nisso, você está linda! Ela se aproximou, pegou a taça de vinho, deu um pequeno gole e após um leve beijo em Jonh dizendo:

– Você ainda não viu nada! E novamente uma piscadinha com o olho esquerdo, andando em direção a um quadro de Pop Art cheio de artistas da música, cinema e outros segmentos culturais comentando:

– Esses são os meus heróis! Cada um tem um pouco de minha vida, em seguida um sorriso estranho e ao mesmo tempo contente, isso deixou Jonh reflexivo:

– Pelo seu sorriso, vejo que realmente tem uma conexão forte com esses artistas, não é mesmo? Isso dando um gole no vinho e esperando a resposta e ela veio:

– Vocé é muito observador, por isso é um exímio apreciador de artes, certamente logo mais irá entender melhor essa conexão. Um clima de suspense tomou conta da sala, até que a voz de Deby quebrou esse momento:

– Ei, estou saindo, vou à festa Gótica, caso queiram ir, é só dizer o meu nome na entrada, e quando forem sair, não esqueçam de fechar a porta e deixar a ração e água para a Dorothy, em seguida miados da felina agradecendo. Ambos responderam juntos:

– Não esqueceremos, boa festa!

O som ficou ligado e uma música acabou fazendo o clima mudar (Echo & The Bunnymen – The Killing Moon) em sincronia, deram um gole final nas taças de vinho e partiram para os beijos e abraços acalorados, Dorothy mexeu seus bigodinhos e sumiu, e a cena foi esquentando até que o telefone tocou. Cindy respirando fundo disse, espera um pouco, já volto. Atendeu o telefone, era o seu amigo Edy, estava precisando conversar urgentemente, pois algo tinha acontecido e ele não estava sabendo lidar com a situação, e de imediato ela concordou em ajudar. Ao sair da ligação, Jonh com olhar espantado pergunta:

– Está tudo bem com você? Ela após uma pausa responde:

– Sim, só temos de sair agora, depois terminamos o que iniciamos, em seguida um outro beijo e assim seguiram ao encontro de Edy, sem antes deixar a ração e água de Dorothy que agradeceu aos miados.

Quando o elevador abriu no andar, um bando de punks presentes ficaram olhando de forma intimidadora, mas era só pose, pois eram amigos de Deby apesar de ela ser gótica havia amizade natural entre os movimentos. Ao chegarem na calçada deram sinal para um taxi, esse atendeu e ao se aproximar Jonh incrédulo disse:

– Com esse som, só pode ser o Vitor! De fato, era ele, estava ouvindo em alto e bom som (Billy Idol – Dancing With Myself) e o condutor todo dançante ao volante dizendo:

– Ué, você de novo, tá perdido, meu amigo?(risos) Nossa, agora sei o motivo de seu nervosismo quando te trouxe, olhando para Cindy, que de imediato olhou para Jonh sorridente que concluiu:

– É, você acertou, meu amigo! Em seguida apresentou Cindy ao condutor, estranhamente ficou pensativo coçando a fronte:

– Acho que te conheço de algum lugar, só não estou me lembrando da ocasião. Cindy, encabulada devolve:

– Pode estar me confundindo, afinal inúmeras pessoas entram em seu carro, não é mesmo? Vitor, aceitou a resposta dizendo, tem razão pode ser um equívoco de minha memória.

Por entre muitas conversas ao longo do trajeto, o tempo passou despercebido e tão breve chegaram ao destino programado. Cindy e Jonh agradeceram a Vitor pela corrida e deram uma boa gorjeta, essa muito bem-vinda e um aviso grátis:

– Fiquem atentos! Já ouvi muitas histórias enigmáticas desse local, espero que se divirtam, até a próxima viagem. Cheiro de gasolina no ar, assim como os pensamentos de ambos sobre a fala do taxista se perdiam no espaço de um céu cinza e de lua cheia. O local era um prédio histórico muito charmoso e requisitado e passou a ser usado para eventos.

O casal entrou e ficou abismado com infinidades de artes exibidas por metro quadrado, em cada andar tinha um tipo de decoração diferente com obras artísticas de variadas épocas. Foram até a recepção e em seguida subiram até o terceiro andar usando as escadas, pois queriam absorver mais daquele ambiente cheio de riquezas culturais. Ao chegarem no andar desejado, apenas o silencio tomava conta junto a pouca iluminação, apenas uma luz roxa solitária fazia-se presente bem distante, indicava ser ao final do corredor. Seguiram a intuição e quando chegaram próximo a luz abriram uma porta e no mesmo instante, uma gritaria tremenda, balões, confetes, serpentinas tomavam conta do ambiente. E de repente aparecem Edy e Deby fantasiados gritando:

– Surpresaaaaa!!!! Achou que íamos esquecer de seu aniversário, amiga? Cindy segurando a emoção dá um abraço nos dois amigos agradecendo. Jonh logo caiu no ritmo da festa chamando Cindy para ir a pista de dança e por lá ficaram curtindo variadas músicas: Tears For Fears – Shoult, The Smiths – Bigmouth Strikes Again, The Outfield – Your Love, The Cure – The Lovecats, The B-52’s – Legal Tender, INXS – Mystify, New Order – Bizarre Love Triangle, entre outras mais. E quando tocou (Duran – Save a Prayer) não se seguraram e de imediato cruzaram os olhares e começaram a se beijar, a pista ficou pequena para eles. Deby que já conhecia o local indicou espaço o qual poderiam aproveitar à vontade o momento, era uma passagem secreta que levava a uma suíte cinco estrelas.

Cindy e Jonh aceitaram a proposta, a cada passo uma pausa para mais beijos, chegaram à porta da suíte, era dourada com vários símbolos em decalques, dentro um oásis de pura arte, foram apenas esses segundos que pararam, pois queriam mesmo era desfrutar de cada segundo, e assim fizeram ardentemente, nus a luz roxa e vermelha que criavam o ambiente ainda mais quente e vibrante entre cada beijo e caricias. Cindy era toda prazer sentia desejada a cada olhar de Jonh, esse parecia estar nas nuvens, ambos se saciaram incansavelmente. E quando exaustos olhavam para o teto e observavam mais pinturas de Pop Art, e por coincidência as mesmas que Cindy tanto venera. Comentaram sobre, e ficaram conversando por um tempo, até que a fome chegou forte, sorte que o frigobar estava cheio, afinal ninguém vive só de amor. Começaram a andar pelo quarto até que acharam o quadro (A Noite Estrelada  – Vincent van Gogh).

Ao tocarem na obra, de imediato tudo em torno se modificou como da mesma visão da pintura, foi como se estivessem de fato fazendo parte de cada pincelada do quadro. Realmente foi uma experiência muito real que acabaram de sentir, e perceberam que tudo não estava mais como antes, e sim, um ambiente hospitalar, mas na verdade era um hospício, ouvia-se gritos vindos de todas as partes. A porta antes dourada ficou branca e com uma placa escrita o nome dos dois, esses estavam em pânico, tentaram achar o andar da festa, mas foi em vão estavam definitivamente presos aos sentidos da arte. Agora cada andar continha vários tipos de pacientes, ao chegarem no térreo, um paciente estava vestido de punk e começou a cantar uma música (Ramones – Sheena Is a Punk Rocker) olhou para ambos e murmurando em tom sagas:

– Eu sei o que procuram, e também como achar a saída, mas como sou uma pessoa normal, não posso dizer (risos) mas, mesmo assim irei ajudá-los, fui com a cara de vocês, formam um belo casal, eu também tinha uma namorada, e sabe o que aconteceu? Não, não! Ela enlouqueceu!(risos). Nem me apresentei, meu nome é Fred. Pelo que sei, para vocês saírem daqui, terão de achar uma arte (As estrelas – Vincent van Gogh) ela é o portal que restabelece a “ordem real das coisas” ao menos aqui, se bem aqui nada é normal ou real, afinal o que é normal? (risos). Agora, não sei se vão acreditar numa pessoa normal como eu, não é mesmo (risos). De qualquer forma, boa sorte!

Em meio a tantos pacientes, Fred saiu saltitando e logo sumiu, e agora, Cindy e Jonh começam a pensar de que forma irão achar essa tal obra de arte. E de repente, descendo degrau, por degrau uma mulher cantando (Madonna – Like A Prayer) e atrás dela uns dez pacientes fazendo coreografia, era um show a parte. Parou em frente ao casal se apresentando:

– Prazer, meu nome é Diva! Faço shows aqui desde sempre e nunca vi vocês em nenhuma de minhas apresentações, por caso estão perdidos? Qual o nome desse gatão aí? Tô brincando, não pego o que não é meu, não sou louca de fazer isso, não é mesmo? (risos). Ambos se apresentaram e perguntaram pela tal arte. Diva, coçou os cabelos, fez uma careta e respondeu:

– Não tenho certeza de nada, mas acho que vi essa arte no décimo andar, quase ninguém vai lá, apenas eu com a minha turnê. Posso leva-los, mas com uma condição, esse bonitão terá de me dar um beijo, sou louca, mas não boba!(risos). Jonh ficou sem graça e Cindy não querendo ceder apenas fala:

– Não tem jeito, se quisermos sair daqui, o beijo será a chave, e também não vai arrancar pedaço. Em seguida o beijo aconteceu e Diva ficou toda felicidade, conduziu o casal ao local indicado, e curiosamente, cada andar tinha algum tipo de comemoração com variadas músicas e ritmos, tudo era uma curtição pra valer diferente de quando desceram, tudo naquele espaço mudava constantemente. Chegando ao local, a porta tinha cor vermelha e ao abrir, um tapete roxo se estendeu pelo chão, Diva se despediu dizendo: não sou louca pra entrar aí! Apenas os dois seguiram e a cada passo, luzes eram refletidas nas paredes mostrando as artes, dificultando a procura.

Por uns instantes, Cindy e Jonh fixaram o olhar apenas em uma direção, e então conseguiram visualizar a arte procurada (As estrelas – Vincent van Gogh) e quando tocaram nela, foram de imediato para o terraço do prédio e a noite que era cinza e de lua cheia, agora estava com show de estrelas brilhantes e tão próximas que até mesmo podiam ser tocadas. Jonh abraçou Cindy e ficaram deslumbrados com a paisagem que não acreditavam estar presenciando. Saíram do clima quando um guarda gritou:

 – Vocês dois aí, não podem visitar esse espaço nesse horário, me acompanhem até a saída. Ao descerem perceberam novamente que estavam em outro ambiente, esse nada a ver com o prédio da festa, as cores, decorações tudo estava diferente e as pessoas sorriam a todo tempo sem parar criando um clima estranho. Cindy, visualizou novamente a mesma Pop Art que estava próxima a saída de emergência dizendo a Jonh:

– Já sei como sair desse “mar de sorrisos estranhos”, vem comigo! Desviando e tentando manter o foco em meio as gargalhadas conseguiram chegar até a arte e quando tocaram juntos de imediato voltaram a pista de dança da festa nesse momento tocava a música (Huey Lewis & The News – The Power Of Love). Deby e Edy) e ouviram as vozes de Deby e Edy:

– Voltaram na hora certa! Cindy, é hora dos parabéns, minha amiga! Muita comemoração e alegria, Jonh ganhou o primeiro pedaço de bolo em seguida um beijo ardente que tirou aplausos acalorados dos convidados. Após os parabéns quase todos foram embora, os dois ainda foram curtir a última na pista, era uma “música lentinha” (Patrick Swayze – She’s Like The Wind) e o clima romântico estava no ar novamente, já com ares de despedida. O Dj lamentou, mas teve de encerrar a festa, luzes acesas e o casal desceu rumo a saída do prédio, já era início da manhã, e assim que pisaram na calçada deram sinal para um taxi e já sabiam pelo som alto (Inxs – New Sensation) que era o carro de Vitor que estacionou e saiu do carro dizendo:

– E aí, como foi a noite de vocês? Muitas histórias pra contar? Quero saber de todos os detalhes, os três entraram no carro sorrindo, Jonh respondeu:

– Se eu te contar você nem vai acreditar, “toca marcha” que te falo no caminho. Tudo foi resumido no trajeto e Vitor ia curtido cada detalhe. Chegaram no endereço, e Vitor se despediu dizendo, feliz que tenham curtido tudo intensamente, as artes tem lá os seus mistérios e vocês fizeram valer a aventura, até a próxima corrida!

E agora estavam seguros no apartamento de Cindy, ambos foram recepcionados pelos miados Dorothy, perceberam que Deby não estava em casa, e então resolveram estender a manhã, se trancaram no quarto e deixaram todas as imaginações acontecerem ardentemente até que uma voz aos poucos ia ganhando força:

– Jonh, Jonh, Jonh, vamos fechar o café, já está na hora! Jonh estava hipnotizado olhando o quadro (O Grito – de Edvard Munch) na galeria do Café Retrô, saiu do transe gaguejando:

– Você, você, viu a mulher que estava ao meu lado? O gerente olhando espantado informa:

– Ela já foi embora já algum tempo, você mesmo anotou o contato dela no seu livro, porque não liga pra ela? Quem sabe tenha uma noite cheia de histórias pra contar. Jonh saiu correndo para a seu apartamento, e quando chegou, novamente passou o lápis sobre o decalque dos números e entrou em contato com Cindy, que atende ao terceiro toque ouvindo a voz desesperada de Jonh:

– Alô, quero falar com a Cindy? Segundos de silêncio e vem a resposta:

– Jonh, sou eu! Estava preocupada, você chegou bem na sua casa? Gostou da festa? Jonh, soltou o telefone e se jogou no chão com olhar fixo para o teto, e já não sabia mais de nada, e ao fundo a voz:

– Alô, alô, Jonh, Jonh, está aí, fala comigo, Jonh!

Lista da trilha sonora:

Depeche Mode – Strange Love

Philip Bailey, Phil Collins – Easy Lover
The Police – Message In A Bottle
The Cure – In Between Days
Echo & The Bunnymen – The Killing Moon
Billy Idol – Dancing With Myself
Tears For Fears – Shoult
The Smiths – Bigmouth Strikes Again
The Outfield – Your Love
The Cure – The Lovecats
The B-52’s – Legal Tender
INXS – Mystify
New Order – Bizarre Love Triangle
Duran – Save a Prayer
Ramones – Sheena Is a Punk Rocker
Madonna – Like A Prayer
Patrick Swayze – She’s Like The Wind
INXS – New Sensation

Ducacroce.
Criador e editor,
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Enigmas, histórias e romance

Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro

“Será que tudo aquilo foi real? Apenas um sonho? Quem sabe, tudo irá se repetir no próximo rolê? Mas, pode ser que, ainda nem aconteceu. Enfim, ficarei atento aos detalhes. Após uns instantes, levantou para tomar água, seu celular vibrou e uma solicitação de amizade chegou: Efigênia”. E foi assim que, Ludus despertou, reflexivo sobre tudo que tinha vivenciado na noite anterior, afinal tudo estava ainda pulsante em seus pensamentos e essa solicitação era fundamental para desvendar esse mistério, e assim, aceitou o convite.

Para arejar um pouco as ideias resolveu fazer uma caminhada pelo bairro e para a sua surpresa recebeu uma ligação de seu amigo, Amado.

Fala aí, véio! Já tá recuperado das alucinações? Ludus rindo comenta: que milagre você me ligar, bateu a cabeça?

– Quase isso! Na verdade, um pedaço de tronco de uma árvore caiu na minha cabeça, estou em observação no pronto socorro.

Meu amigo! Desejo, plena recuperação, e nada de ficar com gracinhas com as enfermeiras, te conheço bem. Sobre as alucinações, foram bem reais e estou muito próximo de descobrir o que de fato aconteceu.

Amado, responde rindo: véio, vai se meter em confusão de novo, e dessa vez não estarei por perto, mas fique esperto nesse lance, nem eu sei mais o que tá rolando. Indo aqui, uma enfermeira tá me chamando, depois falamos mais, um abraço. Nem deu tempo de se despedir, e ao retornar da caminhada, ligou o celular e foi beber água, nesse momento várias mensagens saltavam pelo aplicativo, todas vindas da nova amizade.

Antes de iniciar uma conversa, Ludus resolveu explorar melhor o perfil. Observou muitas fotos antigas do centro histórico de São Paulo, na verdade tudo era uma viagem retrô, e o mais estranho era não ter foto alguma do contato, apenas uma pequena silhueta em uma manifestação na Praça da Sé. Pela descrição, Efigênia era uma historiadora, a foto de seu perfil, era uma paisagem da antiga Estação da Luz. O mistério apenas crescia, assim como os longos papos que iam acontecendo pelo aplicativo, esses se tornaram constantes pelas madrugadas e tão breve resolveram marcar um encontro. E assim, passando alguns dias, o tão esperado momento chegou. Era uma tarde de sábado ensolarada muito agradável, Ludus estava ansioso, mas muito atento a tudo, saiu bem antes para não atrasar, pois não queria deixar passar nada em branco. O local escolhido foi a Galeria do Rock, o mais interessante é que, Ludus não sabia quem era essa Efigênia.

Como fazia tempo que não andava de metrô, optou por esse meio mais veloz. Logo observou uma movimentação muito grande mesmo sendo final de semana. O metrô parou na plataforma e um princípio de tumulto, pela correria que acontecia todos achavam ser algo grave, mas era apenas um garotinho vestido de “estátua da liberdade” sendo escoltado por 8 agentes de segurança do metrô, alguns passageiros tentaram intervir e o clima ficou tenso, mas logo normalizou. Ludus em pensamentos invisíveis:

– Qual mal uma criança vendendo doces pode fazer? Será que realmente precisa desse exagero para contê-lo? O ideal era que esse garoto estivesse brincando ou estudando, mas certamente ajuda no sustento de sua família vendendo doces, é uma realidade que para muitos é inexsitente,chega a ser invisível.

O embarque foi feito, e após duas estações, um bate-boca: eu tenho direito de sentar nesse assento, você tem de sair daí agora mesmo, seu vagal! O jovem que estava sentado no banco reservado responde: Se o sr. falar direito comigo, eu saio sem problemas. E o senhor batendo sua bengala no chão avisa: é melhor você sair, seu marginal! O tempo fechou no vagão, pois o jovem estava indo a um jogo de futebol, e seus amigos uniformizados acalmaram o dono da bengala e seu assento foi liberado sem mais confusões. E os pensamentos invisíveis:

Se o assento é reservado para determinado passageiro, por que fazer o uso? Deixe livre, assim evita problema, hoje em dia por nada as pessoas perdem a cabeça, mas acho que aquele sr. também podia abordar o rapaz de uma forma mais cordial, não é mesmo?

A viagem seguiu, e uma estação antes do desembarque, o metrô parou e um corre-corre na plataforma. Uma mulher acionou a parada de emergência, pois foi assediada por um homem, esse quase foi linchado pelos passageiros a sorte que os agentes agiram com eficiência. E novamente pensamentos invisíveis de Ludus:

– Que ótimo, essa vitima não se calou, e o espertalhão foi atuado. Agora resta saber quanto tempo ele ficará fora de circulação. Mesmo que a mulher não fique em silêncio, as leis ainda protegem de alguma forma o infrator nesse tipo de crime, é preciso mais rigor e não fazer a vitima se achar culpada, afinal a culpa recai sempre na mulher, não é mesmo?

Ao desembarcar e sair da estação, Ludus deu uma respirada profunda, pois sentiu que, em poucas estações as violências não dão sinal para parar, seguem sem destinos. Chegando no ponto de encontro enviou mensagem avisando que já estava no local combinado, resolveu andar pelos andares da galeria, entrou em uma loja de discos do terceiro andar, observou ao seu lado oposto uma mulher com estilo retrô, e percebeu um olhar que o filmou dos pés à cabeça, ele sentiu algo peculiar daquele olhar, mas continuou catalogando os clássicos do Rock anos 80. Em um piscar de olhos sentiu uma presença leve ao seu lado, e antes de qualquer ação veio a voz: Pensou que eu não viria? Ludus, sentiu um arrepio e ao virar, manteve o olhar fixo ao da mulher misteriosa lhe dizendo: pelo contrário, tinha certeza de que viria. E assim, se conheceram pessoalmente sem cerimonias, saíram da loja e encostaram na sacada, deram as mãos e de imediato um beijo pra quebrar o gelo com direito aos raios de sol nos rostos, e ao som do vinil vindo da loja: “by my side” da banda – INXS”.

Andaram pela galeria e em cada andar, Efigênia parecia conhecer os espaços sempre contando algum episódio curioso. Saíram da galeria e andando pelas ruas do centro, Ludus notava sempre a sensação de que tudo em torno fazia parte literalmente dela, era visível em seu olhar e reações, isso fazia uma ligação com as fotos dos álbuns. Curioso, Ludus comentou quando próximos ao viaduto do chá:

– Parece que, você tem uma conexão muito grande com o centro, é nítido em suas reações, fale um pouco sobre. Efigênia se aproximou de Ludus lhe dando as mãos e dizendo:

– Sim, minhas raízes pertencem a essa cidade a qual tenho muito amor, e todas as vezes que a visito revivo tudo como se fosse a primeira vez, isso me deixa viva, entende? O clima, a pressa, o movimento, o jeito de cada pessoa, tudo me remete a um tempo que não volta mais. Ludus, sentia-se ainda mais intrigado, e após a resposta prosseguiu: Muito tempo que você não visita a área central?

– Nem sempre que quero posso, mas em ocasiões especiais como a de hoje, eu vim, queria muito conhecer você pessoalmente e está sendo muito bom, em seguida um abraço e um beijo para selar o momento enquete.

Já pela metade da tarde, caminharam até o Lago São Francisco, estava tendo um ato sobre “a carta pela democracia” havia uma movimentação muito grande, era nítida a vibração de Efigênia ao se aproximar do espaço entoando gritos e palmas. Ludus observava tudo, mas o quebra cabeça ainda estava bem incompleto, mas logo teria uma clareza maior nas respostas que tanto procurava.

Ao saírem do ato, Efigênia pediu a Ludus que caminhassem até a Praça da Sé, chegando próximo ao marco zero pararam, e ela o indagou: Você já esteve aqui com seu pai em um ato das Diretas Já?

– Ludus, não escondeu tamanha surpresa e adivinhação e respondeu: Sim, estive, como você sabe? Efigênia com sorriso espontâneo e um ar de mistério responde:

– Fique calmo, sei de muitas coisas, mas nem tudo posso falar, assim como da última vez não deu tempo, mas voltei porque senti confiança em você. Sei que procura algumas respostas, e você as terá, mas que possamos fazer valer esse nosso reencontro, pois não sei quando o verei novamente. Ludus ouviu atentamente, deu um abraço em Efigênia e em seu ouvido, disse: vamos escrever mais um capítulo dessa história, faremos valer o hoje em cada segundo, na sequencia um beijo ardente que iluminava a noite já presente.

E dessa vez não teve agitação e sim, espaço nunca visto por Ludus na região do centro, muito aconchegante com uma decoração retrô. Assim que se acomodaram, observavam uma vista maravilhosa de toda a cidade as luzes davam um toque especial. Não tiveram mais tempo para conversar, e sim, para despir todo o desejo que exalavam pelos poros. Os beijos saíam faíscas, os corpos se encaixavam perfeitamente, e tudo era orquestrado sensorialmente. Ludus se perdia na fragrância, charme e curvas de Efigênia, ela o encarava, e não cansava de desejá-lo mais, sem parar, e assim a madruga acompanhou uma história de amor real e ardente. Ludus despertou com Efigênia cantando no chuveiro a música de Lenny Kravitz – Again.

Ele foi ao seu encontro, a manhã também começou musicalmente banhada e muito ardente, após ficaram deitados na cama observando a paisagem e o sol se impondo na manhã de domingo, era nítido que não queriam o término do final de semana, afinal a felicidade está totalmente no momento vivenciado e proporcionado de forma única, mas estavam conscientes de que ambos estariam conectados de alguma forma.

Ludus pegou uma leve soneca, e quando despertou já não tinha mais a presença de Efigênia, misteriosamente ela foi embora. Ele antevia essa ação, só não sabia qual o momento exato. Em seguida deixou o quarto e ao passar pela recepção um funcionário veio em sua direção perguntando: Por favor, você é o Ludus? Sim, sou eu mesmo. Uma moça misteriosa deixou comigo esse pacote e pediu para lhe entregar. Ludus agradeceu, e todo cheio de curiosidade rasgou rapidamente a embalagem, era uma agenda de capa vermelha bem encorpada e pesada. Na capa um recado: “prometi te falar tudo, e em cada página dessa agenda você saberá quem sou, e quem sabe um dia nos veremos para debatermos cada capítulo, será um imenso prazer, na assinatura um beijo ainda fresco de batom”. Ao atravessar a rua, o local simplesmente deu virou uma sorveteria, Ludus rindo comenta com ele mesmo: por essa já esperava.  

A agenda só foi aberta quando Ludus chegou em sua casa, ao acessar o aplicativo viu que o perfil de Efigênia tinha sumido, restava agora, apenas as revelações escritas e registros históricos anexados em cada página. Algumas dessas fotos estavam no perfil dela, Ludus ficou vários dias lendo em detalhes todas as histórias contidas, essas vinham do início do século XX até os dias atuais. Com tantas informações foi criada uma time line e algumas coisas ainda não se encaixavam. Apenas uma pista podia ser seguida, Efigênia em uma de suas visitas foi presa, torturada e morta no antigo DOPS na época da ditadura militar (1964-1985). Ela conta em detalhes tudo o que aconteceu naqueles dias intermináveis, e também dos tratamentos cruéis como choque elétrico, espancamento, afogamento, cadeira do dragão, ingestão de insetos, etc. As folhas que relatavam esse período continha um tom mais escuro, Ludus percebeu atrás de uma única foto que Efigênia aparece uma descrição, era o número da cela a qual ela ficou presa e torturada.

Agora com o quebra cabeça quase montado, Ludus decidiu ir até o antigo prédio do Dops hoje conhecido como (Memorial da Resistência de São Paulo é um museu que preserva as memórias da resistência e da repressão políticas do estado de São Paulo). Seguindo a descrição da agenda, o objetivo era encontrar a cela a qual Efigênia ficou presa, já quase desistindo resolveu percorrer por um corredor não muito movimentado, sentia um clima mais frio, e mais abaixo observou umas celas mais isoladas, e ao observar a numeração ficou em choque, pois era o local que tanto procurava. Analisou cada centímetro da cela, e percebeu uma diferença no reboco da parede ao tocar sentiu que estava oco, com um chaveiro foi raspando e perfurando a camada de cimento já vencida pelo tempo.  

Com as pontas dos dedos conseguiu puxar um saquinho plástico e dentro dele uma folha de caderno com a seguinte mensagem:

“Se você está lendo essa mensagem, é porque você mereceu minha confiança, conseguiu saber mais de minha história, essa que vai muito além dessa maldita cela. É certo de que você teve acesso a minha agenda, sem ela seria impossível, e essa sim, conta realmente quem sou. Na verdade, não tente saber ao fundo, pois nem eu mesma sei. Apenas me tenha em seus pensamentos como alguém que realmente sentiu-se segura em sua companhia. A nossa história ainda não terminou, e quem sabe um dia tenhamos uma tarde de ideias e uma outra noite ardente de amor. Agora você faz parte de minha história, e os primeiros capítulos já foram bem escritos, e a assinatura, o mesmo batom e ainda com certo frescor.

Ao terminar de ler, as luzes começaram a apagar e acender, a porta da cela bateu várias vezes, tudo se normalizou em alguns minutos, Ludus saiu do prédio atônito com o coração fora do compasso e pensando:

“Consegui enfim, fechar a time line, essa foi a maior experiência que tive na minha vida em todos os sentidos, foi como viajar em períodos históricos cheios de detalhes e o melhor de tudo, com um romance que ultrapassa a linha do tempo”.

Após alguns dias, no bar do Pereira, Ludus encontrou seu amigo, Amado: E aí, véio! Hoje quero saber os detalhes dessa sua brisa histórica. E ao longo de várias rodadas de cerveja, toda a história foi contada. Amado ficou fissurado nos acontecimentos e quando viu a agenda ficou pálido gaguejando, caramba! Você realmente conseguiu desvendar esse mistério. Ludus, após um breve gole, responde:

– Esse mistério não tem como solucionar, Efigênia pode estar em qualquer lugar e no tempo que ela quiser, quero apenas deixar tudo como deve ser, é sentido que em breve nos veremos, não sei como, mas vai acontecer.

Amado, ainda espantado pediu mais uma cerveja e foi atender uma ligação, e nesse instante, três garotas entram no bar, e uma delas com olhar fixo e profundo na agenda vai em direção a Ludus, toca em sua mão, senta a sua frente e começa a cantar a música daquela manhã: all my life, where have you been, i wonder if I’ll ever see you again.

Observação: É recomendável a leitura dos posts abaixo:

Um dia de realidades e amor

Rolês ideias e mistérios

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Um dia de realidades e amor

“Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente”

Era uma manhã de primavera, e antes mesmo do café, Amado despertou dançante cantando em alto e bom som: “Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”, seu amigo felino Tim (abandonado em uma esquina dentro de uma caixa de papelão foi adotado por Amado, foi miado à primeira vista, hoje grandes amigos) olhava pensando: o que esse humano tem hoje? geralmente, não é assim. ­Amado, aos goles de um bom café forte e quente via vários filmes passar pelos desenhos dos azulejos, os quais refletiam muitas de suas histórias pela cidade de São Paulo. Em cada bairro, vila, quebrada e becos, um pouco de sua presença estava registrada. O aroma do café trazia a ele as variadas sensações das manhãs amorosas e das noites infinitas. Amado é um amante boêmio, a noite nunca acaba para ele.  Após tomar o seu café, dirigiu-se a garagem, e assim que desligou o alarme deu bom dia a sua amiga, Matilda (o seu carro) e tão breve um comentário:

– Tá animado hoje, pelo jeito a noite foi boa, em seguida vem a resposta sorridente:

  – Cada noite tem seus mistérios, eu apenas tento desvendá-los, porém, acabo fazendo parte dele. Matilda, devolve: Vejo que algum mistério te fez bem, esse seu andar saltitante não nega.

  – Tá bom, já falou muito, mania de querer saber de tudo da minha vida.

Após, ligou o rádio e coincidentemente tocava a mesma música que ele cantava ao despertar (september) colocou o cinto, ajustou os óculos escuros dizendo:

  – Esse mês será maravilhoso, preciso trocar umas ideias com um velho amigo Ludus se bem que, ele não é tão velho assim, ao menos é o que ele acha não ser. Matilda novamente:

  – Não querendo dizer, mas ele tá bem, ainda dá um caldo, saudades dele.

Colocou o celular no viva voz, e após o terceiro toque:

  – Fala meu Amado! A resposta de imediato:

  – Que seu o que, se liga, seu véio! E aí, tá por onde? Cadê os rolês? não te encontrei mais em nenhum. Ludus rindo responde:

  – Tá com uma voz boa, pelo jeito alguém invadiu seu coração.

De imediato, Matilda entra no diálogo:

  – Tá vendo, até seu amigo já percebeu, conta logo. Amado retruca olhando o retrovisor e responde:

  – Pronto! A minha vida agora virou um programa de fofoca matinal, é isso?

Gargalhadas na ligação:

– Logo pela manhã você todo animado assim, alguma coisa diferente realmente aconteceu, mas fique tranquilo, vamos marcar um “rolê de ideias” já faz um tempo que não nos vemos. Amado atento ao semáforo e no que acontecia aos redores concorda com seu amigo e comenta:   

– Cara, tá cada dia pior esses lados do centro, muita gente nas ruas, vejo miséria para todo lado e muitos acham que tá tudo bem, enquanto não tivermos ações sociais nada mudará.

 – Povo tem memória curta, infelizmente. Anos atrás a realidade era mais palpável, acesso ao básico ao menos, e hoje, isso é uma utopia bem distante, tempos sombrios de muitas injustiças e miséria. Se manifestou Ludus. Matilda na dela comenta:

 -Podiam se candidatar, votaria em vocês facilmente.

Os três riram em sincronia, Ludus completou:

 – Quem sabe? Amado já finalizando o papo:

 – Vou desligar, você fala muito, guarda para quando nos vermos, já próximo ao destino traçado despede-se de seu amigo. Antes Ludus manda a real:

 – Você continua um chatão classe A!

 – Disso ele tem razão! diz Matilda. Amado, curto e grosso:

 – Calem a boca, tchau!

Agora focado no destino principal, Amado pede a Matilda que sintonize alguma rádio para que fique por dentro das notícias do dia. E logo na primeira frequência captada veio a informação: A partir de amanhã, os combustíveis terão mais um reajuste. O clima mudou dentro do carro, e Matilda para tentar acalmar o condutor argumenta:

 – Ainda bem que, sou simpática e econômica.  – O que esse cara tá fazendo com nosso país? Imagina pra quanto irá um botijão de gás? tempos atrás custava R$35,00 e hoje, para mais de R$100,00 qual pai de família que aguenta  ganhando um salário mínimo de miséria? Cada dia um golpe no bolso do trabalhador, e para muitos tá tudo bem, pobre voltou a ser apenas uma estatística, revoltante. Respondeu Amado, com um sorriso nervoso.


Mais calmo, Amado chegou próximo a galeria de artes a qual foi convidado a participar de uma exposição sobre a cultura negra e sua influência ao longo da história. Assim que se aproximou de um estacionamento ouviu:

 – E aí, negão, vai deixar essa nave aqui?

Segurando o volante com firmeza e respirando fundo, Amado preferiu apenas pensar consigo:

Não vou perder a paciência! E assim, seguiu para um outro espaço a poucos metros de distância e observou pelo retrovisor um corre, corre. Eram policiais atrás de um ambulante, esse que foi derrubado ao lado de sua porta, levando golpes violentos por todo corpo, ele apenas estava vendendo água, mas de certa forma ofendia a autoridade dos impiedosos policiais.

Amado não se conteve, baixou o vidro e argumentou:

 -Pra que tanta violência? É um trabalhador! Vocês deviam proteger ele.

Clima ficou nebuloso, e o público se revoltou com a cena e se inflamou com as palavras ouvidas. Um dos polícias para “impor autoridade” sacou a arma e apontando a Amado disse rispidamente:

 – É melhor você ficar na sua.

 – Amado prosseguiu: Você não precisa apontar arma pra mim, o seu dever é de proteger, esse é o seu trabalho. E logo veio a resposta:

 – O meu trabalho é acabar com pessoas de sua classe, a mesma desse lixo do chão, você não merecem proteção alguma!

Após essa fala, foi como jogar mais gasolina na fogueira, e de imediato, os policiais foram engolidos pela multidão e um princípio de linchamento foi iniciado, a sorte é que vieram reforços jogando bombas de gás de efeito moral. Amado, subiu o vidro do carro, estacionou em uma esquina e por um tempo reflexivo: “O que esperar de uma polícia militarizada? Ganham uma miséria, são pobres como o vendedor de água e se acham acima da lei. Não possuem preparo algum para dialogar com ninguém, e o pior, tá cada vez mais forte essa onda racista, até quando? Hoje escapei por pouco, mas sei que muitos não terão essa mesma sorte, hoje foi no limite”.

Mais adiante, encontrou um estacionamento o qual achou mais seguro, e quando estava subindo as escadas da galeria de artes em direção ao elevador uma voz macia fez sinfonia aos seus ouvidos:

 – Por favor, segura! também vou subir.

Amado todo atencioso com olhar fixo, pergunta:

 – Qual andar?

 – No vigésimo farei uma palestra sobre a cultura negra.

 – Que coincidência, fui convidado será um prazer acompanhar.

E já de imediato ele pergunta:

 – Por gentileza, qual o seu nome?

Ela se apresenta fixando o olhar.

 – Prazer, me chamo Madalena, e você?

 – Ele já todo elétrico: Amando, quero dizer, Amado.

Ela sorriu dizendo:

 – Nome peculiar, gostei.

 – Era você que estava no meio daquela confusão na outra quadra? O que aconteceu? Perguntou ela curiosa. Amado resumiu a história, e ambos concordaram sobre a truculência e abusos da polícia militar nas abordagens diárias. Chegaram ao vigésimo andar, ele foi para a plateia desejando boa sorte, ela o agradeceu dizendo:

– Fique até o final, gosta de ipa?

 Amado:

– Claro que sim, minha preferida.

A resposta:

– Que ótimo!

Ao longo da palestra era visível o olhar de Madalena em direção a Amado, esse que sentia o clima em cada gesto vindo do palco. Ao término da palestra já com o auditório quase vazio, ele a esperava ansioso observando o andar dela em sua direção, seguiram para o elevador, ele todo elogio em relação a apresentação, quando no décimo segundo andar o elevador parou. Madalena ficou assustada, pois sofre de claustrofobia, Amado sentindo o clima a abraçou passando tranquilidade e pedindo para respirar lentamente, ela o atendeu mantendo-se calma, e por sorte o elevador voltou a funcionar após alguns minutos.

Momento de tensão, mas que renderam pontos positivos a Amado, pois Madalena sentiu-se segura na sua abordagem autêntica e carinhosa. Chegaram ao saguão e decidiram ir até a Rua Augusta foi uma decisão simultânea, ambos apreciam a região, local com variadas opções para todos os gostos.

Eles foram para o carro, Amado deu a partida, Matilda deu boa noite a Madalena e após comentou:

– Vejo que voltou diferente, também com uma companhia dessa.

– Nossa que loucura essa sua interação com seu carro! Disse Madalena as gargalhadas.

– Sou mais que um carro! Respondeu Matilda.

Amado segurando riso comenta:

– Fique à vontade Madalena, Matilda é amiga, só às vezes que começa a falar muito eu a desligo.

Duas quadras antes de chegarem ao local escolhido, pararam em um semáforo e um circense fazendo malabarismo com fogo parou de frente a Matilda. Madalena comenta:

 -Os artistas podiam ter mais espaços e oportunidades em nosso país, lamentável como essa classe também sofre com leis que diminuem cada vez mais as chances de mostrarem o seu talento

Amado, batendo os polegares no volante dá sequência a ideia:

 – Pra piorar, tem uma ala artística que apoia tudo que tá acontecendo, mas ganham muito dinheiro por fazerem esse papel ridículo, dando voz a quem nunca nada fez pela cultura. Madalena baixou o vidro e contribuiu com o artista, esse que agradeceu soltando piruetas.

Encontraram um estacionamento próximo ao bar escolhido, esse que estava com uma boa movimentação, preferiram ficar ao ar livre, pediram as ipas, entre brindes e ideias a noite foi se transformando e o clima era iminente de paixão, ambos se comunicavam de todas as formas. Como tudo conspira a favor do amor, um garoto passou vendendo rosas, parou próximo a mesa parafraseando um poema:

“Não há como explicar, nem descrever, há de acontecer agora, ou depois, nunca se sabe, mas, quando acontecer, não resista, não teime, não se afugente, não se desespere, não evite, apenas respire, deixe-se sentir e vibrar, é o amor que chegou para ficar”.

Logo veio a abordagem:

 – Boa noite, por favor, podem me ajudar? Estou tentando melhorar a renda mensal, não está fácil voltar ao mercado de trabalho. Vejo que formam um lindo casal.

Amado, só esperava por um fio para dar um passo à frente, e assim fez:

 – Sim, sim! Somos namorados!

Madalena ainda baqueada pelo verso, ficou sem ação ao ouvir e logo soltou um sorriso dizendo:

 – Ligeiro você, depois quero saber mais desse namoro. Lançando uma piscadinha com o olho esquerdo.

O garoto já sentindo que se deu bem na venda aproximou mais de Amado, esse que fala:

 – Você apareceu na hora certa, quero aquela ali, tá bem bonita.

Após levantou e entregou para Madalena, os outros casais próximos ficaram olhando invejados a cena.

Desejaram boas vendas ao garoto e também que conseguisse o emprego almejado, afinal cada dia tá maior a porcentagem de desempregados, só cresce, mas a mídia maquia dizendo que está tudo bem. Pediram a conta, e Madalena autêntica se impõe:

 – Meio a meio e sem discussão, por favor!

Dividiram a conta, e agora já não precisavam dizer mais nada, a noite prometia seguir na temperatura das trocas de olhares. E assim, embarcaram para um esconderijo onde todas as ideias foram despidas literalmente à vontade. Madalena sentia-se desejada, Amado todo atenção e disposição, a madrugada foi pouca para tanto amor que se reiniciava nas fagulhas dos olhares e quando dos corpos rentes, tudo era quente, ardente e prazeroso. Acordaram olhando para o teto, estavam entrelaçados como cordas, risos antes do bom dia e surgem “as vozes dos estomagos”: partiu, café?

Assim, seguiram famintos à mesa de café da manhã, parecia coisa de cinema e era nítido que, de alguma forma tudo iria ser bem além de uma noite de amor ardente. Aquela manhã, refletia exatamente toda a sincronia de uma paixão ocasional e tudo fluía harmoniosamente.

Amado deu uma carona para Madalena que residia na zona norte, ao longo do trajeto a música de fundo era de Tim Maia: “Primavera”.

Amado cantava sorridente, sinônimo de pura felicidade. Matilda não deixou passar em branco:

– Que clima é esse? Não precisam falar, fato do humor de Amado estar bom já me deixa feliz.  

Madalena só sorrisos responde:

– Ele foi bem cuidado.

Amado entra no papo:

 – Programa de fofoca logo cedo, já vejo que estão se dando bem, mas hoje pode!

Os três caíram em gargalhadas.

Chegaram ao destino traçado, antes de descer trocaram contatos, não teve foto, apenas beijos, abraços, trocas de gentilezas mútuas e no ar um clima de quero mais. Amado exalava alegria no retorno para sua casa, e por coincidência começou a tocar a música “September”

Amado aos pulmões solta a voz:

“Ah, ah, ah. Ba-dee-ya, say, do you remember? Ba-dee-ya, dancin’ in September”.

Chegando em sua casa, sentou-se em sua poltrona, ouviu o seu amigo felino Tim miar pedindo ração nova, antes ficou perdido em pensamentos de tudo que tinha vivenciado, isso o deixava em um contentamento único. Levantou-se, pegou a comida e serviu Tim que miava agradecendo. Ligou o celular, entrou no app de mensagens, abriu o contato de Madalena, um emoji de “coração” estourava a tela e um “muito obrigada”.

Agora conectados, aguardando apenas o próximo date. O seu despertar já revelava que tudo podia acontecer. Amado foi até a janela ainda não sabendo se era um sonho ou realidade, mas a certeza de que, a felicidade estava pulsante a cada movimento e pensamento, com isso, certeza de muitas outras histórias a serem vivenciadas, afinal ainda era início de setembro. 

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais.

O que vale é a experiência

“O fuê funciona como “terapia aos ingredientes” não importa se o ingrediente é branco, amarelo, preto, liquido, ralado, raspado, em gomo, amargo etc. Em cada movimento, a harmonia presente dos ingredientes chegam ao resultado ideal como desejado”.

A frase “não sou nada criativo” muito provável tenha caído em desuso por esse período de pandemia. A criatividade por esses tempos aflorou abrindo portas e caminhos e até mesmo uma aliada a não cair em um “abismo de pessimismo depressivo” ao longo do cotidiano. Aprender coisas novas nos faz sair do comum, abre se novos horizontes, possibilita sentir outros paladares, novos ares e inspirações. Quando começamos a fazer alguma receita observamos a “miscigenação na mistura dos ingredientes” há um complemento entre eles, um pouco a mais ou menos faz diferença e em alguns minutos todos estão misturados chegando ao ponto uniforme, o resultado final gera uma grande expectativa, e o que vale mesmo é a experiência de fazer, ousar e deixar a criatividade acontecer.

A começar pelo recipiente e a acomodação de todos os ingredientes, depende de cada receita, primeiro os sólidos e após os líquidos. Impressiona as variadas tonalidades de cores conforme a mistura e com todos juntos formam uma harmonia e logo estarão na mesma forma e temperatura. Antes de tudo, vale destacar uma ferramenta que auxilia e muito a esse resultado, o fuê. Esse certamente resolve muitos problemas de erros que são comuns incialmente, aqueles famosos gruminhos não resistem aos movimentos das hastes de aço, logo se dissolvem deixando a mistura no ponto ideal. O fuê funciona como “terapia aos ingredientes” não importa se o ingrediente é branco, amarelo, preto, liquido, ralado, raspado, em gomo, amargo etc. Em cada movimento, a harmonia presente dos ingredientes chegam ao resultado ideal como desejado.

Por essas inspirações e motivações resolvi “entrar na páscoa” confeitando ovos de colher, um desafio e tanto para um “coelho de primeira viagem”. Uma experiência muito prazerosa, aliás, fazer o que se gosta, sem estresses e pressões é a melhor forma de atuar, seja qual for o segmento profissional, e quando deixa de ser prazeroso é hora de rever, isso também se encaixa em outros temas. O dinamismo durante a produção  me manteve focado o tempo todo, depois de iniciado não tinha hora para parar, gosto de movimentação, improvisos e até mesmo estar atento a prováveis imprevistos, esses deixam a dinâmica ainda mais interessante, através desses é que passamos ver os pontos a melhorar, entretanto o melhor a fazer é levar como aprendizado e não se martirizar.

E por um desses imprevistos fui até a região da 25 de março “paisagem formigueiro” dava espaço a um deserto, lojas com meia porta aberta e atendimento por aplicativo. A loja mais indicada para o que procurava tinha um funcionário na entrada sentado com a porta da loja fechada, com voz rouca disse: espera aí um pouco, estamos atendendo, algumas pessoas passaram, me senti cometendo um crime inafiançável, ele bateu à porta como uma espécie de código, assim a porta abriu e pude entrar, a loja estava com atendimento controlado de clientes e total segurança a cada passo. Quando fui embora o que atraiu minha atenção foi lembrar de um post (clique no link e leia o post: Parabéns, São Paulo) de meses atrás sobre a Cidade de São Paulo, o centro precisa urgentemente de reformas, muito triste ver o abandono histórico em ruinas.

A produção foi bem desafiadora e prazerosa, desde derreter o chocolate, moldar as cascas, embalar no papel alumínio, etiquetar e armazenar corretamente e nesse passo a passo a organização prevalece, se não, com certeza algum cliente ficaria sem o seu pedido. O prazo tinha como objetivo e combinado com cada cliente, entregar um dia antes e assim aconteceu. A entrega é o momento alto de todo trabalho, pois é sentida a expectativa de cada cliente ao receber seu pedido, e esse efeito é transferido no ato. A cada ovo confeitado me colocava no lugar do cliente e pensava: é dessa forma que queria receber. Tão logo, querer saber da satisfação e experiência de cada cliente é o que valoriza e coroa todo um trabalho dedicado ao longo de dias. Na minha vida profissional sempre me dedico a fazer e entregar o melhor, seja o que for, o que não estiver ao alcance procuro me informar, lembro dos movimentos do fuê em cada superfície e temperaturas variadas, independente das circunstâncias o objetivo foi alcançado, a experiência foi válida e enriquecedora e mesmo com tanta produção de ovos de colher, não comi nenhum, que venha a próxima Páscoa.

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais.

Parabéns, São Paulo

Meu “busão chegou”! É hora de “zarpar”, vejo alguns “manos” com as “minas”, indo para algum “rolê”, e adiante vejo um grupo “dazamigas” fazendo make e rindo alto, próximo a uma galerinha “topzeira”, e alguém me pergunta: “ô meu, por favor, esse busão passa na Av. Paulista?”.

Antes conhecida como terra da garoa, hoje essa alcunha já não serve tanto, os climas andam bem diferentes da época de São Paulo romântica, a qual não vivenciei, embora sentido quando de visitas e passeios com os amigos(as) pelo centro. Por falar em São Paulo, não há como não voltar a infância, período em que ia muitas vezes com meus pais, mas principalmente com meu irmão mais velho, em lojas de vinil, sebos, loja de roupas e calçados. Período que os shoppings ainda eram vistos apenas em filmes, o centro era o local ideal para todas as ocasiões, e essas se tornavam inesquecíveis, assim como andar no ônibus de dois andares, para mim, uma experiência que carrego até hoje foi bem emocionante e marcante, confesso que tenho sorte de ter um irmão que compartilhou tais momentos. Assim como os climas, o centro também mudou muito, não perdeu o seu charme e glamour mesmo em meio aos abandonos de muitos prédios históricos, bate certa tristeza e revolta em ver os locais de preferência da infância mal conservados ou em ruinas. Região central que, antes sinônimo de modernidade contemporânea, perdeu espaço para outras áreas em torno ou próximas as marginais.

O acervo histórico permanece, para quem quer conhecer alguns desses pontos na estação São Bento, tem o tour a pé monitorado pelo centro histórico. Há o bus tour, gratuito no dia de aniversário da cidade, creio que esse ano devido a pandemia seja cancelado, inevitável não falar nesse tema. Ao mesmo tempo alguns acertos, mas os equívocos são gritantes em relação, boa parte da população perdeu o emprego ou está em condições desesperadora. Talvez, se as normas fossem mais rígidas inicialmente os efeitos seriam outros, mas tem todo um lobby político, até mesmo já debatido em um outro post: acesse o link: Debate de deias.

Entre muitos locais da cidade de São Paulo, a Praça da Sé é emblemática, nela está localizada a catedral da Sé, logo a sua frente o marco zero da cidade, andando alguns minutos chega se ao Pátio do Colégio, onde a fundação da cidade foi feita em 1554, uma elevação dos rios: Tamanduateí e Anhangabaú, hoje submersos, mas quando em períodos de chuva mostram que estão muito vivos. Quando criança meu pai me levou em uma das manifestações das Diretas Já! (movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, direito a voto do povo) mais precisamente, na Praça da Sé, um dos maiores palcos desse movimento. Certamente, isso faz sentido até hoje nos meus pensamentos políticos, sim, meu pai também sabia compartilhar de tais momentos marcantes e históricos, mas também lembro dos passeios de metrô, ônibus elétrico e é claro os lanches.

São Paulo é cosmopolita, conta com um acervo muito grande na arte, lazer, cultura, gastronomia, etc. Sempre há um espaço ideal a conhecer, às vezes até passa despercebido. Embora, mesmo com seu crescimento, há também uma outra metrópole que cresce não mais de forma invisível, as favelas (comunidades como conhecidas hoje, acesse link: Favelas, um mundo real). Em meio algum bairro nobre, é possível observar o avanço cada vez maior, a moradia ainda é um sonho distante para muitos, e muito provável, por falta de planejamento das últimas administrações em relação a projetos de incentivo a moradias populares, afinal, todos merecem ter um lar digno, até porque, muitos desses trabalhadores cruzam diariamente várias regiões para ganhar o sustento familiar, e tenha certeza, é esse trabalhador quem representa a cidade de São Paulo e a faz crescer constantemente.

Da época do café aos dias atuais, São Paulo se mantém em avanço constante, mesmo em meio as desigualdades, essas até fazem parte de qualquer metrópole, ao tempo, parte-se da ideia de que, ainda possa ser mais igual e justa. Hoje, está mais vertical de que nunca, os bairros tradicionais ainda mantêm a paisagem das vilas da época. A prosa está boa, mas o meu “busão” chegou. É hora de “zarpar”, vejo alguns “manos” com as “minas”, “trocando marcha” para algum outro “rolê”, e adiante, vejo o grupo “dazamigas” fazendo make, rindo alto e fazendo registros, e bem próximo uma galerinha “topzeira” indecisa para qual lado ir. Quando de repente, alguém me pergunta: “ô meu, por favor, esse “busão” passa na Av. Paulista, próximo ao Masp? Observo através das lentes escuras e respondo, sim! Pode descer no próximo ponto, sairá em frente. Ele me agradeceu: “valeu mano” e em seguida: “Aí motô”, vou zarpar no próximo! Por alguns minutos, viajei em algumas lembranças e pensamentos sobre a Cidade de São Paulo, é sentida uma relação de ódio e amor, e ao mesmo tempo, tenho também uma enorme gratidão, por ser quem me tornei, pelas oportunidades e desafios. Viva São Paulo, parabéns pelos 468 anos e muitos outros que virão.

Ducacroce.
Criador e editor,
ideias e outras
coisas mais.